Vida literária

30/08/2001
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Estive em Passo Fundo (RS), onde participei da 9ª Jornada Nacional de Literatura, evento coordenado pela profa. Tânia Rosing. Dividi a mesa- redonda com Emir Sader, Antônio Torres, Alberto Manguel, Cláudio de Moura Castro e Joel Birman. Debatemos o papel do escritor em seu contexto social. Tema fácil para quem já leu Boccaccio, Balzac e Dostoievski. Do Brasil, Jorge Amado, Graciliano Ramos e Érico Veríssimo. De Minas, Adélia Prado, Fernando Sabino e Roberto Drummond. Machado de Assis e Guimarães Rosa não são exemplos. São paradigmas. Estou comemorando 30 anos de literatura. Cartas da Prisão, o primeiro livro, foi originalmente publicado na Itália, em 1971. Recebi um exemplar contrabandeado para a minha cela no Presídio Tiradentes, em S. Paulo, quando eu já havia amargado dois dos quatros anos passados nos cárceres da ditadura. Só em 1974, por ousadia e risco de Ênio Silveira, a Civilização Brasileira editou a obra. Hoje, são 45 livros, com traduções em 19 idiomas e 28 países, sem contar as obras em que figuro como co-autor. Difícil para um pai apontar os filhos preferidos. Mas sei o quanto me custou escrever Batismo de Sangue, A Obra do Artista uma visão holística do Universo e Entre todos os homens. Neste último, narro os evangelhos em forma de romance. Mas confesso que muito me diverti ao transformar minha visão do nosso país num romance policial, Hotel Brasil. Aprendi em casa o gosto pelas letras. Meu pai, Vieira Christo, exerce a crônica jornalística há cinqüenta anos. Minha mãe, Maria Stella Libanio Christo, produziu sete livros de culinária. Aos 8 anos, um elogio de dona Dercy Passos, minha professora no grupo escolar Barão do Rio Branco, despertou-me para o dom das letras. Até que a consciência da vocação aflorou, em meus 11 anos, diante do vaticínio do irmão marista José Henriques Pereira, no colégio Dom Silvério: Você só não será escritor se não quiser. A convite do Instituto Moreira Salles, participo este ano do projeto "O escritor por ele mesmo", que iniciei em Belo Horizonte, dia 28 último. A 26 de outubro estarei em Poços de Caldas. Dia 22 de novembro, em S. Paulo. Em outubro, viajarei pela Itália, onde tenho traduzidas onze obras, para debater o ofício literário. No dia 22 do mesmo mês, no projeto "Esquina da Palavra", do Itaú Cultural, comemorarei as três décadas de literatura com exposição e debate em torno de minha obra. Sou filho da Palavra, discípulo do Verbo que se fez carne. Pertenço à Ordem da Palavra, os dominicanos. Se Deus se traduz em palavra humana é, com certeza, porque há algo de transcendente na linguagem, o mais essencial atributo de nossa condição de seres inteligentes. Paradoxal, a palavra instaura amor e ódio, vida e morte e, no entanto, sugere silêncio, a matéria-prima do amor.
https://www.alainet.org/pt/articulo/105291
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