Clark e o efeito Bush

06/10/2003
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No cenário atual, ainda que prematuro, o general Weslel Clark parece consolidar-se como o favorito para enfrentar, pelos democratas, a reeleição (ou eleição, se considerarmos que não exatamente escolhido pela maioria nas eleições de 2000) de Bush. O que isto significa? Cada vez que o quadro político é deslocado bruscamente para a extrema direita, refletindo um desejo dos eleitores, o partido opositor anota o recado e busca adaptar-se a essa virada. Quando Reagan derrotou a Carter em 1980, os democratas só conseguiram voltar à presidência, três mandatos depois, com Clinton, um candidato que incorporava as políticas neoliberais de Reagan e Bush, dando continuidade ao desmonte do Estado rooseveltiano iniciado por seus antecessores. Foi o efeito Reagan sobre os democratas. Da mesma forma, quando Netanyahu derrotou os trabalhistas e impôs uma nova linha dura na política do Estado israelense com os palestinos, os trabalhistas conseguiram derrota-lo com um candidato militar, já diferente dos quadros históricos do partido, para demonstrar que incorporavam a importância da questão militar no seu novo governo. Foi o efeito Netanyahu sobre os trabalhistas israelenses. Não seria diferente no Brasil, quando o sucesso de opinião pública das políticas de combate à inflação do governo FHC tiveram, como um de seus efeitos colaterais – neste caso, desejados – a incorporação dessa pauta pelo governo Lula, conforme a continuidade das políticas econômica e financeira até aqui vigentes o demonstram. É o efeito Malan sobre o governo Lula. No caso das eleições norte-americanas do ano próximo, a escolha de um militar, evitando um candidato demasiado progressista para o que os democratas consideram que seja a opinião média do eleitorado norte- americano – como é o caso do ex-governador Dean, até o lançamento de Clark o líder das pesquisas entre os democratas -, parece conquistar o partido opositor. Ficaria assim garantida, com um general que já foi comandante da OTAN inclusive numa das recentes guerras, a da Sérvia, a preocupação democrata com o tema da violência e da guerra, incorporado à cabeça dos norte-americanos. Seria o efeito Bush sobre os democratas.
https://www.alainet.org/pt/articulo/108508
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