Venezuela e a missão Mercosul
13/10/2012
- Opinión
A instabilidade política no Palacio de Los López, que culminou na suspensão temporária do Paraguai de dois dos principais mecanismos de integração sul-americanos até as eleições presidenciais paraguaias em abril de 2013, não foi somente um sopro de mau hálito. Talvez o único ponto positivo seja a decisão unânime (e retaliadora) de Argentina, Brasil e Uruguai que incorporou a Venezuela no final de julho de 2012 ao Mercado Comum do Sul (MERCOSUL).
O Parlamento paraguaio não esperava torcer o pé numa pisada em terreno desconhecido e de que o presidente ilegítimo Federico Franco ainda tenta recuperar-se com sessões de fisioterapia executiva. Enquanto a elite paraguaia trama contra o povo daquele país, projetos florescem alhures do MERCOSUL.
Chávez venceu as eleições na Venezuela com 54,4% dos votos num processo eleitoral elogiado mundialmente - um dos motivos é a baixa abstenção do eleitorado e a credibilidade de seu Consejo Nacional Electoral - e logo propôs a Missão MERCOSUL para promover aquele país no bloco. O objetivo da Missão é estimular "ejes de desarrollo a lo largo del país", segundo a Agencia Venezolana de Noticias ("Gobierno nacional lanzará Misión Mercosur", 10/10/2012).
A Missão MERCOSUL contém um plano de integração nacional através de ferrovias e outras obras infraestruturais que facilitem a incorporação venezuelana ao MERCOSUL - e reciprocamente o acesso dos outros países-membros à Venezuela - e o desenvolvimento de vários estados venezuelanos.
Um dos propósitos de Chávez é ligar áreas banhadas pelo extenso rio Orinoco ao Caribe mediante a construção de trilhos. Embora existam impedimentos naturais ao escoamento de mercadorias pela Amazônia - faço referência aqui à parte venezuelana e brasileira da Floresta Pluvial - o discurso de Chávez é acima de tudo um alento à integração nacional na Venezuela. Declarou Chávez que "Es Mercosur hacia el Caribe, y es Venezuela hacia el Amazonas, hacia el Río de la Plata; ¡es la potencia suramericana!" ("Presidente Chávez lanza la Misión Mercosur", Ministerio del Poder Popular para Relaciones Exteriores, 10/10/2012).
Porque o MERCOSUL é primeiramente uma integração econômica que visa a um mercado comum entre os países-membros, empresários venezuelanos temem que seus produtos tenham desvantagens competitivas em relação aos brasileiros. No entanto, estes empresários têm menos razão para preocupar-se porque Chávez propôs um plano de transferência de créditos para investir em tecnologia de empresas que tenham pouca competitividade. O ingresso da Venezuela ao MERCOSUL favorece empresas venezuelanas que farão seus produtos alcançar com menos tributos regiões meridionais do continente.
Chávez convoca segmentos amplos e carentes em recursos da Venezuela como poucos outros líderes contemporâneos na América Latina. Não é à toa que governa desde 1999 em regime democrático. Em vez de limitar o acesso da população aos benefícios da integração regional - como se apressam em fazer os governantes conservadores -, Chávez fortalece a base popular de seu país na direção do projeto de transformar a Venezuela numa potência através da integração regional.
A Missão MERCOSUL é mais uma tentativa de levar os setores populares venezuelanos ao protagonismo nos avanços integracionistas que atravessam primeiramente a geração de rendas e a integração nacional. A Venezuela prepara-se para este mecanismo sul-americano de "Pátria Grande" assim como os demais membros têm-no feito desde o início da década de 1990.
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