Juventude e cultura neoliberal
28/02/2002
- Opinión
A cultura neoliberal teme o idealismo dos jovens. Todos
os grandes revolucionários da história tinham menos de 30
anos de idade ao ousarem consagrar suas vidas a
transformar sonhos em realidade.
São três os recursos utilizados pelo neoliberalismo para
neutralizar as motivações utópicas da juventude.
Primeiro, a desistorização do tempo. Extirpar o caráter
histórico do tempo, herdado dos hebreus e tão presente na
mensagem de três judeus paradigmáticos à nossa cultura:
Jesus, Marx e Freud. Sem o varal da história, o tempo
transforma-se num movimento cíclico. A historicidade cede
lugar à simultaneidade. O compromisso ao ficar. O projeto
ao prazer imediato. Assim, perde-se a dimensão biográfica
da vida, agora reduzida à esfera biológica.
O antídoto para este atentado à cultura é a participação
política: no grêmio ou no diretório estudantil; nos
movimentos sociais ou partidários; na luta por direitos
humanos ou pela defesa do meio ambiente. Toda escola
deveria ser um centro de formação política, sem
partidarismo, mas tendo clareza de formar cidadãos e não
consumidores.
O segundo recurso neoliberal é a redução da cultura ao
mero entretenimento. Nada de programas televisivos que
despertem a consciência ou imprimam densidade ao
espírito. Valem o apelo sensitivo, o jogo de imagens, o
voyeurismo, a pornografia e a violência. Nada de fazer
pensar e, muito menos, ter senso crítico.
Neste caso, o antídoto é a própria cultura. Acostumar
crianças a lerem livros e jovens a debaterem temas da
conjuntura nacional e internacional. Educar o olhar em
cineclubes e sessões de vídeos, em que filmes, capítulos
de novelas e clipes publicitários são analisados
criticamente.
O terceiro recurso neoliberal é o consumo como fonte de
valor humano. Em si, a pessoa nada vale. Mas revestida de
uma mercadoria valiosa, como carro importado, mansão e
grifes, passa a ter valor. Ou seja, é a mercadoria que
imprime valor às pessoas e não o contrário.
Neste caso, o antídoto é a espiritualidade. Quem abre-se
ao transcendente, faz a experiência de Deus, entusiasma-
se no serviço ao próximo, já não busca fora de si a
felicidade saboreada em seu espírito. Prefere a
solidariedade à competitividade. Vive o amor, não como
dever, mas como o prazer de ser feliz por fazer os outros
felizes.
* Frei Betto é escritor, autor do romance "O Vencedor"
(Ática), entre outros livros.
https://www.alainet.org/pt/articulo/105665
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