Oito jeitos de mudar o mundo
18/07/2004
- Opinión
De 9 de agosto aniversário da morte de Betinho a 15, haverá,
no país, uma grande mobilização em torno da Semana Nacional
pela Cidadania e Solidariedade. A motivação é despertar gestos
de pessoas e instituições que façam multiplicar exemplos de
cidadania e solidariedade.
É o caso da indústria Tevah, no Rio Grande do Sul, que dedica um
dia de toda a sua produção de agasalhos à população de baixa
renda ou da escola Florestan Fernandes, do MST, em São Paulo,
que educa seus alunos conscientizando-os de sua responsabilidade
política e incutindo-lhes visão histórica.
Qualquer pessoa ou instituição movimento social, denominação
religiosa, ONG, escola, empresa, associação etc pode e deve
participar da Semana, recriando-a no local onde se insere. Basta
promover algo que reforce a cidadania e a solidariedade: mesas-
redondas; campanhas; palestras; mutirão que beneficie, sem
assistencialismo, a população de baixa renda.
A Semana estará centrada nas Metas do Milênio, aprovadas por 191
países da ONU, em 2000. Todos, inclusive o Brasil, se
comprometeram a cumprir os oito objetivos até 2015: 1) Acabar
com a fome e a miséria; 2) Educação básica de qualidade para
todos; 3) Igualdade entre sexos e valorização da mulher; 4)
Reduzir a mortalidade infantil; 5) Melhorar a saúde das
gestantes; 6) Combater a Aids, a malária e outras doenças; 7)
Qualidade de vida e respeito ao meio ambiente; 8) Todo mundo
trabalhando pelo desenvolvimento.
Não há quem não possa fazer um gesto na direção desses oito
objetivos: debater em sala de aula as causas da pobreza e os
entraves à melhor distribuição de renda; introduzir na escola
educação nutricional e o programa ŒJovem Voluntário, Escola
Solidária¹; promover painel sobre Chico Mendes, exposição sobre
os direitos dos povos indígenas ou ações de combate ao trabalho
e à prostituição infantis; participar do Fome Zero ou organizar
uma horta comunitária; lutar pela melhoria da educação, do
acesso a medicamentos seguros e baratos ou abrir um curso de
alfabetização de adultos; denunciar o preconceito contra
homossexuais e o uso da mulher no estímulo ao consumismo;
fortalecer a Pastoral da Criança e discutir a relação entre
explosão demográfica e crescimento econômico com desenvolvimento
social; conscientizar sobre os riscos da Aids, as causas da
malária e o aumento de doenças decorrentes do desequilíbrio
ecológico; atuar na implantação da reforma agrária, visitar e
apoiar acampamentos e assentamentos rurais e pesquisar o que é
desenvolvimento sustentável etc.
Há na esquerda quem torça o nariz para as Metas do Milênio. O
mesmo erro foi cometido quando os verdes, décadas atrás,
levantaram a bandeira da ecologia. Felizmente Chico Mendes nos
abriu os olhos, ensinando que a preservação do meio ambiente é
uma das poucas bandeiras que mobilizam adeptos em todas as
classes sociais.
A Semana Nacional pela Cidadania e Solidariedade não é uma
iniciativa do governo, embora conte com o seu apoio e
participação. É uma proposta da sociedade civil, visando
mobilizar a nação em torno de ações concretas que nos permitam
construir o "outro mundo possível". E priorizar, em pleno
neoliberalismo que assola o Planeta, valores antagônicos ao
individualismo e à competitividade, como o são a cidadania e a
solidariedade.
A pergunta central que a Semana pretende levantar é: o que
estamos fazendo para mudar o mundo? O que faz você, a sua
escola, a sua comunidade religiosa, o seu movimento social, a
sua empresa? Queixar-se é fácil e reclamar não é difícil. O
desafio, porém, é agir, organizar, conscientizar, transformar.
"Diários de motocicleta", filme de Walter Salles, mostra a cena
em que Ernesto Guevara decide, na noite de seu aniversário,
mergulhar no rio que o separava da comunidade de hansenianos.
Naquele momento, Che optou pela margem oposta a da cidadania e
da solidariedade. Não ficou na margem em que nascera e fora
criado, cercado de confortos e ilusões, nem se reteve "na
terceira margem do rio", aquela dos que se isolam em suas
convicções sectárias e jamais completam a travessia. É esta
opção que a Semana quer incentivar. Porque nós podemos mudar o
Brasil e o mundo. Basta passar das intenções às ações.
Mais informações: www.nospodemos.org.br/ e-mail:
semanacidadania@terra.com.br
* Frei Betto é escritor, autor de "Gosto de Uva" (Garamond),
entre outros livros.
https://www.alainet.org/pt/articulo/110250
Del mismo autor
- Homenaje a Paulo Freire en el centenario de su nacimiento 14/09/2021
- Homenagem a Paulo Freire em seu centenário de nascimento 08/09/2021
- FSM: de espaço aberto a espaço de acção 04/08/2020
- WSF: from an open space to a space for action 04/08/2020
- FSM : d'un espace ouvert à un espace d'action 04/08/2020
- FSM: de espacio abierto a espacio de acción 04/08/2020
- Ética em tempos de pandemia 27/07/2020
- Carta a amigos y amigas del exterior 20/07/2020
- Carta aos amigos e amigas do exterior 20/07/2020
- Direito à alimentação saudável 09/07/2020