O Bolero-lero-lero de Vicente Fox
05/07/2004
- Opinión
Ao visitar o Brasil, como embaixador. Com as três derrotas deste fim de semana de seu partido em eleições estaduais, foi colocada uma pá de cal definitiva no seu mandato presidencial que, de seis anos, foi reduzido para a metade, quando seu partido, o PAN, foi amplamente derrotado nas eleições parlamentares de julho do ano passado. Se já não tinha maioria parlamentar, o fracasso dos seus três primeiros anos de governo levaram a que crescessem tanto o PRI, quanto o PRD, em detrimento do PAN, decretando o fim definitivo da capacidade de manobra de Fox e abrindo ao mesmo tempo a campanha presidencial de 2006.
Fox foi ungido como o homem dos EUA na América Latina. Como ex-gerente geral da Coca Cola, amigo do texano Bush, Fox reunia as credenciais para contar para a América Latina as maravilhas do livre comércio, através da experiência do Nafta, o acordo de livre comércio da América do Norte. Além disso, Fox pretendeia usar sua amizade com o rancheiro da fronteira norte do México para melhorar a situação dos 14 milhões de mexicanos, a maioria ilegais, nos EUA.
A economia mexicana cresceu enquanto a norte-americana crescia, nos anos 90, mas quem cresceu foi a zona norte, com as indústrias de maquila, na fronteira dos EUA, usando mão de obra barata – em geral mulheres e crianças – a preço barato. Quando a economia dos EUA entrou em recessão, o México pagou duplamente essa dependência brutal – em que mais de 90% do seu comércio exterior passou a ser feito com os EUA: porque entrou em recessão e porque as próprias empresas norte-americanas encontraram na China um mercado com mão de obra ainda mais barata, apesar do custo do transporte.
O México retrocedeu mais do que havia crescido. Além disso, as medidas de controle fronteiriço dificultaram ainda mais a situação dos mexicanos nos EUA, ao invés de melhorar, conforme prometera Fox.
Seu governo se esgotou então rapidamente e a partir das eleições do ano passado se disputa o seu espólio: quem o sucederá, o PRI, de volta ao governo, com sua poderosa máquina partidária, ou o PRD, com o governador da capital, Lopez Obrador, favorito nas pesquisas, pelo bom governo que realiza?
Por essas razões, Fox vem fazer jogo de cena no Brasil e na realidade vem fazer propaganda da Alca, ao pregar uma zona de livre comércio de todo o continente. Seu governo já perdeu qualquer capacidade de iniciativa e, além disso, o México não tem margem de manobra para entrar realmente ao Mercosul, ao estar plenamente integrado ao Nafta e privilegiar assim os intercâmbios econômicos com os EUA e com o Canadá.
Fox vem então como caixeiro viajante de um governo fracassado e de um projeto – a Alca – em grandes dificuldades. Vem fazer jogo de cena, fingindo que o México tem autonomia diante dos EUA e pretende retomar a autonomia relativa de sua política externa, enterrada por seu antecessor, Zedillo e por ele mesmo. A viagem se esgotará quando os acordes dos boleros terminarem e a orquestra voltar para o seu lugar. Fox voltará sua atenção para o que efetivamente o preocupa – a candidatura de sua mulher à sua sucessão -, nota final de um melodrama que o México não merecia.
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