A mídia, o Governo Lula e as reformas que virão

25/05/2003
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Aparentemente a cobertura que a mídia tem dado a tudo que envolve o governo Lula é uma cobertura puramente jornalística. Mas só aparentemente. De uma hora para a outra parece que a relação mídia/esquerda no Brasil deu uma guinada em direção de um enfoque e tratamento mais técnico e distante das tradicionais pautas elaboradas sob o enfoque ideológico da classe dominante e dos grupos empresariais associados nacionais e estrangeiros que controlam o país. Da posse até o presente momento Lula, sua equipe, o PT e seus aliados têm aparecido sempre como "administradores da realidade e das responsabilidades de ser governo". Poucos órgãos de informação escrita, falada e televisiva têm feito criticas aos quase seis meses de Lula na Presidência da República. Muitos, inclusive, têm demonstrado apoio às reformas postas na pauta de discussão do Congresso Nacional pelo governo. Pode parecer que os nossos órgãos de comunicação mudaram desde a cobertura da primeira eleição direta (1989) quando se uniram contra a então Frente Brasil Popular formada pelo PT, PCdoB e PSB que dava sustentação à primeira candidatura de Lula à presidência da República. Se o relacionamento daquela época era pautado abertamente no enfrentamento ideológico e nas lutas de classes, hoje a mídia adotou um comportamento distinto em relação a esquerda agora no governo. E o fez não por medo de possíveis represálias, mas sim como uma estratégia elaborada ideologicamente para colaborar no desgaste do governo junto a sua base de sustentação. Temos vários exemplos que fortalecem essa argumentação. Durante os oito de mandato de FHC a mídia jamais deu o espaço que esta dando agora a extrema esquerda (incluídos os "radicais" do PT). Poucas vezes o PSTU aparecia nas redes de televisão (a não ser em seus horários obrigatórios do TER) onde o seu presidente nacional, o metalúrgico José Maria de Almeida, tecia duras criticas ao governo e ao FMI. Mesmo durante as eleições a mídia se recusou a chamar os candidatos do PSTU e da Causa Operária - PCO para participarem dos debates televisivos com os demais candidatos à presidência da República. O que obrigou o PSTU entrar com uma ação na Justiça exigindo esse mesmo direito, no que lhe foi negado. Agora a esquerda dita radical aparece quase todos os dias e em todos os jornais televisivos e impressos. Nunca as opiniões do PSTU em relação ao PT foram tão divulgadas pela imprensa (dita burguesa) em geral. Nunca as tendências de esquerda do PT foram tão expostas pela mídia nacional. E qual a razão dessa exposição toda? As criticas ferozes contra o governo Lula (que é basicamente de esquerda com exceção do PL e do PMN). A mídia decidiu que, ao invés de atacar Lula, é muito melhor para a sua imagem abrir espaços para que a própria esquerda faça o "serviço sujo". A intenção é simples: desgastar o governo junto aos 61,25% de eleitores que o elegeram presidente da República. Fazer com que a porcentagem de brasileiros (as) que apóiam o atual governo caia. Isto sem pressa e em doses suficientes para enfraquecer futuras ações governamentais. Ações que possam ir contra aos interesses da elite e dos seus associados estrangeiros. A mídia tem armazenado não só imagens, mas argumentos para futuramente utilizar para a desqualificação de Lula e das ações do seu governo. Quando as verdadeiras reformas que interessam ao povo brasileiro forem postas na mesa e enviadas ao Congresso Nacional, a abordagem da mídia mudará de tom e de tonalidade ideológica. No momento o trabalho esta sendo feito por setores da esquerda que agem movidos mais por uma razão programática do que por uma razão alicerçada na realidade das lutas de classes e da disputa ideológica entre progressistas e conservadores pela hegemonia no interior da sociedade brasileira. Futuramente, (se for necessário e será), as forças conservadoras se apoiarão no discurso atual feito pela esquerda radical contra Lula para confundir e tentar evitar que a população lhe dê sustentação para efetuar, por assim dizer, as tão urgentes "Reformas de Base". Não que devemos nos calar e aceitar a permanência da atual política de juros e a forma como a economia vem sendo dirigida. Só que as nossas criticas devem ser feitas através dos nossos próprios canais, ou seja, via internamente. Toda essa exposição critica partindo de setores do próprio partido do Presidente da República municiará os inimigos das mudanças. Sem deixar de mencionar que demonstra uma falta de coesão na base parlamentar e partidária do próprio governo. Não é a toa que a direita (parte do PSDB, do PFL e do PP) estão rumando para o campo do governo. A lógica que move suas ações é a de, aos poucos, mudar o caráter ideológico de apoio ao governo no Congresso Nacional e com isso transformar Lula em seu refém. E a direita jamais irá dar sustentação as medidas que porventura afetem os seus interesses de classe. O momento é de união em torno do governo. Devemos construir e solidificar uma base social que lhe dê respaldo para atender as demandas impostas por séculos de exclusão, de elitismo e de autoritarismo. Ou façamos isto desde já, todos unidos, ou não faremos isso jamais. O velho trem da história nunca parou para esperar por aqueles que se atrasam. E tenho certeza que não será esta a primeira vez.
https://www.alainet.org/pt/articulo/107602
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