Você viu aquele mano na porta do bar? Ele defende o impeachment da Dilma!
26/02/2015
- Opinión
Você viu aquele mano na porta do bar
Ultimamente andei ouvindo ele reclamar
Da sua falta de dinheiro era problema
Que a sua vida pacata já não vale a pena
(…)
A lei da selva consumir é necessário
Compre mais, compre mais
Supere o seu adversário,
O seu status depende da tragédia de alguém
É isso, capitalismo selvagem
Ultimamente andei ouvindo ele reclamar
Da sua falta de dinheiro era problema
Que a sua vida pacata já não vale a pena
(…)
A lei da selva consumir é necessário
Compre mais, compre mais
Supere o seu adversário,
O seu status depende da tragédia de alguém
É isso, capitalismo selvagem
Jornais e TVs parecem combinar as pautas: “Agora vamos falar só disso”. É assim em relação à lógica da construção social do endosso à violência policial dirigida aos negros e pobres em territórios periféricos, bem como, vemos nos principais canais abertos em seus programas vespertinos. E é assim também na cobertura política e econômica. E tem TV em quase todos os botecos aqui perto de casa. Onde você mora também é assim?
Há meses, desde o fim das eleições, só se fala em Petrobrás: “Operação Lava Jato”, “esquemas de propina”, “corrupção”, são palavras e conceitos que estão na boca das pessoas nas rodas dos bares aqui no meu bairro (divisa de Itaim Paulista com Poá/Ferraz), nas academias de ginástica, na feira-livre, no ônibus, no trem, no futebol, no mercadinho: “Nossa! Como as coisas estão caras! Um absurdo! E você viu a sem-vergonhice da corrupção da Petrobrás?”. E isso tudo ganhou um tempero a mais nas últimas semanas: a ideia de impeachment da Dilma.
Registre-se: não acho que a mídia não deve cobrir os acontecimentos. Mas é necessário “peneirar” as informações que nos chegam ou, como diria Brecht: “pergunte sempre a cada ideia: a quem serves?”.
Todos os governos são corruptos! Isso não quer dizer que devemos concordar ou tolerar governos corruptos. Trato aqui apenas de parar um minuto para pensar sobre o que está por trás da campanha midiática de popularização e massificação do debate sobre corrupção e impeachment. O que será?
Antes que digam: “Esse aí é petralha!”, reafirmo: tanto o governo Dilma quanto o que viria a ser um governo Aécio, na humilde opinião deste blogueiro, prestaria seus serviços aos mesmos Senhores: O Mercado; O Capital; O interesse privado. Com pequenas e pontuais diferenças.
Mas é justo e necessário dizer: O PSDB e a oposição de direita não tem moral para apontar o dedo a nenhum mal feito. Não tem!
A mobilização e os protestos “Contra a Corrupção” e pelo “Impeachment da Dilma”, convocados por esses setores, pelas redes sociais, proposto para o próximo dia 15 de março e, para o qual alguns dos meus alunos aqui no bairro, meus vizinhos e colegas dizem que irão, é um circo armado de maneira oportunista pelo PSDB de Aécio e Serra, aliados à grande mídia, especialmente, à Rede Globo.
A crítica despolitizada que alimenta a demonização de todos os partidos, como sendo iguais; De todas as instituições, como sendo ultrapassadas e burocráticas; Da política e dos políticos – todos e sem exceção – como sendo criminosos e responsáveis pela corrupção e maus feitos dos governos, só afasta ainda mais a população da participação política organizada e a torna alvo fácil do discurso oportunista e da manipulação.
É preciso disputar, não como uma defesa ao governo Dilma – indefensável que é -, mas como uma tarefa de disputa de mentes e corações para os valores progressistas, transformadores e de defesa dos direitos sociais, próprios de uma oposição de esquerda que tem legitimidade para exigir da presidenta coerência entre as ações do governo e o que foi compromissado no segundo turno de sua campanha.
Sei que muitos educadores sociais, ativistas e professores de escolas públicas, em São Paulo e pelo Brasil afora, me dão a honra de sua atenção e confiança, acompanhando e lendo os textos neste BlogNegroBelchior. Especialmente a vocês, digo:
Seja na luta da sala de aula da escola, do cursinho popular, nas oficinas ou no cotidiano do bairro, do trabalho, na labuta das greves, das mobilizações e da vida: é preciso disputar a mentalidade coletiva! Disputar a opinião e criar estratégias de intervenção para isso. E para criá-las, é sempre bom imaginar perguntas e compreender o ambiente, para, a partir daí, pensar ações:
A surdez e a cegueira do PT, em relação às reivindicações de fortalecimento das mídias alternativas, de democratização dos meios de comunicação e de investimento em educação popular, teria o condenado, a não ter capacidade de reação num momento como o que vivemos agora? As opções políticas do PT ao chegar no poder, o tornou incapaz de defender valores progressistas e de disputar consciências?
E porque seria incapaz? Por ter enterrado a própria moral e legitimidade? Por não ter criado instrumentos para essa disputa? E o medo maior: Teria o PT, pela importância de sua construção e existência, frente ao olhar das gerações mais jovens e de outras que virão, condenado toda a esquerda brasileira?
Movimentos, partidos de esquerda e lutadoras/es sociais – nisso incluo um minoritário setor do próprio PT, precisam se refazer, se reinventar enquanto uma opção capaz de criticar, apontar as contradições de seu governo, sem que isso signifique o fortalecimento da direita histórica e das forças alinhadas ao PSDB e à Globo. Não negar o PT e suas experiências, mas superá-lo enquanto um projeto político para o país.
Bem, sobre isso tudo, lógico, será necessário refletir mais, aprofundar e debater. Então façamos!
Mas, voltemos à tarefa do agora:
Sobre o tema “Corrupção” e sua relação com o imaginário coletivo, além da poesia insuperável dos Racionais MC’s, na letra de “Mano na porta do bar”, sugiro abaixo o videozinho super pedagógico que voltou a circular por esses dias nas redes sociais, de um trecho do Jornal da Cultura de 12/Dez/2014, no qual o historiador Leandro Karnal, da UNICAMP, comenta sobre as raízes da corrupção no Brasil.
Há tempos não se aproveita 2:47s tão bem! O professor dá uma aula sobre o que é corrupção no Brasil, sobre o conceito de “prática estrutural” e faz menção a como reagir a algo tão enraizado na sociedade brasileira, lembrando: a sociedade é formada pelas pessoas, logo, enraizada em cada um de nós – assim como sempre lembramos aqui, também o é, o racismo, o machismo, a homofobia e outras aberrações sociais. Como reagir? Educação!
https://www.alainet.org/pt/active/81100
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