Bolívia: La Paz sitiada

03/10/2000
  • Español
  • English
  • Français
  • Deutsch
  • Português
  • Opinión
-A +A
Bolivia revolta campesina mantém cerco a La Paz
Cácia Cortez


Bolivia viveu setembro em meio a levantes e bloqueios e a multiplicação e
dispersão de conflitos em todo o país, expresando a falência do modelo
neoliberal adotado ha 15 anos que desenhou a crise econômica, política,
social e institucional que vive o país, mergulhado num vazio de liderança,
imobilidade governamental e incapacidade da classe politica em dar solução
ou mesmo servir de interlocutor nos conflitos. As revoltas, especialmente
dos campesinos é o resultado de uma ira silenciosa contra as elites e
políticos, contra sua exclusão das mesas de diálogos e participação, contra
a corrupção institucionalizada.

Em que pese também a crise de liderança e falta de projeto político da
oposição e organizações populares, e as influencias do narcotrafico -
aproveitando-se da falta de confiabilidade da classe política, o povo
bolivianos está botando para fora sua ira .

Setembro foi o mês da síntese das demandas e da visibilidade da gravidade dos
problemas que cotidianamente vive a maiorida do povo.

Nas cidades, os professores urbanos e rurais em greve geral, enfrentaram a
polícia em La Paz, Cochabamba e Santa Cruz. Alunos da universidade Siglo XX
de Oruro, marcharam por La Paz todos os dias,por duas semanas, reinvidicando
a distribuição equitativa dos recursos para as universidades, e foram
apoiados por centenas de pais de alunos que se juntam a eles nos bloqueios às
ruas de La Paz.

Enquanto isso, no Altiplano e Tropico, campesinos bloquearam os caminhos e
carreteras, deflagando o cerco a La Paz, reinvidicando o cumprimento dos
acordos que fizeram cessar os levantes de abril e a suspensão do estado de
sitio no país que resultou em mortes e feridos nos enfrentamentos entre
campesinos e Forças Armadas. O acordo previa a anulação da Lei de Àguas, que
regulamenta a privatização dos serviços de distribuição de agua e a
concessão de exploração dos recuros hidricos no pais, a anulação ou
reformulação da Lei de Reforma Agraria, dentre outros..

Os campesinos produtores de coca, que também participaram dos bloqueios de
abril, intensificam os cercos e se preparam para os enfrentamentos, exigindo
a suspensão de instalação de três quartés do exército na região de Chapare,
para o controle da erradicação dos plantios e a garantia de produção mínima
de coca por cada família.

Todas as estradas que dão acesso à La Paz são cercadas e tomadas por
campesinos, interrompendo a circulação de produtos agricolas e de primeiras
necessidades. La Paz começa a ser desabastecida. Da região do trópico
cochabambino, onde a Coordenadora de Àguas reinicia grandes mobilizações em
apoio aos campesinos, à Chapare, Atachachi, Altiplano e Tropico, comitês
cívicos, juntas vicinales e alcaldes obedecem às ordens campesinas: nenhum
produto sai do campo para as cidades. Juntos, os tres principais grupos em
protesto, exigem a renúncia de Banzer. Este reune o alto comando das Forças
Armadas e pede apoio para reprimir as mobilizações e realizar os
desbloqueios das estradas. Os militares, alegando as criticas e denuncias
que sofreram contra sua atuação na repressão aos levantes de abril, exigem
respaldo formal para reprimir os bloqueios.

Exército prende os lideres dos professores e reprime as manifestações nas
cidades com bombas de gaz . Enquanto isso, os conflitos entre campesnios e
Forças Armadas se intensificam no interior, nove pessoas morrem, dentre elas,
sete campesinos e há centenas de feridos. Em Huarina, no Altiplano, aviões da
Força Aérea, em võos rasantes sobre os bloqueios, ferem dezenas e matam
três campesinos com tiros de armas de precisão.

