Sedução do poder

01/06/2002
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Para muitos, o poder é a suprema ambição. É a perversa maneira de se comparar a Deus. Vide os políticos que gastam somas bilionárias em campanhas eleitorais e, mesmo derrotados, voltam à cena, como se a sede de poder fosse proporcional à fortuna que dilapidam. Há homens que, fora do poder, sentem-se terrivelmente humilhados, expulsos do Olimpo dos deuses. Caem em depressão e, passada a ressaca, voltam à disputa pelo espaço de poder com mais garra e menos escrúpulos. Modificado o modo de viver de quem ocupa o poder, em pouco tempo altera-se também o modo de pensar. Pois o poder faz girar a roda da fortuna e opera na pessoa uma mudança de lugar social e cultural. Ela se vê cercada de bajuladores, recebe convites e homenagens, ganha presentes, dispõe de assessores e, sobretudo, passa a dispor de uma infra-estrutura que a reveste de uma aura especial. Troca de guarda-roupa, de casa, de amigos e de mulher ou marido. Aos olhos do comum dos mortais, aquela autoridade possui as chaves da felicidade alheia. Tem o poder de aprovar projetos, liberar verbas, autorizar obras, permitir viagens, distribuir cargos, promover pessoas, conceder bolsas, e transformar seus gestos em fatos políticos. Quem se apega ao poder mira-se todas as manhãs no espelho da bruxa da Branca de Neve e não suporta críticas, pois minam sua auto-imagem e exibem suas contradições aos olhos de outrem. Daí porque se isola, fecha-se num círculo hermético ao qual só têm acesso os que cumprem suas ordens, dizem "amém" às suas idéias e palavras. São raros aqueles que fazem do poder, como ensinou Jesus, um dever de serviço à justica, à solidariedade e à paz. Frei Betto é autor de "Hotel Brasil", entre outros livros.
https://www.alainet.org/pt/articulo/105944
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