Fórum Social Mundial 2003

13/01/2003
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Para quem acredita que o mundo, do jeito que está, pode e deve ser diferente, é bom saber que, pela terceira vez, Porto Alegre abrigará, de 23 a 28 de janeiro, o FSM (Fórum Social Mundial). São esperados cerca de 100 mil participantes, provenientes de 121 países, e a presença do presidente Lula. Na passagem do ano já estavam inscritos cerca de 30 mil delegados e 5 mil organizações. Os cinco eixos temáticos serão: 1) Desenvolvimento democrático e sustentável; 2) Princípios e valores, direitos humanos, diversidade e igualdade; 3) Mídia, cultura e contra-hegemonia; 4) Poder político, sociedade civil e democracia; 5) Ordem mundial democrática, combate à militarização e promoção da paz. O lema do FSM permanece "Um outro mundo é possível". É o que se busca, não apenas como proposta, mas também como resgate de experiências, lutas e vitórias (como a do PT no Brasil), que sinalizam uma alternativa ao neoliberalismo e ao atual modelo de globocolonização. Neste sentido, o FSM é uma crítica ao Fórum Econômico Social, que há 30 anos se reúne em Davos, Suíça, visando incensar a idolatria do mercado. Para cada um dos cinco eixos, divididos em seis subtemas, serão organizados painéis (mapa de ações do FSM e propostas estratégicas) e conferências (análises visando construir alternativas), em geral na parte da manhã. Na parte da tarde e à noite, haverá oficinas (laboratórios da sociedade organizada), seminários (diagnósticos para fortalecer estratégias), mesas de diálogo e contravérsia (confronto de visões e propostas), testemunhos (depoimentos de personalidades ou grupos), eventos culturais etc. Vários fóruns sociais precedem, mundo afora, o 3º FSM: em agosto de 2002 ocorreu, em Buenos Aires, o Fórum Social Temático Argentino e, em novembro, em Florença, o Fórum Social Europeu. Em dezembro, a Etiópia abrigou o Fórum Social Africano. Agora, no início deste mês, a Índia sediou o Fórum Social Asiático e, em Belém do Pará, de 16 a 19 de janeiro, estará reunido o II Fórum Social Temárico Panamazônico. Estão também previstos, para outubro, o Fórum Social Pan-Americano (possivelmente no Equador) e, novembro, na Espanha, o Fórum Social Mediterrâneo. Cria-se, pois, uma rede mundial de alternativas - sociais, econômicas, políticas, culturais e religiosas - que configuram o desenho de um novo modelo de civilização regido pela busca da paz como resultado da justiça social; pelo combate à desigualdade econômica sem detrimento da diversidade étnica e cultural; por uma nova atitude espiritual que vincule valores subjetivos à preservação do meio ambiente. E tudo isso ganha mais importância frente à política belicista do presidente Bush, que ignora o Protocolo de Kyoto, a agenda da FAO e a Corte de Haia como juíza de crimes de guerra. Mais do que um evento anual, o FSM é um processo mundial robustecido por inúmeras iniciativas que, efetivamente, descortinam novos horizontes, desde a economia solidária à ética nas relações de gênero. Uma nova cultura emerge desse processo, a ponto de organismo internacionais, como o Banco Mundial, começarem a rever seus paradigmas e abrir sua carteira de projetos para movimentos sociais empenhados no combate à exclusão e à opressão. A história da humanidade é a comprovação incessante de que sonhos podem virar realidade. No Brasil, onde a esperança venceu o medo, vivemos agora o momento privilegiado de ver tantos sonhos se tornarem realidades, sobretudo porque a eleição do presidente Lula representa uma mudança na gramática do poder, cuja escrita se reflete na articulação do pacto social e na prioridade ao combate à fome. Sem exagero, pode-se afirmar que esta vitória é também fruto do FSM, pois sem esta usina de idéias, experiências e propostas, talvez muitos nem acreditassem que um outro Brasil é possível. * Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Emir Sader, de "Contraversões ­ civilização ou barbárie na virada do século" (Boitempo), entre outros livros.
https://www.alainet.org/pt/articulo/106831
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