Chávez adverte EUA contra agressão à Bolívia
12/12/2006
- Opinión
No instante em que o governo Evo Morales passa pelo seu momento mais crítico – fomentado pelas oligarquias locais, sob os auspícios do governo estadunidense –, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, voltou a afirmar, diante de 45 mil bolivianos, que qualquer tentativa de golpe para tirar Morales do poder será recebida como declaração de guerra contra a Venezuela. Chávez chegou a insinuar o envio de um contingente cívico-militar à Bolívia caso as agressões ganhem maiores proporções.
“Eu já disse e volto a dizer, mesmo que me acusem do que quiserem. Não me importa. Digo ao povo boliviano, de dentro do meu coração, em nome do povo venezuelano. Se o império estadunidense, que é quem está por trás de todas essas jogadas desestabilizadoras conduzidas pelas oligarquias deste país (...) Se o império estadunidense e os seus aliados nesta terra se arremessarem contra o governo de Evo Morales, o governo e o povo venezuelanos não ficarão de braços cruzados. Aqui estaremos com vocês, resistindo à agressão imperialista. Aqui estaremos porque sentimos que é nossa responsabilidade”.
As palavras de Chávez, proferidas dia 9 durante o encerramento conjunto das Cumbres de Cochabamba (Social e oficial), servem de respaldo político-militar a Evo Morales – que tem enfrentado, nos últimos dias, um feroz ataque da direita boliviana às condições com as quais a Assembléia Constituinte vem aprovando as futuras leis do país. Além de uma proliferação de greves de fome, bloqueios de estradas e declarações de independência por parte de Departamentos (Estados) contrários ao seu governo.
“Vou lhes dizer algo sobre o que alguns setores da Bolívia estão fazendo, chamando bloqueios, greves de fome, tratando de esquentar o clima político. Do fundo do meu modesto ponto de vista, já disse isso a Evo, a estratégia é idêntica àquela que seguiram na Venezuela os oligarcas que governaram a Venezuela durante muito tempo, e entregaram a nossa pátria ao poder do império estadunidense. A oligarquia mais rancorosa, de extrema-direita, não tem pátria, não tem sentimento, e muitas vezes, prefere incendiar a pátria para evitar as mudanças necessárias que os povos clamam”, alertou Chávez.
Ao sugerir que alguns militares bolivianos possam vir a cair em tentação de bancar um golpe incentivado pela direita, Chávez continuou: “Que o povo da Bolívia não permita que ocorra aqui algo parecido com o que aconteceu na Venezuela, nos anos 2001 e 2002. Falo aos militares da Bolívia de dentro do meu coração de soldado bolivariano, de soldado do povo. Que os soldados da Bolívia não se esqueçam daquilo que Simón Bolívar disse um dia: ‘Maldito seja o soldado que volta a sua arma contra o povo’. Os soldados verdadeiros devemos estar com nossas armas ao lado do povo, sempre ao lado do povo. Já não é mais possível que o império estadunidense e seus lacaios na nossa América utilizem, como utilizaram, os soldados muitas vezes para atropelar o povo, para massacrarem o seu próprio povo”.
Presidente Constitucional
Durante seu discurso, Chávez fazia questão de lembrar a todo instante que Morales era o presidente constitucional da Bolívia, respaldado por um mandato do povo, como se preparasse os bolivianos para entender o que pode estar a caminho. “Bolívia deve dar-se conta de que Evo Morales, irmão humilde e grande, líder incansável deste povo, está ali como presidente como produto de uma circunstância histórica, como produto da quebra de um modelo político perverso e de um modelo econômico que jorra miséria à maioria desse povo heróico de Bolívia. Por isso, Evo está aqui [como presidente]. Porque ele se converteu na esperança da nova Bolívia. Ele é o capitão do barco”.
Para sustentar a sua “ajuda” à Bolívia em caso de intervenção velada por parte dos EUA, Chávez fez menção à idéia da Pátria Grande: Uma só é a nação de todos nós. Uma só é a nossa pátria: a Pátria Grande de nossa América. Somos da mesma pátria. Não somos várias nações. Faço esta reflexão para dizer que o esforço que está fazendo Evo Morales à frente da maioria do povo da Bolívia conta e contará sempre com o maior respaldo e apoio do povo venezuelano, da Revolução Bolivariana e do governo revolucionário da Venezuela. Só unidos, seremos livres”.
Sobre a Cumbre Social pela Integração dos Povos ter acontecido paralelamente à Cumbre oficial dos presidentes da América do Sul, o mandatário venezuelano disse ter sido o encontro de extrema importância. “Não haverá integração da América do Sul se não se incorporar os povos. Qualquer outro esquema é mentiroso e terminaria fracassando. Os povos são a alma, os nervos e os músculos de qualquer esforço sério de integração. A cada dia, somos mais os presidentes que estamos convencidos desta máxima. Sem povo não há história, são os povos que fazem a história e sobretudo as mudanças históricas não dependem de personalidades sobre-humanas, destinadas ou esclarecidas. Não. São os povos, os movimentos sociais, as organizações populares que fazem as grandes mudanças”.
