Em apoio à autonomia, uma multidão em verde e branco

30/04/2008
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Santa Cruz de la Sierra.- 

Idosos
, crianças, jovens, adultos. Casais, famílias, grupos de amigos. Brancos, mestiços, indígenas. Ricos, pobres, classe média. Quase todos vestidos com apenas duas cores. As camisetas, as blusas, os broches, os gorros, as faixas de cabelo são verdes e brancos, imitando os tons da bandeira do departamento de Santa Cruz. Melhor dizendo: reproduzindo as cores da campanha pela autonomia da região.

Milhares de pessoas em verde e branco compareceram, na quarta-feira (30), ao encerramento oficial da campanha pelo “sim” no referendo marcado para o domingo (4). Convocada pelo governador crucenho, Rubén Costas, e pelo presidente do Comitê Cívico local, a consulta –considerada ilegal pelo governo do presidente Evo Morales – busca ratificar e pôr em vigência o estatuto autonômico do departamento, elaborado em dezembro de 2007.

No caminho para a praça El Cristo, local da concentração, carros passam, bozinando, com bandeiras de Santa Cruz e com incrições pró-autonomia. Nas imediações do ato, um cenário de estádio de futebol em dia de jogo. Uma grande quantidade de gente vestindo as mesmas cores se dirigem a um só lugar.

Nas esquinas, em varais improvisados, vendedores penduram diversos tipos de camisetas pelo “sim”. Outros oferecem bandeiras verdes e brancas nos semáforos. Nas ruas que vão em direção ao palco montado embaixo de uma estátua de Jesus Cristo com os braços para o alto, ambulantes se embrenham na multidão na tentativa de garantir a renda para o feriado.

“Nação camba”

Antes do início do ato, diversos músicos locais se revezam para entreter os participantes. Cantam canções que reforçam a identidade crucenha e a luta por autonomia. Entoam gritos de guerra pelo “sim” no referendo, seguidos pelo público. Os manifestantes, por sua vez, empunham bandeiras de Santa Cruz com a inscrição “Democracia, autonomia, liberdade”. Em algumas camisetas, o lema “Que nada nem ninguém nos detenha”. Em outras, o mapa da “nação camba” (os oriundos do leste do país são conhecidos como cambas), com um traçado de um país imaginário formado pelo oriente e o norte boliviano.

Folhetos convocando o voto no “sim” são distribuídos. Neles, os motivos para fazê-lo são elencados: “Integraremos a todos, sem exclusões”, “Melhorará a saúde e a educação”, “Não será preciso ir a La Paz para os trâmites”, “Fortaleceremos nossos valores e costumes”, “A delinqüência será melhor combatida”, “Administraremos nossos recursos”, “Os indígenas e camponeses melhorarão suas formas de vida”, entre outros.

Após o hino boliviano, o ato oficial tem início. O presidente do Comitê Cívico de Santa Cruz, o produtor de soja Branko Marinkovic, toma a palavra. “Faltam quatro dias para o sonho da autonomia, para um novo amanhecer para toda a Bolívia”, exclama. Em seguida, ataca os governos Evo e Hugo Chávez, da Venezuela, a quem acusa de ingerência.

“O povo tem agüentado, por todo esse tempo, os ataques do centralismo e das forças estrangeiras. Ao senhor Chávez, quero dizer que a autonomia pertence ao povo, não à Venezuela, só a este povo. Demonstraremos que somos um povo unido, próspero e pacífico, que vota e decide por sua autonomia”, alerta Marinkovic, que contina seu discurso afirmando que o processo autonômico significa uma sociedade solidária, uma economia forte e um país sem pobreza.  

“Não temos medo”

Em seguida, é a vez do criador de gado e governador de Santa Cruz, Rubén Costas. “No dia 4 de maio, diremos um ´sim` à democracia, à liberdade, a nossa forma de ser. A autonomia tem razão histórica e é direito fundamental de sermos donos de nosso destino. É parte essencial de nossa liberdade”, diz, para depois ser ovacionado pelos presentes.

