O que vai fazer o Brasil no Haiti?

11/03/2004
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O Brasil já fez uma experiência similar, na República Dominicana,, durante a ditadura militar, em 1965. Tropas brasileiras, dirigidas pelo general Meira Mattos, participaram, junto com as norte-americanas, na invasão daquele país, como parte de um golpe militar que derrubou o presidente eleito, Juan Bosch. Foi um capítulo vergonhoso na história do país. Agora o Brasil se apresta a mandar tropas ao Haiti. O que o Brasil vai fazer lá? Pode ser que não saibamos muito bem, mas os EUA sabem. Sua estratégia atual tem nesse tipo de ação no exterior, tutelando a países que considera que não têm condições de se auto-governar. Justifica assim a necessidade de uma força imperial, se possível dividindo responsabilidades com outros paises. O governo de Aristide no Haiti não é igual ao de Bosch, na República Dominicana. Reposto no governo por Washington, ele sae revelou ser distinto do padre da teologia da libertação, que havia galvanizado o apoio popular contra a ditadura de Papa e Baby Doc. Governou de forma ditatorial, com corrupção e fraude eleitoral, repressão contra os movimentos sociais e as forças democráticas que o haviam apoiado. Acabou criando uma guarda similar às da ditadura, até que um setor dessas bandas passou a se opor a ele e, aliados a forças remanescentes da época da ditadura, catalizaram o descontentamento popular contra o governo de Aristide – em meio à deterioração econômica e social, acentuada pela suspensão das ajudas externas, pelas eleições fraudadas – e criaram a situação que acabou levando à sua derrubada. Com o pretexto de evitar um banho de sangue, tropas francesas e norte-americanas desembarcaram no Haiti, Aristide foi levado para fora do país e um governo provisório foi instalado. Tropas dos EUA se encarregam da ordem interna e já mataram a dois haitianos. Fala-se em eleições só daqui a dois anos. Em suma, se está tirando dos haitianos o direito de decidir sobre os seus próprios destinos, seja que Aristide tenha renunciado, tenha sido seqüestrado ou teria sido de qualquer forma derrubado por forças ligadas à anterior. O Brasil não pode e não deve participar de um contingente de tropas que não tem mandato claro, com prazos definidos, subordinado a uma comissão de representantes das organizações democráticas. O Brasil pode até desejar isso e acreditar que, presidindo o contingente, possa zelar por esses interesses democráticos, mas a presença prévia das tropas dos EUA e da França, sua inequívoca superioridade militar, a capacidade de ação política que têm e principalmente os antecedentes de intervenções do governo norte-americano, especialmente durante o período Bush, recomendam que o Brasil não entre nessa aventura. E que, ao contrário, ajam em todos os organismos regionais, continentais e internacionais, para que seja entregue no mais breve prazo possível, a decisão sobre os destinos futuros do Haiti. O papel dos outros paises e dos organismos internacionais é o de apoiar o povo haitiano e não substitui-lo, menos ainda mediante uma ocupação militar.
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