Brasil: IV Congreso do MST
21/08/2000
- Opinión
MANIFESTO DO MST AO POVO BRASILEIRO
Estivemos acampados em Brasília, com mais de 11 mil delegados vindos de 23
estados do país, homens e mulheres, crianças, jovens e adultos, do meio rural,
compartilhando sacrifícios, alegrias e esperanças. Estivemos reunidos no 4º
Congresso Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Nosso país vive numa grave crise. Mas está crise não atinge a todos. Os mais
ricos continuam ganhando muito dinheiro, explorando. As grandes empresas
multinacionais continuam enviando bilhões de dólares para o exterior. Os bancos
nunca ganharam tanto dinheiro como agora. Mas, para quem vive de seu suor, são
cada vez mais precárias as condições de vida. Não há trabalho; quem tem emprego
ganha muito pouco; os jovens não têm escola de qualidade; e a universidade
deixou de ser pública e gratuita. Muita gente se obriga a sair do interior e ir
para as periferias das grandes cidades. Lá encontram miséria e violência.
Onde está a causa disso?
É verdade que a nossa sociedade sempre foi injusta. Como em toda sociedade
capitalista, o pobre foi sempre explorado e humilhado. E a classe rica, cada
vez mais gananciosa, reprime o povo e se submete aos interesses do capital
internacional.
Mas, desde 1994, com a política neoliberal do governo FHC, os problemas se
agravaram ainda mais. Esta política econômica representa apenas os interesses
dos bancos e das empresas multinacionais. A estas, o governo garante altas taxas
de juros, mercado e ajuda financeira. Basta dizer que, no ano passado, o governo
gastou 64% do orçamento da união em pagamentos de juros das dívidas interna e
externa. E o governo das elites brasileira, apesar de todos os problemas
sociais, tem a coragem de, todos os anos, enviar 50 bilhões de dólares para os
países ricos. Por isso falta dinheiro para educação, saúde, transporte coletivo,
casa popular, e geração de empregos.
Na agricultura, a situação é ainda mais grave. O governo FHC quer "modernizar"
o meio rural dando estímulos somente às grandes fazendas exportadoras;
entregando o controle do mercado agrícola para as empresas multinacionais; e
permitindo às agroindústrias controlar o abastecimento de alimentos.
Liquidou com seus centros de pesquisas e desenvolvimento tecnológico. Assim, as
conquistas da ciência, que pertencem à humanidade, hoje são monopolizadas pelas
multinacionais que detêm seus próprios centros de pesquisas. Agora, este mesmo
governo, está entregando toda a pesquisa da biotecnologia para controle das
multinacionais, que vão fazer mudanças genéticas nas plantas e alimentos, sem
nenhum controle, visando apenas aumentar seus lucros. Colocando, assim, em
risco o meio ambiente, a saúde dos agricultores e dos consumidores.
O mais grave, para favorecer a exploração e especulação sobre os pequenos
agricultores e consumidores, o governo acabou com os estoques reguladores de
alimentos. Estes também são monopolizados pelas agroindústrias multinacionais. A
população é refém da ganância desses grupos.
Na política, proliferam, todos dias, notícias de corrupção e roubalheira com o
dinheiro e patrimônio do povo. Há um setor, cada vez maior, das classes
dominantes que está enriquecendo apenas com o desvio do dinheiro público, com o
narcotráfico, com o contrabando. Esses setores são tão poderosos e influentes,
que envolvem desembargadores, juizes, comandantes da PM, deputados, senadores,
donos de jornais, banqueiros, militares... e chegou até o ex-secretário do
Planalto. Este, considerado o braço direito do governo, está indiciado em
pertencer ao grupo que promoveu o roubo de 169 milhões de reais, destinados à
construção do prédio do Tribunal de Justiça do Trabalho de São Paulo.
Nosso país tem jeito?
Nós respondemos que sim. Mas será necessário que o povo brasileiro se levante,
se organize e vá para as ruas, para lutar por seus direitos históricos. É
possível, sim, construir um outro projeto para o Brasil. Um Projeto Popular,
voltado para as necessidades do povo. Vamos precisar de mudanças radicais. É
preciso impedir que os bancos, as multinacionais e os ladrões do povo continuem
enriquecendo. É preciso suspender o pagamento da dívida externa. É preciso
controlar o sistema financeiro e a taxa de juros. É preciso determinar que os
bancos usem o dinheiro para financiar a produção, e não a especulação. É
preciso renegociar a dívida interna e priorizar o orçamento público em educação,
saúde e agricultura. Retomar as rédeas da política econômica, para que seja
administrada por brasileiros em favor do nosso povo, rompendo o acordo com o
FMI. É preciso implementar uma reforma agrária, associada com um novo modelo
agrícola, que garanta renda aos agricultores e futuro para quem vive no meio
rural.
