A participação de Dilma na 69ª Assembleia Geral da ONU
08/10/2014
- Opinión
Nos dias 23 e 24 de setembro a presidente Dilma esteve em Nova York para participar de dois eventos de suma importância promovidos pela Organização das Nações Unidas (ONU). O primeiro foi a Cúpula do Clima, que reuniu vários chefes de Estado em preparação da próxima Conferência das Partes (COP 20), em dezembro, em Lima, no Peru. O segundo foi o discurso na abertura da 69ª Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU). Nos dias 22 e 23, também em Nova York, houve a Conferência Mundial sobre os Povos Indígenas, no qual o Brasil foi representado pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.
Quando, em 1945, se discutia a formulação das regras e condições de funcionamento da ONU, o Brasil era candidato a tornar-se membro permanente de seu Conselho de Segurança, e para tanto contava com a simpatia americana. A União Soviética e a Inglaterra, porém, se opuseram, pois consideravam a participação brasileira um voto a mais para as posições defendidas pelos Estados Unidos. O governo brasileiro ainda tentou reagir, propondo a revisão das regras após de um certo tempo de funcionamento da organização, o que na prática ocorreu somente, e de maneira precária, 55 anos depois, na passagem do milênio. O prêmio de consolação foi o convite para ser sempre o país a discursar na abertura das assembleias gerais. O primeiro representante brasileiro a ocupar essa tribuna foi o diplomata e ministro de Relações Exteriores do Estado Novo, Oswaldo Aranha, na Sessão Especial da AGNU de 1947, e posteriormente, na maioria das vezes, foram os presidentes da República.
A presidenta Dilma cumpriu esse ritual durante seu mandato. Nesses quatro anos, vários temas marcaram seus discursos, como o informe sobre o desenvolvimento do Brasil e as transformações sociais implementadas pelo governo; as denúncias do "tsunami" financeiro promovido pelas grandes potências para reduzir o alcance de sua crise econômica, mesmo prejudicando a estabilidade monetária de muitos países; a denúncia da espionagem americana e a necessidade da regulação internacional da internet; a premência da reforma das instituições internacionais como as financeiras e a própria ONU; o apoio para a Palestina tornar-se membro pleno da ONU e ter suas fronteiras reconhecidas com base na situação geográfica de 1967; a tese da responsabilidade ao proteger, quando questionou os ataques dos EUA e da União Europeia contra a Líbia; e a defesa da solução pacífica para os conflitos do Oriente Médio.
Em 2014, os pontos altos do discurso foi novamente o informe da situação econômica e social do Brasil, acrescido dos dados do relatório recente da FAO segundo os quais o país saiu do "mapa da fome" graças à implementação de políticas sociais eficazes desde 2003. Também chamou a atenção para a necessidade de combater todo tipo de preconceito e discriminação e criticou os atuais bombardeios americanos no Iraque e na Síria sob a justificativa de contenção do Estado Islâmico (EI) e defendeu negociações diplomáticas como a solução mais adequada para combatê-lo.
A distorção dessa posição pela imprensa brasileira e por alguns diplomatas aposentados não demorou, sob a afirmação de que a presidenta Dilma teria proposto negociar com terroristas. No entanto, justiça seja feita, o que ela expressou nada mais foi do que a doutrina tradicional da política externa brasileira em defesa da paz e da solução negociada dos conflitos. Ninguém falou em negociar com o EI, mas, para contê-lo, seria importante convencer diplomaticamente países como Qatar e Arábia Saudita a suspender o apoio aos terroristas e construir uma coalizão regional, incluindo o Irã e outros países, para fortalecer a sociedade civil da região. Não há garantias de que os bombardeios efetuados na Síria não se voltem contra o governo do país a qualquer momento, uma vez os EUA vêm apoiando a oposição síria com dinheiro e armas quase desde o início da guerra civil, em 2012, recursos estes que contribuíram para o fortalecimento de grupos fundamentalistas como o Al Nusra, ligado à Al Qaeda, e o surgimento do EI.
Portanto, a presidenta nada mais fez do que expressar a continuidade das diretrizes da política externa ativa e altiva inaugurada em 2003 e chamar atençaos para o fato de que demonstrar que as ações armadas promovidas pelos Estados Unidos e seus aliados europeus no Oriente Médio somente têm tornado a região mais insegura, com danos irreparáveis aos direitos humanos e ao desenvolvimento dos países da região.
A presidenta Dilma cumpriu esse ritual durante seu mandato. Nesses quatro anos, vários temas marcaram seus discursos, como o informe sobre o desenvolvimento do Brasil e as transformações sociais implementadas pelo governo; as denúncias do "tsunami" financeiro promovido pelas grandes potências para reduzir o alcance de sua crise econômica, mesmo prejudicando a estabilidade monetária de muitos países; a denúncia da espionagem americana e a necessidade da regulação internacional da internet; a premência da reforma das instituições internacionais como as financeiras e a própria ONU; o apoio para a Palestina tornar-se membro pleno da ONU e ter suas fronteiras reconhecidas com base na situação geográfica de 1967; a tese da responsabilidade ao proteger, quando questionou os ataques dos EUA e da União Europeia contra a Líbia; e a defesa da solução pacífica para os conflitos do Oriente Médio.
Em 2014, os pontos altos do discurso foi novamente o informe da situação econômica e social do Brasil, acrescido dos dados do relatório recente da FAO segundo os quais o país saiu do "mapa da fome" graças à implementação de políticas sociais eficazes desde 2003. Também chamou a atenção para a necessidade de combater todo tipo de preconceito e discriminação e criticou os atuais bombardeios americanos no Iraque e na Síria sob a justificativa de contenção do Estado Islâmico (EI) e defendeu negociações diplomáticas como a solução mais adequada para combatê-lo.
A distorção dessa posição pela imprensa brasileira e por alguns diplomatas aposentados não demorou, sob a afirmação de que a presidenta Dilma teria proposto negociar com terroristas. No entanto, justiça seja feita, o que ela expressou nada mais foi do que a doutrina tradicional da política externa brasileira em defesa da paz e da solução negociada dos conflitos. Ninguém falou em negociar com o EI, mas, para contê-lo, seria importante convencer diplomaticamente países como Qatar e Arábia Saudita a suspender o apoio aos terroristas e construir uma coalizão regional, incluindo o Irã e outros países, para fortalecer a sociedade civil da região. Não há garantias de que os bombardeios efetuados na Síria não se voltem contra o governo do país a qualquer momento, uma vez os EUA vêm apoiando a oposição síria com dinheiro e armas quase desde o início da guerra civil, em 2012, recursos estes que contribuíram para o fortalecimento de grupos fundamentalistas como o Al Nusra, ligado à Al Qaeda, e o surgimento do EI.
Portanto, a presidenta nada mais fez do que expressar a continuidade das diretrizes da política externa ativa e altiva inaugurada em 2003 e chamar atençaos para o fato de que demonstrar que as ações armadas promovidas pelos Estados Unidos e seus aliados europeus no Oriente Médio somente têm tornado a região mais insegura, com danos irreparáveis aos direitos humanos e ao desenvolvimento dos países da região.
- Kjeld Jakobsen é diretor da Fundação Perseu Abramo
Teoria e Debate, Edição 129, 08 outubro 2014
https://www.alainet.org/pt/active/77857
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