- 16 de Outubro, dia mundial do Direito a Alimentação -
Embora haja dia para tudo – para que o resto do ano seja para nada -, dia
16 de Outubro é o "dia do direito humano a alimentação". Essa questão está
relacionada com o novo núcleo dos direitos humanos em todo o planeta, isto
é, os direitos "econômicos, sociais e culturais". Esse núcleo dos direitos
é recente e veio para enriquecer os direitos "políticos e civis", clássicos
a partir de 48, quando foram declarados pela ONU. Os primeiros são muitas
vezes tidos como direitos dos burgueses, enquanto os novos viriam para
defender também os direitos dos pobres, afinal, no novo núcleo temos
direitos como "moradia, educação, alimentação, etc". Na verdade se
complementam. Como se afirma largamente "os direitos são universais e
indivisíveis". O direito a água de qualidade para beber, consta como um dos
direitos humanos fundamentais da pessoa humana. Esse ano, ao celebrar o dia
do direito humano a alimentação, a ONU coloca a água como o direito a ser
celebrado.
Há pouquíssimos anos atrás havia a promessa infinita da "revolução azul".
Diante de solos desgastados e da crescente população mundial, a produção de
alimentos iria se deslocar para a água, inclusive os oceanos. Johannesburgo
apenas confirmou o que já se sabia: as águas do planeta estão em processo
acelerado de degradação, 1,2 bilhões de pessoas não têm acesso à água
potável e 2,4 bilhões não têm saneamento básico. A cada ano morrem dois
milhões de crianças por causa de enfermidades relacionadas com a água. A
metade das camas hospitalares do mundo está ocupada por pacientes com
doenças relacionadas à água. Nos últimos dez anos, as enfermidades
diarréicas, que são o resultado da falta de serviços adequados de água e
saneamento, causaram a morte de um número maior de crianças que o total de
pessoas que foram mortas como conseqüência de conflitos armados depois da
Segunda Guerra Mundial (1). O documento da ONU ainda alerta que as maiores
vítimas das doenças relacionadas à água são os pobres. Cita ainda o
sofrimento das mulheres e crianças, em todo o planeta aqueles que abastecem
as residências em longas jornadas atrás de água.
O Brasil tem 12% da água doce do planeta(2). O Problema do Brasil,
decididamente, não é de escassez, mas de gerenciamento. Entretanto, dados
da ABRA lançados no ano passado, afirmam que 90% da população rural
brasileira não têm água encanada. Não ter água encanada não significa não
ter água potável. O importante é que a água disponível para a população
seja potável. Essa é a perspectiva da construção de 1 milhão de cisternas
no semi-árido, onde está a maior parte da população brasileira sem água
potável.
A CNBB puxa, juntamente com outras entidades ligadas ao direito a
alimentação, o "Mutirão de Superação da Fome e da Miséria". Uma das
bandeiras é a água potável, principalmente o projeto "Um milhão de
cisternas". O relator do Brasil para o direito a alimentação, Flávio
Valente, está solicitando de parceiros e interessados o levantamento de
casos típicos onde o direito a água esteja sendo violado pelo governo
brasileiro.
Está aí uma trincheira de luta importante para o movimento popular. Essa
estratégia pode ser aprofundada. Nesse momento eleitoral, onde questões
chaves como "fome e sede" estiveram ausentes dos debates – como se fosse
algo vergonhoso ou coisa de radical – precisamos refazer nossa luta pela
superação da fome, da sede e de toda forma de miséria.
Roberto Malvezzi (Gogó)
(1) Idem.
(2) Aldo C. Rebouças, "Águas Doces no Brasil". Estudos avançados da USP.