Conheço um homem
16/08/2004
- Opinión
O ser humano é sempre a convergência dos opostos. A ele
cabe casar o céu com a terra, o enternecimento com a
firmeza, a poesia com o trabalho. Quanto mais opostos
alguém consegue articular em sua personalidade, tanto
mais fecundo e humano se revela.
Conheço um homem que realizou vastamente esse propósito
inscrito em nossa humanidade. Por isso irradia e nos
inspira a sermos também mais humanos. É irmão e amigo
dos pobres e ao mesmo tempo circula sem constrangimento
entre chefes de Estado.
Nunca renunciou à idéia da revolução social mas a uniu
à revolução absoluta feita pela mística.
Comprometeu-se com a libertação concreta dos humilhados
e ofendidos e suportou, no espírito das bem-
aventuranças evangélicas, perseguições e prisões.
Possui apurada percepção política mas entende a
política como mediação do Reino, a utopia do Nazareno.
É de uma radicalidade cortante e ao mesmo tempo mostra-
se flexível e dialogante.
É disciplinado em tudo o que faz mas mantém
criatividade e leveza nos gestos e nas palavras.
Possui elevado senso prático mas sabe conjugá-lo com
uma visão espiritual das coisas.
É profundamente generoso mas cioso de seus direitos e
dos direitos dos pobres.
É um homem de pensamento mas vive mergulhado nos
movimentos sociais e populares.
É escritor exímio e de altos vôos mas nunca tira os pés
do chão a partir de onde sua cabeça pensa.
Sabe cozinhar como poucos, pois o aprendeu de sua mãe,
mas aprecia cada comida que lhe oferecem.
Fêz-se íntimo de Deus a ponto de ter ciúmes dele mas
isso não o impede de ter amor e compaixão pelas
pessoas.
É um simples e pobre frade dominicano habitando
pequeníssima cela mas seu convento é o vasto mundo.
Abraçou de corpo e alma o projeto Fome Zero mas entende
seu trabalho como forma de realizar evangelicamente a
multiplicação dos pães e dos peixes.
É um homem do evangelho que assumiu o cuidado de seu
irmão doente não como quem carrega uma cruz mas como
quem antecipa a ressurreição.
É o companheiro, o amigo e o irmão que Deus nos deu
para que a caminhada por esta vida não fosse só luta e
resistência mas também celebração de alegria e de
libertação.
No dia 25 de agosto completará 60 anos. Junto com
tantos e tantas jubilosamente o celebramos como
companheiro nas tribulações e co-herdeiro da esperança.
Conheço um homem seu nome é Carlos Alberto Libânio
Christo ou simplesmente Frei Betto.
Ele reuniu em si os opostos numa síntese tão feliz que
os defeitos que os tem, não nos molestam. Seu nome nos
suscita admiração e carinho. E está entre aqueles dos
quais a humanidade e o cristianismo podem sempre se
orgulhar.
* Leonardo Boff é teólogo.
https://www.alainet.org/pt/articulo/110377
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