Com os recursos que deixarão de ser enviados ao exterior e aos bancos, deverá se
formar um fundo nacional de investimentos sociais, na geração de empregos e no
aumento do poder aquisitivo da população.
Enfim, não há nenhuma razão econômica ou social que impeça nosso povo a ter
acesso a terra, trabalho, moradia digna, escola pública de qualidade, e
alimentação para todos os brasileiros. Mas é preciso ter coragem para mudar o
governo, mudar a política econômica e enfrentar a ganância dos poderosos.
Os próximos meses e anos serão decisivos para o futuro de nosso país. Ou
recuperamos a nossa soberania ou seremos condenados a ser uma nova colônia do
governo dos Estados Unidos, que está de olho até em nossa Amazônia.
Por isso, como um movimento social dos trabalhadores rurais sem terra, nos
comprometemos, e conclamamos a todas as organizações do povo brasileiro, a
organizar-se e lutar por essas mudanças.
Precisamos exigir a instalação de uma CPI para apurar os casos de corrupção, que
envolvem altas autoridades do governo. Propomos que todos se engajem no
plebiscito popular contra o pagamento da dívida externa, a ser realizado nas
semana da Pátria, de 2 a 7 de Setembro. Precisamos derrotar esse governo e os
ricos nas próxima eleições, e eleger candidatos progressistas que estejam
realmente comprometidos com o Projeto Popular. Precisamos discutir, em todos os
locais de moradia, de trabalho, nas escolas, nos sindicatos e paróquias, um
Projeto Popular para o Brasil.
E seguir lutando sempre.
Todas as conquistas sociais foram resultantes das grandes lutas populares.
Esperamos, junto como todo o povo brasileiro, construir um Projeto Popular que
conquiste a soberania do nosso país, a dignidade e o bem estar de toda a
população.
Delegados do 4º Congresso Nacional do MST
Brasília - DF, 11 de Agosto de 2000
Estivemos acampados em Brasília, com mais de 11 mil delegados vindos de 23
estados do país, homens e mulheres, crianças, jovens e adultos, do meio rural,
compartilhando sacrifícios, alegrias e esperanças. Estivemos reunidos no 4º
Congresso Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Nosso país vive numa grave crise. Mas está crise não atinge a todos. Os mais
ricos continuam ganhando muito dinheiro, explorando. As grandes empresas
multinacionais continuam enviando bilhões de dólares para o exterior. Os bancos
nunca ganharam tanto dinheiro como agora. Mas, para quem vive de seu suor, são
cada vez mais precárias as condições de vida. Não há trabalho; quem tem emprego
ganha muito pouco; os jovens não têm escola de qualidade; e a universidade
deixou de ser pública e gratuita. Muita gente se obriga a sair do interior e ir
para as periferias das grandes cidades. Lá encontram miséria e violência.
Onde está a causa disso?
É verdade que a nossa sociedade sempre foi injusta. Como em toda sociedade
capitalista, o pobre foi sempre explorado e humilhado. E a classe rica, cada
vez mais gananciosa, reprime o povo e se submete aos interesses do capital
internacional.
Mas, desde 1994, com a política neoliberal do governo FHC, os problemas se
agravaram ainda mais. Esta política econômica representa apenas os interesses
dos bancos e das empresas multinacionais. A estas, o governo garante altas taxas
de juros, mercado e ajuda financeira. Basta dizer que, no ano passado, o governo
gastou 64% do orçamento da união em pagamentos de juros das dívidas interna e
externa. E o governo das elites brasileira, apesar de todos os problemas
sociais, tem a coragem de, todos os anos, enviar 50 bilhões de dólares para os
países ricos. Por isso falta dinheiro para educação, saúde, transporte coletivo,
casa popular, e geração de empregos.
Na agricultura, a situação é ainda mais grave. O governo FHC quer "modernizar"
o meio rural dando estímulos somente às grandes fazendas exportadoras;
entregando o controle do mercado agrícola para as empresas multinacionais; e
permitindo às agroindústrias controlar o abastecimento de alimentos.
