Sobre ser “menos informado”
22/10/2014
- Opinión
A ilusão sobre a extensão das assimetrias entre São Paulo e o Brasil conduziu aqueles setores sociais e a expressão política que os organiza a não se dar conta da presença das mazelas que a concentração de renda e riqueza reproduz no próprio estado de São Paulo
O sociólogo não nos falta... Com sua conhecida e reconhecida profundidade de raciocínio e sua capacidade de síntese, brindou a sociedade brasileira com, mais que uma pérola, uma frase lapidar, naquele sentido antigo do termo: para ser escrita na lápide. “Os nordestinos que votam no PT não votam porque são pobres, mas porque são menos informados”. Devemos todos nos curvar à sabedoria do príncipe. E, mais uma vez, sermos gratos a ele. Mas não será ocioso refletir sobre o que devemos fazer para nós, nordestinos, ingressarmos na categoria dos cidadãos bem informados.
É possível que, para tanto, a maioria do povo brasileiro, particularmente nós nordestinos que votamos em Dilma no primeiro turno das eleições, nos sentemos ao fim da jornada de trabalho, diante do televisor para receber como expressão inquestionável da verdade a enxurrada de opiniões oferecidas em forma de notícia que brota dos telejornais. Ou nos dediquemos à leitura semanal da revista Veja e assemelhados, para nos inteirarmos da real situação do país. Em suma, para o príncipe, bem informado é aquele cidadão ou cidadã que lê Veja, Folha, Estadão, O Globo – O Estado de Minas, não, porque o pessoal que lê o Estado de Minas deu vitória à Dilma e ao Pimentel no primeiro turno –, e naturalmente quem assiste aos telejornais dos monopólios de comunicação.
Há um aspecto curioso nessa preferência por discriminar os nordestinos. Vejamos. Dilma venceu no Rio Grande do Sul, no Rio de Janeiro, em Minas Gerais. Ou os pedagogos que preparam os conteúdos de geografia para as crianças de São Paulo nos brindarão com uma nova e revolucionária edição dos didáticos e paradidáticos oferecidos pelos governos tucanos para as escolas públicas ampliando as dimensões e o alcance territorial da Região Nordeste, ou o príncipe esqueceu as preciosas aulas de geografia ministradas na escola primária.
Certos segmentos sociais de São Paulo, particularmente os situados no topo da pirâmide, desenvolveram ao longo do período em que o estado se encontra sob a gestão tucana uma rara incapacidade de perceber o que ocorre realmente para além das barrancas do Rio Grande. Não é apenas um caso de miopia. Trata-se de uma opção pelo divórcio. A ilusão sobre a extensão das assimetrias... entre São Paulo e o Brasil – São Paulo é ótimo, o que não presta é a vizinhança – conduziu aqueles setores sociais e a expressão política que os organiza, o PSDB, a não se dar conta da presença das mazelas que a concentração de renda e riqueza reproduz no próprio estado de São Paulo, que, como se sabe, está entre os primeiros beneficiários de programas sociais do governo federal, como o Bolsa Família e outros.
Esse fato os torna insensíveis aos avanços produzidos por um projeto generoso e inclusivo que converteu em prática uma antiga bandeira: “O Nordeste não pode ser visto como um problema para o Brasil. O Nordeste deve ser visto como uma solução”. O governo Lula converteu esse sonho em realidade. A região permanece crescendo há mais de uma década a taxas equivalentes ao dobro da média nacional. Por si só, essa é uma conquista inédita na história do país no que toca ao combate às desigualdades regionais. Esse fato histórico significa que no início do século 21, tardiamente portanto, o Brasil encara o Nordeste como um potencial que redireciona os marcos do desenvolvimento nacional com a expansão de um mercado interno popular e vigoroso, a contar com suas próprias forças, o que permite ao país superar as dificuldades impostas pela crise econômica e financeira mundial, com geração de emprego e renda e criando as condições materiais para o exercício da cidadania.
O príncipe reproduz com sua frase a mesquinha leitura que faziam os senhores de escravos e seus descendentes sociais ao desprezar e discriminar a capacidade criativa e produtiva dos filhos dessa região que marca, em definitivo, a contribuição não apenas para a construção das riquezas materiais do Brasil – tente imaginar a construção, o desenvolvimento de São Paulo, sem a presença dos filhos do Nordeste – como para a definição do perfil cultural de nossa gente. Dilma entendeu o Nordeste. O Nordeste entendeu Dilma. Por isso oferecerá, mais uma vez, sua contribuição para a construção de um Brasil mais justo, mais generoso.