Logo depois, Costas ressalta que o processo autonômico não será usado em favorecimento da elite crucenha, como acusam o governo e movimentos sociais do país. “A autonomia não poderá ser jamais um instrumento de interesses mesquinhos. Nem ferramenta para concentrar riqueza e aumentar a desigualdade e o sofrimento do povo”.

Para finalizar, ataca o governo de Evo Morales. Lembrando o congelamento, no dia 24 de abril, das contas do governo departamental, por este ter se desconectado do sistema integrado de gestão, Costas qualificou o ato de terrorismo de Estado. “[Confiscaram] recursos que pertencem às crianças, aos idosos, aos jovens, aos homens e mulheres. Recursos que são produtos do trabalho e esforço de nosso povo”.

E conclui: “O projeto hegemônico e totalitário do governo do MAS [Movimiento al Socialismo, partido de Evo] destila todo seu ódio contra Santa Cruz. Querem nos destruir. Nos ameaçaram com uma guerra civil. Não temos medo!”. A multidão segue o exemplo e grita, várias vezes: “Não temos medo!”.

Frases do ato de encerramento da campanha pela autonomia

Rubén Costas, governador de Santa Cruz

“No dia 4 de maio, diremos um ´sim` à democracia, à liberdade, a nossa forma de ser. A autonomia tem razão histórica e é direito fundamental de sermos donos de nosso destino. É parte essencial de nossa liberdade”.

“Nossa luta é justa. O caminho correto para nosso povo e nosso país é esse. Para que o poder seja do povo e para que se construa um país forte e unido”.

“A autonomia não tem dono, não tem partido, não é propriedade de uma classe social. É de todos os bolivianos”.

“O sentimento autonomista aprendemos do homem e da mulher que trabalharam nessa terra, que deram sua vida por esse ideal”.

“A autonomia departamental não é um fim em si mesmo. É um sistema que permitirá melhorar a vida de nossa gente. Que permitirá um melhor controle social”.

“A autonomia não poderá ser jamais um instrumento de interesses mesquinhos. Nem ferramenta para concentrar riqueza e aumentar a desigualdade e o sofrimento do povo”.

“O projeto hegemônico e totalitário do governo do MAS destila todo seu ódio contra Santa Cruz. Querem nos destruir. Nos ameaçaram com uma guerra civil. Não temos medo!”

“Prentenderam usar contra nós a Igreja e os chamados movimentos sociais. Tiveram o cinismo de afirmarem à comunidade internacional que nosso movimento é separatista e violento. Não aceitaremos provocações. A razão e o direito estão do nosso lado”.

“Eles praticam o terrorismo de Estado, com o confisco de nossos recursos. Recursos que pertencem às crianças, aos idosos, aos jovens, aos homens e mulheres. Recursos que são produtos do trabalho e esforço de nosso povo”.

“Não se dão conta de que o poder é do povo, e não do Estado central. Em sua miopia totalitária, querem convencer as pessoas que o centralismo beneficia os departamentos. Mas o centralismos só serve para que, antes os neoliberais, e hoje os pintados de azul, apropriem-se dos recursos de todos”.

Branko Marinkovic, presidente do Comitê Cìvico de Santa Cruz

“Faltam quatro dias para o sonho da autonomia, para um novo amanhecer para toda a Bolívia”.

“O povo tem agüentado todo esse tempo, os ataques do centralismo e das forças estrangeiras”.

“O futuro chegou, está aqui e se chama autonomia”.

“Ao senhor Chávez, quero dizer que a autonomia pertence ao povo, não à Venezuela, só a este povo. Demonstraremos que somos um povo unido, próspero e pacífico, que vota e decide por sua autonomia”.

“Que votemos por um futuro melhor. Um voto pela unidade da pátria, por uma sociedade solidária, uma economia forte e um país melhor. Sonhamos com uma Bolívia sem pobreza. A autonomia éo sonho dos mais necessitados”.

“A democracia é a voz do povo. Dizemos isso ao governo do MAS e ao mundo inteiro. Mostraremos ao mundo que em Santa Cruz se está construindo o futuro para todos”.

“Queremos autonomia para derrotarmos o único inimigo da Bolívia: a pobreza”.


- Igor Ojeda é correspondente do Brasil de Fato em La Paz (Bolívia)

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