Diabaria em alta
Chávez ainda comentou que a cada dia sente-se mais acompanhado nestas Cumbres de presidentes. “O que se via antes era um canto ao neoliberalismo. Um canto geral ao Consenso de Washington, uma rendição coletiva e uma total desconexão com a realidade e com o grande clamor de justiça dos nossos povos. Hoje, o mapa político de nossa América está mudando”, disse.
Lembrou de um bilhete que o presidente cubano Fidel Castro lhe passou durante uma Cumbre de presidentes em 1999, no qual estava escrito: “Chávez, sinto que já não sou o único diabo nestas Cumbres. Já somos dois diabos”. Para depois emendar, mandando um recado irônico ao cubano: “Fidel, já não somos dois diabos, a diabaria segue crescendo. A cada dia somos mais, aí está Evo Morales, Daniel Ortega, Rafael Correa, no Equador, o presidente brasileiro (...)”.
Ao citar Lula, Chávez o elogiou por “não ter cedido à chantagem da direita brasileira, através de ataques da imprensa oligárquica, para que ele voltasse atrás em sua posição de defender que a Bolívia tinha feito bem em recuperar o manejo de suas reservas e recursos estratégicos”. Chávez disse ainda que horas antes, Lula lhe havia dito que quase chegaram a lhe pedir que o Brasil declarasse guerra à Bolívia.
Titanic
No final do discurso, Chávez mandou um recado aos movimentos sociais: “Humildemente, peço aos líderes de todos os movimentos sociais de nossa América, da Bolívia e de todos os nossos países que continuem ascendendo os motores da batalha social, da batalha de idéias, porque apenas está começando uma nova era na história do continente americano. Os povos despertaram. E quando os povos despertam, as portas da nova história começam a se abrir. A América Latina está entrando pela porta da nova história do século XXI. Construiremos uma nova América Latina”.
Sobre o futuro dos Estados Unidos, vaticinou: “Já afunda, assim como afundou o Titanic, a pretensão do império estadunidense de dominar o mundo. Quando caiu a União Soviética, de Washington cantavam vitória e lançaram a tese da globalização da hegemonia imperialista estadunidense. Pretenderam dominar o mundo através da manipulação, da agressão armada, mas fracassaram. Eu lhes asseguro que o camarada Mao Tsé-Tung segue tendo razão: ‘algum dia o império estadunidense será um tigre de papel e nós seremos tigres de aço.
- Marcelo Netto Rodrigues é jornalista de Brasil de Fato, enviado especial a Cochabamba, Bolívia.
“Eu já disse e volto a dizer, mesmo que me acusem do que quiserem. Não me importa. Digo ao povo boliviano, de dentro do meu coração, em nome do povo venezuelano. Se o império estadunidense, que é quem está por trás de todas essas jogadas desestabilizadoras conduzidas pelas oligarquias deste país (...) Se o império estadunidense e os seus aliados nesta terra se arremessarem contra o governo de Evo Morales, o governo e o povo venezuelanos não ficarão de braços cruzados. Aqui estaremos com vocês, resistindo à agressão imperialista. Aqui estaremos porque sentimos que é nossa responsabilidade”.
As palavras de Chávez, proferidas dia 9 durante o encerramento conjunto das Cumbres de Cochabamba (Social e oficial), servem de respaldo político-militar a Evo Morales – que tem enfrentado, nos últimos dias, um feroz ataque da direita boliviana às condições com as quais a Assembléia Constituinte vem aprovando as futuras leis do país. Além de uma proliferação de greves de fome, bloqueios de estradas e declarações de independência por parte de Departamentos (Estados) contrários ao seu governo.
“Vou lhes dizer algo sobre o que alguns setores da Bolívia estão fazendo, chamando bloqueios, greves de fome, tratando de esquentar o clima político. Do fundo do meu modesto ponto de vista, já disse isso a Evo, a estratégia é idêntica àquela que seguiram na Venezuela os oligarcas que governaram a Venezuela durante muito tempo, e entregaram a nossa pátria ao poder do império estadunidense. A oligarquia mais rancorosa, de extrema-direita, não tem pátria, não tem sentimento, e muitas vezes, prefere incendiar a pátria para evitar as mudanças necessárias que os povos clamam”, alertou Chávez.
Ao sugerir que alguns militares bolivianos possam vir a cair em tentação de bancar um golpe incentivado pela direita, Chávez continuou: “Que o povo da Bolívia não permita que ocorra aqui algo parecido com o que aconteceu na Venezuela, nos anos 2001 e 2002. Falo aos militares da Bolívia de dentro do meu coração de soldado bolivariano, de soldado do povo. Que os soldados da Bolívia não se esqueçam daquilo que Simón Bolívar disse um dia: ‘Maldito seja o soldado que volta a sua arma contra o povo’. Os soldados verdadeiros devemos estar com nossas armas ao lado do povo, sempre ao lado do povo. Já não é mais possível que o império estadunidense e seus lacaios na nossa América utilizem, como utilizaram, os soldados muitas vezes para atropelar o povo, para massacrarem o seu próprio povo”.