A multiplicação e dispersão dos comflitos atinge todo o pais. Em La Paz
mulheres de militares reiniciam greve de fome exigindo o comprimento do
acordo de abril que deu fim a quartelada de soldados da Guarda Nacional, os
reservatórios de água de La Paz sofrem ameaça de bomba e são protegidos pelo
Exército, enquanto funcionários da empresa de águas entram em greve,
trabalhadores do sistema de previdenciaario também. Para Bil Clinton, Banzer
"está no caminho certo" e promete mais um pacote de ajuda financeira.

A quase 20 dias de cerco, La Paz começou a ser abastecida por aviões Hercules
das Forças Armadas, que passaram a realizar também transporte de passageiros,
em duas pontes aéreas de emergencia.

Os bloqueios continuam com enfrentamentos e mortes, enquanto a Igreja
católica, a assembleia permenente dos direitos humanos, tentam intermediar um
processo de negociação entre governo e campesinos, a coordenadora de [aguas
d[a um praso de 24 horas para o governo atender as reinvidicações dos
campesinos. Do contr[ario, seguir[a com os protestos e bloqueios na região de
Cochabamba??

Os tres grupos que lideram os levantes no país trazem á tona um acúmulo de
demandas que vem sendo postergadas há decadas e desnudam a incapacidade e
falta de prioridade da elite dirigente em promover o desenvolvimento do
país com a inclusão da maiorida.

A crise da educação se arrasta por mais de 20 anos. O abandono da
agricultura e a pauperizaçao das populações campesinas da região do Altiplano
vem agravando os problemas sociais e econômicos. A falta de diálogo e
negociação com os cocaleros para a erradicação dos plantios de coca e em não
considerar os efeitos dramáticos para os campesinos produtores tradicionais,
acende a revolta dos produtores. E por tras disso, as políticias de
privatizações e concessões para exploração dos recursos naturais, são o caldo
para a revolta e estafa social Boliviana, que tem raizes mais profundas, no
modelo neoliberal adotado e na arrogancia das eleites e classe politica em
ignorar os problemas sociais, especialmente os relacionados às populações
tradicionais. Enquanto institui uma política subserviente ao modelo
neoliberal, beneficiando as transnacionais, o governo institui politicas
compensatòrias para os problemas sociais, entregue aos projetos bilaterais
justificando o discurso de combate a probreza, transferindo milhões de
dólares em programas administrados por Ongs.

Outro ponto de fratura que acende os conflitos é a frustração com a lei de
participação popular, que a princípio havia gerado um clima de euforia na
populaçao e suas instancias organizativas, até que descobrissem que a
participação e o diálogo se realizada entre os iguais. Ou seja, entre elite e
classe política, através de acertos conjunto e corrupção institucionalizada,
excluindo as organizações populares das mesas de negociação e diálogo.
Exemplo disso foi a realização do di[alogo 2000, promovido pelo governo, em
cumprimento as exigência do FMI. A maioria dos grupos que hoje bloqueiam os
caminhos em protesto, foram chamados para a rodada do diálogo nacional. No
entanto, os resultados não vieram em atendimento as suas demandas e só
serviram para respaldar as exigência do cumprirmento das metas de ajustes
exigidas pelos Banco Mundial. Das mesas do diálogo 2000, para os bloqueios
das carretera, foi a saida?

A riqueza hostensiva da elite politica, enquanto discursa ausencia de
recursos para solucionar os problemas e pede mais sacrificios da populaçao
aumenta a revolta e a fratura. Não háa uma cultura de rendição dee contas, a
corrupção faz parte do serimonial das relações entre politicos e elites e se
espalha por outras instâncias organizativas do país, passando pelo
Judiciário e empresas públicas, cristalizando a impunidade.

Como acreditar numa classe politica que promete um futuro pior do que o
presente? Como acreditar nas lideranças sindicais e populares se não são
capazes de apontar um projeto que resgate a esperança e a confiança?
https://www.alainet.org/pt/articulo/104874
Subscrever America Latina en Movimiento - RSS