- Pedro Tierra (Hamilton Pereira) é presidente do Conselho Curador da Fundação Perseu Abramo
É possível que, para tanto, a maioria do povo brasileiro, particularmente nós nordestinos que votamos em Dilma no primeiro turno das eleições, nos sentemos ao fim da jornada de trabalho, diante do televisor para receber como expressão inquestionável da verdade a enxurrada de opiniões oferecidas em forma de notícia que brota dos telejornais. Ou nos dediquemos à leitura semanal da revista Veja e assemelhados, para nos inteirarmos da real situação do país. Em suma, para o príncipe, bem informado é aquele cidadão ou cidadã que lê Veja, Folha, Estadão, O Globo – O Estado de Minas, não, porque o pessoal que lê o Estado de Minas deu vitória à Dilma e ao Pimentel no primeiro turno –, e naturalmente quem assiste aos telejornais dos monopólios de comunicação.
Há um aspecto curioso nessa preferência por discriminar os nordestinos. Vejamos. Dilma venceu no Rio Grande do Sul, no Rio de Janeiro, em Minas Gerais. Ou os pedagogos que preparam os conteúdos de geografia para as crianças de São Paulo nos brindarão com uma nova e revolucionária edição dos didáticos e paradidáticos oferecidos pelos governos tucanos para as escolas públicas ampliando as dimensões e o alcance territorial da Região Nordeste, ou o príncipe esqueceu as preciosas aulas de geografia ministradas na escola primária.
Certos segmentos sociais de São Paulo, particularmente os situados no topo da pirâmide, desenvolveram ao longo do período em que o estado se encontra sob a gestão tucana uma rara incapacidade de perceber o que ocorre realmente para além das barrancas do Rio Grande. Não é apenas um caso de miopia. Trata-se de uma opção pelo divórcio. A ilusão sobre a extensão das assimetrias... entre São Paulo e o Brasil – São Paulo é ótimo, o que não presta é a vizinhança – conduziu aqueles setores sociais e a expressão política que os organiza, o PSDB, a não se dar conta da presença das mazelas que a concentração de renda e riqueza reproduz no próprio estado de São Paulo, que, como se sabe, está entre os primeiros beneficiários de programas sociais do governo federal, como o Bolsa Família e outros.
Esse fato os torna insensíveis aos avanços produzidos por um projeto generoso e inclusivo que converteu em prática uma antiga bandeira: “O Nordeste não pode ser visto como um problema para o Brasil. O Nordeste deve ser visto como uma solução”. O governo Lula converteu esse sonho em realidade. A região permanece crescendo há mais de uma década a taxas equivalentes ao dobro da média nacional. Por si só, essa é uma conquista inédita na história do país no que toca ao combate às desigualdades regionais. Esse fato histórico significa que no início do século 21, tardiamente portanto, o Brasil encara o Nordeste como um potencial que redireciona os marcos do desenvolvimento nacional com a expansão de um mercado interno popular e vigoroso, a contar com suas próprias forças, o que permite ao país superar as dificuldades impostas pela crise econômica e financeira mundial, com geração de emprego e renda e criando as condições materiais para o exercício da cidadania.
O príncipe reproduz com sua frase a mesquinha leitura que faziam os senhores de escravos e seus descendentes sociais ao desprezar e discriminar a capacidade criativa e produtiva dos filhos dessa região que marca, em definitivo, a contribuição não apenas para a construção das riquezas materiais do Brasil – tente imaginar a construção, o desenvolvimento de São Paulo, sem a presença dos filhos do Nordeste – como para a definição do perfil cultural de nossa gente. Dilma entendeu o Nordeste. O Nordeste entendeu Dilma. Por isso oferecerá, mais uma vez, sua contribuição para a construção de um Brasil mais justo, mais generoso.
- Pedro Tierra (Hamilton Pereira) é presidente do Conselho Curador da Fundação Perseu Abramo
Teoria e Debate, Edição 129, 23 outubro 2014
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