Lula/Bush – um alegre faz de conta
19/06/2003
- Opinión
Cada um faz o seu jogo real por seu lado. O Brasil acelera a
reconstrução do Mercosul, avança nas alianças com a Índia e a
África do Sul, intensifica seu comércio com a China, dá
continuidade aos acordos do Mercosul com a União Européia. Os
EUA fecham os acordos bilaterais de livre comércio com a
Uruguai, o Chile, a América Central, dá as garantias para os
aliados internos de que nenhuma concessão do mercado interno
será feita - até para garantir os votos indispensáveis à
reeleição de Bush e novembro de 2004. Mas o novo encontro de
Bush e Lula faz como se nada disso acontecesse, como se fosse
um casal em que as relações paralelas não fossem abordadas.
O principal tema da reunião deveria ser a versão final dos
acordos da Alca, que deveria, ser concluídos este ano, para
entrar em funcionamento em 2005. Os governos brasileiro e
norte-americano dividem atualmente o comando das negociações
e teriam a responsabilidade de entregar ao conjunto dos
governos a proposta final de acordos. Como estes estão muito
longe de restarem concluídos e como os dois governos estão na
verdade interessados em adiar o começa da Alca – por
conveniências mútuas -, se conversará um pouco sobre muitos
temas, sobre relações bilaterais em particular, como se a
comunidade do continente não estivesse esperando uma proposta
sobre a Alca.
Será uma conversa de protelação. O embaixador basileiro nos
EUA disse que as relações entre os dois governos nunca
estiveram tão boas. Ele deve estar querendo se referir àquele
tipo de relação conjugal que se mantêm porque os problemas
são empurrados para debaixo do tapete.
O melhor que pode acontecer neste encontro é não haver nenhum
tipo de conflito, de mal entendido, de gafe, que tudo
continua como antes, cada um tocando pra frente sua
acumulação de forças, adiando os conflitos e os
enfrentamentos para depois. Primeiro vêm as eleições norte-
americanas – prioridade essencial para o governo Bush, que
ajuda a protelar a Alca -, enquanto isso o Brasil trata de
fortalecer suas alianças próprias, deixando a batalha
decisiva sobre a Alca para 2005. Até lá, paz e amor, como se
tudo estivesse andando bem.
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