Segundo a Aladi, com o acordo, o País perderia mercado para diversos produtos
Alca seria prejudicial ao Brasil, diz estudo
13/08/2002
- Opinión
GENEBRA - A criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca),
planejada para ocorrer em 2005 com a participação de 34 países,
representa mais ameaças que oportunidades para o Brasil. Essa é a
conclusão de um estudo realizado pela Associação Latino-Americana de
Integração (Aladi).
Segundo o documento, o País sofre a ameaça de perder mercado em 176
produtos exportados por empresas nacionais para os mercados do
Hemisfério, o que representa 10% do comércio do Brasil com os países
vizinhos. O motivo é claro: a concorrência dos produtos dos Estados
Unidos e do Canadá, que entrariam nos mercados dos países latino-
americanos em condição de igualdade com o Brasil.
A principal ameaça ao Brasil, segundo a Aladi, está no setor de
manufaturados. Máquinas e equipamentos, veículos, papel e celulose e
produtos químicos poderiam perder mercado para as exportações do Canadá
e Estados Unidos.
No caso das exportações de veículos, poderia haver uma ameaça a 70% das
exportações totais do setor no Brasil.
Na avaliação da Aladi, os principais problemas enfrentados pelo Brasil
estariam nos mercados da Argentina, Paraguai, Uruguai e Chile.
Atualmente, o País tem tratamento preferencial para exportar seus
produtos a esses mercados. Mas com a criação da Alca, os benefícios
acabarão sendo estendidos a todos os países do Continente.
Apesar das ameaças, a Alca também pode ser vista como uma oportunidade
para que o Brasil aumente suas vendas aos mercados dos Estados Unidos e
Canadá.
Segundo a Aladi, 79 produtos poderiam se beneficiar do acordo
hemisférico, entre eles alimentos, café, frutas, açúcar, aço e
calçados. A questão, porém, é saber se, além da redução tarifária, os
norte-americanos irão retirar entraves com barreiras fitossanitárias e
salvaguardas.
E não será apenas o Brasil que sofrerá com a criação da Alca. A
Argentina, segundo a Aladi, pode enfrentar um problema ainda maior.
Segundo a entidade, apenas 61 itens da pauta de exportação da Argentina
seriam beneficiados pela criação da Alca.
Já os prejuízos ocorreriam em 173 produtos. A Argentina, por exemplo,
poderá sofrer a concorrência dos Estados Unidos para exportar trigo ao
Brasil, seu mercado cativo desde a criação do Mercosul. Outra
exportação argentina que pode ser atingida pela concorrência norte-
americana é o setor de combustíveis.
Queda - Apesar de todos os esforços dos governos da América Latina para
promover maior integração na região, o comércio entre os países do
Continente sofreu uma queda de 15% no primeiro semestre de 2002 em
relação ao mesmo período do ano passado, segundo a Aladi.
A razão para a queda do comércio na região é a diminuição no ritmo de
importação dos países. "Com a queda na entrada de capital nos países em
função das crises financeiras, as economias são obrigadas a importar
menos se quiserem manter uma balança de pagamentos razoavelmente
equilibrada", diz Michael Finger, chefe do Departamento de Estatísticas
da Organização Mundial do Comércio.
Para ele, porém, a Aladi está sendo otimista ao fazer a avaliação do
semestre. Segundo a OMC, o comércio do Brasil com a região caiu cerca
de 23% nos primeiros seis meses em relação ao primeiro semestre de
2001, sendo apenas superada pela queda na Argentina, que ultrapassou
55%.
* Jamil Chade - Correspondente. Jornal OESP – Caderno de Economia – 14
de agosto de 2002.
https://www.alainet.org/pt/articulo/106257
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