Heloísa Helena: suíte e fuga

02/10/2006
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Conhecido o resultado do primeiro turno da eleição para a presidência da República, a candidata senadora Heloísa Helena declarou de imediato pela imprensa que não apoiará ninguém no segundo turno. Conforme ela, numa seqüência coerente com seu comportamento verborrágico espalhafatoso e adjetivoso durante as eleições, ''seria uma desmoralização para o PSOL rasgar doze anos de história de resistência, de confronto político contra o projeto neoliberal representado pelo PSDB e de confronto com a gangue partidária em que se transformou o Governo Lula''. Os doze anos aí se referem, provavelmente, ao tempo em que alguns dos seus líderes militantes estariam nesta resistência, já que o partido tem apenas pouco mais de dois anos de fundado. É verdade que ela liberou sua base de apoio para votar conforme sua consciência. Mas eleitor não é gado, não tem dono, portanto esta sua atitude é puramente formal. Na verdade, HH teria três alternativas neste segundo tempo da disputa presidencial. A primeira seria proclamar seu apoio – com restrições e/ou condicionalidades, obviamente – a Lula. Mas esta saída está inviabilizada, depois que ela passou toda a campanha a literalmente esculhambar, em linguagem indigna de uma candidata a presidente de uma república do porte da brasileira, a candidatura do atual presidente, tomando-o como alvo preferencial de tiro. Soaria como recuo oportunista, para “ficar bem com o povão”, além de trombar com o espírito sectário da maioria da sua base de apoio. A segunda seria declarar seu apoio a Geraldo Alckmin. Neste caso, cometeria suicídio político na medida em que revelaria como consciente seu papel de “laranja”, ou seja, de linha auxiliar do candidato tucano durante toda a campanha, quando praticamente não o atacou e nunca fez uma apreciação das raízes da sua candidatura, das suas vinculações políticas e econômicas, da sua orientação ideológica, além de incorporar-se organizadamente na sua estratégia geral de combate, assumindo uma frente “suja” – a da desconstrução pela baixaria da imagem do presidente – que ao tucano não interessava assumir. No máximo, ela chamou-o de neoliberal, um rótulo light, de baixo impacto, se considerarmos o teor dos seus pronunciamentos relativos a Lula. Quando resolvia fazer alguma crítica ao neoliberalismo, endereçava-a ao ex-presidente Fernando Henrique, jornal de anteontem já devidamente amassado e lançado ao lixo pela esmagadora maioria do eleitorado. Restou a Heloísa Helena a suíte lógica do seu comportamento anterior, uma terceira opção, a fuga para os bastidores, deixando atrás de si o incêndio ateado, lavando as mãos na bacia da omissão (logo ela, tão religiosa!), optando pela irresponsabilidade frente ao que virá a acontecer daqui para a frente não somente às forças políticas em confronto, mas também ao povo e à nação brasileira. Se ganha Alckmin, entraremos num tempo de revanche neoliberal. Talvez pior que a era FHC, já que os tucanos e pefelistas virão com sede de vingança e sanha de retomada do tempo perdido. Ela sabe disto, com a experiência política de que desfruta. Pesquisa recente detectou que 95% das elites empresariais, nacionais e estrangeiras, apóiam Alckmin. Seria a volta por cima da plutocracia. Sobrevirão a renúncia a qualquer projeto de nação soberana, a submissão aos interesses da política externa do império norte-americano, o torpedeamento do Mercosul, a retomada das articulações pró-Alca ou a firmação de um tratado bilateral de livre comércio com os EUA, a confrontação com a concertação solidarista da comunidade sulamericana de nações, implicando no distanciamento e sabotagem dos governos progressistas da região, como os de Evo Morales (Bolívia), Hugo Chávez (Venezuela) e Nestor Kirchner (Argentina). Serão retomadas as privatizações a preços de banana das grandes empresas públicas, entrando na alça de mira imediatamente a Petrobrás, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica. Retornarão os déficits na balança comercial internacional. A Justiça e a legislação trabalhistas serão extintas. Será desregulamentado o mercado de trabalho, com o fim da jornada de trabalho de oito horas diárias, do salário mínimo, do décimo-terceiro salário, das férias remuneradas de 30 dias, etc. O Estado será enfraquecido e enxugado, com a volta das demissões em massa. Os episódios de corrupção dos donos do poder político e econômico serão ocultados, inclusive com ajuda de “engavetadores” oficiais de processos. As políticas sociais serão ainda mais sacrificadas em função dos interesses dos especuladores financeiros e terão reduzidos os espaços da participação do cidadão na sua formulação. Os movimentos sociais serão criminalizados. Etc., etc. Alckmin é um quadro representante dos interesses do grande capital financeiro e dos monopólios do capital internacional e nacional. Um homem ao seu serviço. Um governo seu seria uma tragédia nacional anunciada. O povo é quem mais pagaria o pato. Mas Heloísa Helena pouco está ligando. Ela não está nem aí! Bem comportada, já fez sua semeadura. - Hugo Cortez, Sociólogo/ Recife-PE
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