Liquidou com seus centros de pesquisas e desenvolvimento tecnológico. Assim, as
conquistas da ciência, que pertencem à humanidade, hoje são monopolizadas pelas
multinacionais que detêm seus próprios centros de pesquisas. Agora, este mesmo
governo, está entregando toda a pesquisa da biotecnologia para controle das
multinacionais, que vão fazer mudanças genéticas nas plantas e alimentos, sem
nenhum controle, visando apenas aumentar seus lucros. Colocando, assim, em
risco o meio ambiente, a saúde dos agricultores e dos consumidores.
O mais grave, para favorecer a exploração e especulação sobre os pequenos
agricultores e consumidores, o governo acabou com os estoques reguladores de
alimentos. Estes também são monopolizados pelas agroindústrias multinacionais. A
população é refém da ganância desses grupos.
Na política, proliferam, todos dias, notícias de corrupção e roubalheira com o
dinheiro e patrimônio do povo. Há um setor, cada vez maior, das classes
dominantes que está enriquecendo apenas com o desvio do dinheiro público, com o
narcotráfico, com o contrabando. Esses setores são tão poderosos e influentes,
que envolvem desembargadores, juizes, comandantes da PM, deputados, senadores,
donos de jornais, banqueiros, militares... e chegou até o ex-secretário do
Planalto. Este, considerado o braço direito do governo, está indiciado em
pertencer ao grupo que promoveu o roubo de 169 milhões de reais, destinados à
construção do prédio do Tribunal de Justiça do Trabalho de São Paulo.
Nosso país tem jeito?
Nós respondemos que sim. Mas será necessário que o povo brasileiro se levante,
se organize e vá para as ruas, para lutar por seus direitos históricos. É
possível, sim, construir um outro projeto para o Brasil. Um Projeto Popular,
voltado para as necessidades do povo. Vamos precisar de mudanças radicais. É
preciso impedir que os bancos, as multinacionais e os ladrões do povo continuem
enriquecendo. É preciso suspender o pagamento da dívida externa. É preciso
controlar o sistema financeiro e a taxa de juros. É preciso determinar que os
bancos usem o dinheiro para financiar a produção, e não a especulação. É
preciso renegociar a dívida interna e priorizar o orçamento público em educação,
saúde e agricultura. Retomar as rédeas da política econômica, para que seja
administrada por brasileiros em favor do nosso povo, rompendo o acordo com o
FMI. É preciso implementar uma reforma agrária, associada com um novo modelo
agrícola, que garanta renda aos agricultores e futuro para quem vive no meio
rural.
Com os recursos que deixarão de ser enviados ao exterior e aos bancos, deverá se
formar um fundo nacional de investimentos sociais, na geração de empregos e no
aumento do poder aquisitivo da população.
Enfim, não há nenhuma razão econômica ou social que impeça nosso povo a ter
acesso a terra, trabalho, moradia digna, escola pública de qualidade, e
alimentação para todos os brasileiros. Mas é preciso ter coragem para mudar o
governo, mudar a política econômica e enfrentar a ganância dos poderosos.
Os próximos meses e anos serão decisivos para o futuro de nosso país. Ou
recuperamos a nossa soberania ou seremos condenados a ser uma nova colônia do
governo dos Estados Unidos, que está de olho até em nossa Amazônia.
Por isso, como um movimento social dos trabalhadores rurais sem terra, nos
comprometemos, e conclamamos a todas as organizações do povo brasileiro, a
organizar-se e lutar por essas mudanças.
Precisamos exigir a instalação de uma CPI para apurar os casos de corrupção, que
envolvem altas autoridades do governo. Propomos que todos se engajem no
plebiscito popular contra o pagamento da dívida externa, a ser realizado nas
semana da Pátria, de 2 a 7 de Setembro. Precisamos derrotar esse governo e os
ricos nas próxima eleições, e eleger candidatos progressistas que estejam
realmente comprometidos com o Projeto Popular. Precisamos discutir, em todos os
locais de moradia, de trabalho, nas escolas, nos sindicatos e paróquias, um
Projeto Popular para o Brasil.
E seguir lutando sempre.
Todas as conquistas sociais foram resultantes das grandes lutas populares.
Esperamos, junto como todo o povo brasileiro, construir um Projeto Popular que
conquiste a soberania do nosso país, a dignidade e o bem estar de toda a
população.
Delegados do 4º Congresso Nacional do MST
Brasília - DF, 11 de Agosto de 2000
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