Lula: segundo turno, segunda possibilidade
04/10/2006
- Opinión
Vitima de seus próprios erros e da exploração terrorista feita pelos monopólios privados da mídia desses erros, Lula não conseguiu - pela falta de 1,4% -, os votos necessários para ganhar no primeiro turno. A reiteração de denuncias – desta vez de compra de um dossiê que efetivamente comprometia dirigentes da oposição, mas que a mídia conseguiu desviar para acusações sobre a forma de obtenção, a compra, exibindo reiteradamente fotos do que seriam os dólares para essa compra, mas abandonando o conteúdo das acusações -, repetidas pelos três candidatos opositores – Alckmin, da direita tradicional, Heloisa Helena, da ultra-esquerda e Cristovam Buarque, supostamente nacionalista -, criaram um clima que gerou a perda de apoios em setores da classe média do centro-sul e levaram aos segundo turno.
O resultado revela uma impressionante divisão do país em termos sociais e regionais. No nordeste – pobre -, principal beneficiário das políticas sociais do governo, Lula chegou a ter mais de 70% de apoio, enquanto que no sul, com peso forte da classe média, ficou na casa dos 30%.
Fator determinante – como tem passado em todas as eleições latino-americanas – tem desempenhado o monopólio privado da mídia, o verdadeiro partido da direita. No Brasil, ao contrário de outros países, o cerco é total: não há nenhum órgão diário e apenas um – menor – semanal, que não esteja integrado ao bloco totalitário da mídia privada. Quatro famílias – Frias (proprietária de Folha de São Paulo), Mesquita (de O Estado de São Paulo), Civita (da revista Veja) e Marinho (da Rede Globo de televisão e imprensa escrita) – controlam o mercado da mídia e atuam como agente terrorista contra Lula.
Puderam contar – como mencionado – com uma candidata da ultra-esquerda e um nacionalista, ambos com generosos espaços na mídia, que aproveitaram para criticar a Lula, poupando à direita. Formou-se assim um sólido, embora heterogêneo, bloco anti-Lula, que conseguiu levar as eleições para o segundo turno.
Este se deveu também às debilidades da campanha do PT. O partido, golpeado pelas denuncias, pelas crises internas, teve um baixo perfil na campanha, sem capacidade de mobilização da militância. A campanha de Lula esteve centrada na eficácia de suas políticas sociais. Nem sequer um discurso que desse consistência política e ideológica a essas políticas, recordando como o Brasil é o país mais injusto do mundo, de pior distribuição de renda, em que o centro fundamental dos governos deve ser o da luta contra a injustiça social, a desigualdade, a exclusão social.
Além disso, o governo Lula arrasta sua debilidade estrutural: não saiu do modelo neoliberal. Com isso, avançou pouco na reforma agrária, não teve políticas de saúde pública significativas, além de promover os trangênicos, reprimir ao invés de incentivar as rádios comunitárias, dar peso aos softwares alternativos, entre outras debilidades. Fatores que não mobilizaram os movimentos sociais a seu favor e não puderam contar senão com os votos deles, mas pouca campanha eleitoral.
A polarização para o segundo turno é ainda mais clara, porque só restam o candidato do bloco de direita e o do bloco da esquerda. Está em jogo o destino futuro do Brasil e, de alguma forma, da América Latina. A reeleição de Lula, além de permitir a continuidade das políticas sociais atuais, possibilitará a saída do modelo econômico, para o que existe o indicio de que o principal responsável por essa política – Antonio Palocci – foi substituído por um ministro crítico dela – Guido Mantega.
Mas sobre tudo a reeleição de Lula, em uma América Latina que agora conta com mais governos progressistas, possibilitará a consolidação dos projetos de integração regional. Em compensação, caso chegue a triunfar Geraldo Alckmin, o Brasil voltará a assumir uma posição de aliado privilegiado dos EUA na área. O Mercosul, a Comunidade Sul Americana de Nações, o Grupo dos 20, a política de privilégio das relações Sul/Sul serão substituídos pela Alca, os tratados de livre comércio, a relação privilegiada com Washington. Um novo governo brasileiro trabalhará para o isolamento da Bolívia, da Venezuela, de Cuba, da Alba e até mesmo da Argentina de Kirchner.
Os brasileiros não têm consciência da opção transcendental que estão fazendo. A polarização interna, a projeção da imagem dos candidatos, a relativa despolitização que o governo Lula produziu, a feroz ofensiva midiática da direita – tudo leva à falta de consciência de que o destino do país – com suas projeções internacionais – se decide no próximo dia 29.
Cabe à esquerda promover essa consciência, tanto para dar a verdadeira projeção da escolha eleitoral, quanto para ajudar a restituir ao voto o poder que ele deve ter. Disseminar a consciência que o embate do segundo turno é da esquerda contra a direita. E depois lutar para imprimir uma identidade claramente de esquerda ao governo Lula, para que o lema da campanha ganhe carne e sangue no segundo mandato: “Lula de novo, com a força do povo”.
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