Para Stedile, transgênicos causam problemas ambientais, de saúde e de soberania

17/05/2011
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Integrante da coordenação do Movimento Nacional dos Trabalhadores Sem Terra (MST), João Pedro Stédile aponta danos ambientais, de saúde pública e de soberania provocadas pelo cultivo de organismos geneticamente modificados. Em palestra na noite desta terça-feira (17), na sede do Sindicato dos Bancários, na capital paulista, ele atribuiu aos conglomerados multinacionais a responsabilidade pelos problemas.
 
Ele afirmou que há indícios de que o aumento do nível de chuva no Sudeste é consequência da substituição de áreas florestais na região da Amazônia Legal por vastas plantações de soja -- praticamente toda transgênica.
 
Na prática, por se tratar da variedade Roundup, patenteada pela Monsanto por ser alterada geneticamente para resistir a um herbicida desenvolvida pela divisão de agrotóxicos do mesmo conglomerado, todas as outras espécies -- daninhas ou não -- não sobrevivem. A extinção da biodiversidade altera o equilíbrio de chuvas.
 
"Esse desequilíbrio, nós sentimos em São Paulo e na Serra Fluminense", exemplificou. "Em função do desmatamento de floresta para plantar uma variedade única – de soja ou de pasto – permite que a chuva que cairia apenas lá, passaram a viajar para São Paulo e Rio de Janeiro. É o rio que viaja pela atmosfera", explica.
 
Em termos de saúde pública, um dos principais indicadores dos riscos advém de um estudo publicado por Vanderlei Pignatti, médico nutricionista e professor da Universidade Federal do Mato Grosso, acompanhou um grupo de mulheres por dez anos na cidade de Lucas de Rio Verde, a 350 quilômetros da capital.
 
Em estudo divulgado no início deste ano, ele constatou, pelo menos nos últimos dois anos, traços dos agrotóxicos aplicados na agricultura. "A mulher acumula o material e passa aquilo para o bebê dela, uma dose de veneno por dia", alerta Stédile.
 
Soberania
 
Stédile lembra que as sementes geneticamente modificadas de soja e de milho são capazes de contaminar outras plantações. O cultivo das variedades transgênicas implica pagamento de royalties às empresas que detêm a propriedade intelectual sobre os organismos. Ainda que parte dos agricultores tente resistir ao avanço dessa tecnologia, ele corre o risco de precisar pagar royalties por ter plantas contaminadas.
 
"O grau de contaminação entre áreas é muito grande na soja e no milho, alcançando um raio de oito quilômetros", afirmou Stédile. "O pólen das plantas na fazenda vizinha é levada pelo vento e o agricultor corre o risco de produzir soja transgênica sem querer. Com isso, humanidade corre o risco de só ter variedades transgênicas em 50 anos."
 
Protestos
 
Protestos e pressão sobre gerentes de supermercado são formas de aprofundar a luta por identificação de produtos que contenham sementes transgênicas em sua composição.
 
Para o ativista, vale até chamar a ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). "Tem que exigir a rotulagem, porque é lei, mas desrespeitada", sustenta. "Se tiver produto não rotulado, tem que cobrar o gerente do supermercado. Se precisar, chama a imprensa, o Samu, qualquer coisa para chamar a atenção", divertiu-se. "Se perguntarem quem vai ficar doente, pode responder que isso vai acontecer em breve com tanto transgênico. Ou então ameace dar um tapa no gerente da loja", brincou.
 
"Brigue com o gerente, porque é o primeiro que está na frente", explicou. "Para que ele (gerente) leve a reclamação adiante até chegar na Bunge (gigante do setor de alimentos)." Em casos em que não seja suficiente, ele sugeriu a denúncia ao Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), ao MInistério Público Federal e a outros órgãos públicos. As declarações foram feitas na noite desta terça-feira (17) em São Paulo. Ele participou de debate na sede do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região.
 
Ele lembrou sobre a exigência de que os rótulos de produtos que usem alimentos geneticamente modificados em sua composição contenham o alerta (um triângulo amarelo com uma letra "T" escrita em preto). "Foi um avanço, e faço um reconhecimento público ao ministro (da Justiça) Márcio Thomaz Bastos", admitiu.
 
A medida, tomada em dezembro de 2003, primeiro ano do mandato do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Stédile não perdoa outra medida adotada oito meses antes, em março daquele ano. "Lula, num dos maiores erros de sua gestão, aceitou as ameaças de que, se não legalizassem os transgênicos, o Rio Grande do Sul iria quebrar, e editou medida provisória liberando o cultivo da soja da Monsanto", critica.
 
- Anselmo Massad da Rede Brasil Atual
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