Fascínio da fama

14/07/2002
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Revestir uma pessoa de fama precoce é correr o risco de destruí-la. Todos nós construímos uma auto-imagem, adornada por funções, posses, talentos e relações familiares e sociais. Basta um desses aspectos ficar arranhado para irromper a insegurança. Por isso o desemprego, que aumenta com as políticas neoliberais, é tão humilhante. Perdem-se a identidade social, a segurança quanto à sobrevivência da família e a qualidade de vida. Já reparou quando lhe apresentam a uma pessoa? Não é suficiente saber-lhe o nome. Há curiosidade em conhecer o que ela faz, em que trabalha. A falta de emprego é como o chão que se abre sob os pés. Entra-se em depressão. Porque emprego significa salário que, por sua vez, representa a possibilidade de aluguel, alimentação, saúde, educação etc. Há pais que nutrem nos filhos falsos ideais: destacar-se como modelo numa passarela, tornar-se desportista de projeção, alcançar a fama como atriz ou ator. O sonho congela-se em ambição e a criança passa a dar-se uma importância ilusória. Ainda que alcance dois minutos de fama, os tempos de vazio na platéia são infinitamente maiores que os momentos de aplausos. O adolescente mergulha no estresse de corresponder à expectativa. Tem de provar a si e aos outros que é capaz, o melhor ou a mais charmosa e inteligente. Passa então a viver, não em função dos valores que possui, mas do olhar do outro. A família, perplexa, se pergunta: como foi possível? Logo ele, tão inteligente! Foi possível porque a família confundiu brilhantismo com segurança. Considerou-o um adulto precoce. Exigiu vôo de quem ainda não tinha asas crescidas. * Frei Betto é autor de "O Vencedor".
https://www.alainet.org/pt/articulo/106145
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