A viagem de Lula
17/07/2003
- Opinión
A viagem de Lula à reunião da ex-Terceira Via em Londres
acelerou o processo de comparações do novo governo brasileiro
com o "novo trabalhismo" britânico, reforçado pelos discursos
dos mentores deste – entre eles o mais importante, Antony
Giddes – que tratam de provar que Lula segue as pegadas de
Blair. O que há de certo nessas comparações?
No conteúdo de suas políticas, guardadas as devidas
proporções das pautas de países situados no centro e na semi-
periferia do sistema, há um método comum: manutenção das
políticas econômico-financeiros e ênfase de que seja possível
estender políticas sociais e, ao mesmo tempo, colocar em
prática uma segunda geração de reformas – que inclui as
reformas da previdência e tributária. Situam-se no marco do
que foi formulado no seu momento no chamado "Consenso de
Buenos Aires" – a versão latino-americana da Terceira Via, de
que a direção do PT participou na elaboração até um certo
momento.
Por outro lado, ao renegar políticas históricas do Partido
Trabalhista e incorporar políticas do governo anterior –
neoliberal, do Partido Conservador -, o "novo trabalhismo"
avançou na direção do centro e da direita do espectro
político. Dessa forma, ocupou os espaços destas forças,
descolocando-as, apropriando-se de suas políticas e, assim, a
oposição ao "novo trabalhismo" se deu dentro do Partido
Trabalhista, pela esquerda do partido, que manteve-se
defendendo as políticas históricas do partido.
No caso brasileiro, há elementos comuns também neste
deslocamento no espaço político. A direita ficou sem
bandeiras, ficou oscilando em suas críticas entre a
incoerência e a conversão do governo de Lula a novas
políticas e críticas marginais – sobre os sem terra, sobre a
oposição ao governo norte-americano, etc.
As diferenças vem precisamente da política internacional,
além da relação que o governo Lula mantêm com os movimentos
sociais e dessa forma com o próprio passado e a trajetória de
Lula, fenômeno que nunca houver com Blair, que entrou desde o
começo diretamente em conflito com o movimento sindical. Na
política internacional – e, dentro dela, na relação com o
governo dos EUA -, as diferenças são significativas, da
subordinação do governo trabalhista à busca de soberania e
autonomia do governo Lula.
Porém, as diferenças não se sobrepõem aos aspectos comuns, o
que permite que uma parte da intelectualidade britânica e dos
jornalistas daquele país tenham reconhecido no governo Lula,
nos seus primeiros seis meses de governo, traços centrais da
atual "governança democrática" – cara atual da decadente
Terceira Via.
https://www.alainet.org/pt/articulo/107932
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