Laços de família, parte II
23/11/2001
- Opinión
Osama Bin Laden é formado em administração e economia pela King Abdul
Aziz University, da Arábia Saudita. Após a morte do pai em 1968, em
desastre de avião sobre os campos de petróleo da família Bush, no
Texas, Osama, então com 11 anos, ficou sob a tutela do príncipe Turki
al-Faisal al-Saud, que dirigiu os serviços de inteligência saudita de
1977 a agosto deste ano.
Em 1979, a pedido de George Bush, o pai, então diretor da CIA, o
tutor incumbiu Osama, já com 23 anos, de transferir-se para o
Afeganistão e administrar os recursos financeiros destinados às
operações secretas da agência contra a invasão soviética àquele país.
Preocupado com a ofensiva de Moscou, o governo dos EUA havia liberado
a mais alta soma que a CIA recebeu, em toda a sua história, para
atuar em um só país: US$ 2 bilhões.
Em 1994, quando já se tornara o inimigo público número 1 dos EUA e
perdera a nacionalidade saudita, Osama Bin Laden herdou cerca de
US$300 milhões. Era o que lhe correspondia no Saudi Bin Laden Group
(SBG), a holding mais importante da Arábia Saudita, que controla
imobiliárias, construtoras, editoras e empresas de telecomunicações.
Presidida por Bakr Bin Laden, irmão de Osama, o SBG criou, na Suíça,
uma empresa de investimentos, a Sico (Saudi Investment Company).
O SBG tem participação na General Electric, na Nortel Networks e na
Cadbury Schweppes. Suas finanças são administradas pelo Carlyle
Group, dos EUA. Além de deter o monopólio da construção civil em
Medina e Meca, lugares santos mulçumanos, o SBG ganhou a maioria das
licitações para a construção de bases militares americanas na Arábia
Saudita e a reconstrução do Kuwait depois da guerra do Golfo.
Os negócios da família Bin Laden são administrados também por um
cunhado de Osama, o xeque Khaled Salim Ben Mafhuz, dono da 251a.
fortuna do mundo, avaliada em US$1,9 bilhão, segundo a revista
Forbes. Seu pai fundou o principal banco saudita, o National
Comercial Bank, sócio da Sico em diversas empresas.
Khaled Ben Mafhuz, presidente da ONG saudita Blessed Relief, na qual
Osama trabalhava, investiu, nos anos 70, na companhia de petróleo de
George W. Bush, a Arbusto Energy. Possui uma mansão em Houston e,
graças à sua amizade com a família Bush, comprou uma área do
aeroporto local para uso pessoal. (Logo após os atentados, cerca de
150 Bin Laden residentes nos EUA foram reunidos naquele aeroporto, a
pedido da coroa saudita, e levados, por segurança, para o país de
origem).
Respeitado nos meios financeiros internacionais, Mafhuz esteve
envolvido no maior escândalo bancário dos anos 90, a quebra do BCCI
(Bank of Credit and Commerce Internacional). Através do BCCI, Mafhuz
comprou 11,5% das ações da Harken Energy Co., empresa petrolífera
dirigida por George W. Bush. Com a quebra do banco, a maioria dos
clientes passou ao Carlyle Group, fundo de investimentos criado em
1987, quatro anos antes da falência do BCCI, e que hoje controla
cerca de US$ 12 bilhões.
O Carlyle Group é presidido por Frank Carlucci, ex-diretor-adjunto da
CIA e ex-secretário de Defesa dos EUA. Um de seus principais
assessores é James Baker, ex-chefe de gabinete do presidente Reagan e
ex-secretário de Estado do presidente Geoge Bush, o pai. É o Carlyle
Group que administra a maior parte dos fundos do SBG, a holding dos
Bin Laden, e entre seus consultores figuram George Bush pai e John
Major, ex-primeiro-ministro da Inglaterra.
Quando o presidente George W. Bush, após 11 de setembro, enquadrou,
como crime anexo ao terrorismo o "aproveitamento ilícito de
informações privilegiadas", ele sabia do que estava falando. Tudo
indica que, graças a essas informações, Osama Bin Laden montou a sua
rede terrorista mundo afora, movimentando recursos através de
paraísos fiscais. Informações que, em boa parte, podem ter vindo dos
Bush, graças aos vínculos entre as duas famílias.
Talvez Freud pudesse explicar um detalhe das armas escolhidas pelos
terroristas de 11 de setembro: aviões. O pai e o irmão mais velho de
Osama Bin Laden morreram em acidentes aéreos, ambos nos EUA.
Laços de família, parte I
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