O problema "Wall Street" do Brasil
07/09/2011
- Opinión
A economia brasileira está crescendo lentamente, no entanto, o governo está reduzindo seus gastos para aumentar o superávit primário, algo que pode desacelerar a economia ainda mais. A produção industrial caiu 1,6% em junho e a atividade econômica caiu pela primeira vez desde 2008.
Ainda que as cifras mensais sejam erráticas e não indiquem necessariamente qualquer tendência, o quadro maior provoca perguntas sobre se a política seguida pelo governo é apropriada, ante os crescentes riscos e ventos contrários da economia global. Não quero ser mal interpretado. A política e os resultados econômicos do Brasil desde que Lula foi eleito em, 2002, tiveram uma imensa melhora em relação ao governo Fernando Henrique Cardoso. Este, que foi objeto de grande amor e afeto por parte de Washington, presidiu sobre um fracasso econômico. A economia cresceu menos de 3,5% per capita durante seus oito anos. A performance de Lula foi imensamente melhor, com crescimento per capita de 23,5%, com um aumento real de 60% no salário mínimo e reduções consideráveis no desemprego e na pobreza. De fato, não existe comparação. É provável que o mandato de Dilma tenha resultados ainda melhores.
Mas o Brasil tem um problema estrutural que é similar a um dos maiores problemas que temos nos EUA: o setor financeiro é demasiado grande e tem um poder excessivo. Como esse setor não tem muito interesse no crescimento e desenvolvimento – está muito mais obcecado por seus próprios lucros e por minimizar a inflação – seu controle sobre o Banco Central e a política macroeconômica impede o Brasil de realizar seu potencial. E o potencial do país é imenso: entre 1960-1980, a economia brasileira cresceu 123% per capita. Se o Brasil tivesse mantido esse ritmo de crescimento, os brasileiros hoje teriam padrões de vida europeus.
A inflação no Brasil está baixa no momento. Nos últimos três meses foi de 4% anual, contra 7% do ano passado. Deixando de lado os interesses mesquinhos do setor financeiro, não existem razões para sacrificar crescimento ou emprego para reduzir a inflação. O setor financeiro é também o maior vilão que está por trás da sobrevalorização do real, que está prejudicando a indústria e o setor manufatureiro brasileiro. O Banco Central combate a inflação, elevando o valor do real e, com isso, barateando as importações. Mesmo quando o governo tenta empurrar o real para baixo, para um nível mais competitivo, o negócio do setor financeiro com vários derivativos o impede. Entre os anos 2002 e 2011, a Argentina cresceu 90%, o Peru 77% e o Brasil 43%. Não há razão pela qual o Brasil não possa ter uma das economias com o crescimento mais rápido da região ou mesmo do mundo.
Nos últimos quatro anos, o setor financeiro cresceu cerca de 50%, três vezes mais do que o setor industrial. Hoje, os salários dos gerentes de alto nível estão mais altos no Brasil que nos Estados Unidos. Então, não é somente um enorme desperdício de recursos, é muito mais destrutivo ainda como consequência da influência política desse setor.
- Mark Weisbrot é Co-diretor, junto com Dean Baker, do Center for Economic and Policy Research, em Washington.
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer
Ainda que as cifras mensais sejam erráticas e não indiquem necessariamente qualquer tendência, o quadro maior provoca perguntas sobre se a política seguida pelo governo é apropriada, ante os crescentes riscos e ventos contrários da economia global. Não quero ser mal interpretado. A política e os resultados econômicos do Brasil desde que Lula foi eleito em, 2002, tiveram uma imensa melhora em relação ao governo Fernando Henrique Cardoso. Este, que foi objeto de grande amor e afeto por parte de Washington, presidiu sobre um fracasso econômico. A economia cresceu menos de 3,5% per capita durante seus oito anos. A performance de Lula foi imensamente melhor, com crescimento per capita de 23,5%, com um aumento real de 60% no salário mínimo e reduções consideráveis no desemprego e na pobreza. De fato, não existe comparação. É provável que o mandato de Dilma tenha resultados ainda melhores.
Mas o Brasil tem um problema estrutural que é similar a um dos maiores problemas que temos nos EUA: o setor financeiro é demasiado grande e tem um poder excessivo. Como esse setor não tem muito interesse no crescimento e desenvolvimento – está muito mais obcecado por seus próprios lucros e por minimizar a inflação – seu controle sobre o Banco Central e a política macroeconômica impede o Brasil de realizar seu potencial. E o potencial do país é imenso: entre 1960-1980, a economia brasileira cresceu 123% per capita. Se o Brasil tivesse mantido esse ritmo de crescimento, os brasileiros hoje teriam padrões de vida europeus.
A inflação no Brasil está baixa no momento. Nos últimos três meses foi de 4% anual, contra 7% do ano passado. Deixando de lado os interesses mesquinhos do setor financeiro, não existem razões para sacrificar crescimento ou emprego para reduzir a inflação. O setor financeiro é também o maior vilão que está por trás da sobrevalorização do real, que está prejudicando a indústria e o setor manufatureiro brasileiro. O Banco Central combate a inflação, elevando o valor do real e, com isso, barateando as importações. Mesmo quando o governo tenta empurrar o real para baixo, para um nível mais competitivo, o negócio do setor financeiro com vários derivativos o impede. Entre os anos 2002 e 2011, a Argentina cresceu 90%, o Peru 77% e o Brasil 43%. Não há razão pela qual o Brasil não possa ter uma das economias com o crescimento mais rápido da região ou mesmo do mundo.
Nos últimos quatro anos, o setor financeiro cresceu cerca de 50%, três vezes mais do que o setor industrial. Hoje, os salários dos gerentes de alto nível estão mais altos no Brasil que nos Estados Unidos. Então, não é somente um enorme desperdício de recursos, é muito mais destrutivo ainda como consequência da influência política desse setor.
- Mark Weisbrot é Co-diretor, junto com Dean Baker, do Center for Economic and Policy Research, em Washington.
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer
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