Presidente Constitucional
Durante seu discurso, Chávez fazia questão de lembrar a todo instante que Morales era o presidente constitucional da Bolívia, respaldado por um mandato do povo, como se preparasse os bolivianos para entender o que pode estar a caminho. “Bolívia deve dar-se conta de que Evo Morales, irmão humilde e grande, líder incansável deste povo, está ali como presidente como produto de uma circunstância histórica, como produto da quebra de um modelo político perverso e de um modelo econômico que jorra miséria à maioria desse povo heróico de Bolívia. Por isso, Evo está aqui [como presidente]. Porque ele se converteu na esperança da nova Bolívia. Ele é o capitão do barco”.
Para sustentar a sua “ajuda” à Bolívia em caso de intervenção velada por parte dos EUA, Chávez fez menção à idéia da Pátria Grande: Uma só é a nação de todos nós. Uma só é a nossa pátria: a Pátria Grande de nossa América. Somos da mesma pátria. Não somos várias nações. Faço esta reflexão para dizer que o esforço que está fazendo Evo Morales à frente da maioria do povo da Bolívia conta e contará sempre com o maior respaldo e apoio do povo venezuelano, da Revolução Bolivariana e do governo revolucionário da Venezuela. Só unidos, seremos livres”.
Sobre a Cumbre Social pela Integração dos Povos ter acontecido paralelamente à Cumbre oficial dos presidentes da América do Sul, o mandatário venezuelano disse ter sido o encontro de extrema importância. “Não haverá integração da América do Sul se não se incorporar os povos. Qualquer outro esquema é mentiroso e terminaria fracassando. Os povos são a alma, os nervos e os músculos de qualquer esforço sério de integração. A cada dia, somos mais os presidentes que estamos convencidos desta máxima. Sem povo não há história, são os povos que fazem a história e sobretudo as mudanças históricas não dependem de personalidades sobre-humanas, destinadas ou esclarecidas. Não. São os povos, os movimentos sociais, as organizações populares que fazem as grandes mudanças”.
Diabaria em alta
Chávez ainda comentou que a cada dia sente-se mais acompanhado nestas Cumbres de presidentes. “O que se via antes era um canto ao neoliberalismo. Um canto geral ao Consenso de Washington, uma rendição coletiva e uma total desconexão com a realidade e com o grande clamor de justiça dos nossos povos. Hoje, o mapa político de nossa América está mudando”, disse.
Lembrou de um bilhete que o presidente cubano Fidel Castro lhe passou durante uma Cumbre de presidentes em 1999, no qual estava escrito: “Chávez, sinto que já não sou o único diabo nestas Cumbres. Já somos dois diabos”. Para depois emendar, mandando um recado irônico ao cubano: “Fidel, já não somos dois diabos, a diabaria segue crescendo. A cada dia somos mais, aí está Evo Morales, Daniel Ortega, Rafael Correa, no Equador, o presidente brasileiro (...)”.
Ao citar Lula, Chávez o elogiou por “não ter cedido à chantagem da direita brasileira, através de ataques da imprensa oligárquica, para que ele voltasse atrás em sua posição de defender que a Bolívia tinha feito bem em recuperar o manejo de suas reservas e recursos estratégicos”. Chávez disse ainda que horas antes, Lula lhe havia dito que quase chegaram a lhe pedir que o Brasil declarasse guerra à Bolívia.
Titanic
No final do discurso, Chávez mandou um recado aos movimentos sociais: “Humildemente, peço aos líderes de todos os movimentos sociais de nossa América, da Bolívia e de todos os nossos países que continuem ascendendo os motores da batalha social, da batalha de idéias, porque apenas está começando uma nova era na história do continente americano. Os povos despertaram. E quando os povos despertam, as portas da nova história começam a se abrir. A América Latina está entrando pela porta da nova história do século XXI. Construiremos uma nova América Latina”.
Sobre o futuro dos Estados Unidos, vaticinou: “Já afunda, assim como afundou o Titanic, a pretensão do império estadunidense de dominar o mundo. Quando caiu a União Soviética, de Washington cantavam vitória e lançaram a tese da globalização da hegemonia imperialista estadunidense. Pretenderam dominar o mundo através da manipulação, da agressão armada, mas fracassaram. Eu lhes asseguro que o camarada Mao Tsé-Tung segue tendo razão: ‘algum dia o império estadunidense será um tigre de papel e nós seremos tigres de aço.
- Marcelo Netto Rodrigues é jornalista de Brasil de Fato, enviado especial a Cochabamba, Bolívia.
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