Reeleição de Lula e agora?

28/09/2006
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A vitória do Presidente Lula já no primeiro turno vem carregada de incertezas e interrogações. Como continuar? Qie tipo de governabilidade será possível? Grande parte da dubiedade se tributa à estupidez política e à irracionalidade estratégica de dirigentes do próprio PT. Certamente contando com a impunidade de seus companheiros antes acusados de corrupção, levaram avante a mesma estratégia imoral. Este escändalo faz com que o novo governo comece carente de credibilidade e enfraquecido eticamente. Pior ainda, anime a elite dominante –conservadora ou neo-liberal – a se rearticular ao redor de seus interesses privados, econômicos e sociais de costas ao interesse coletivo. Tal fato representa um retrocesso em nossa democracia que estava dando largos passos na linha republicana, quer dizer, na direção de políticas públicas e de inclusão social de novos sujeitos históricos antes mantidos ausentes. É notório que nossas alites políticas e conômicas se sentem incômodas com um operário na presidência. Elas fizeram a Independência e proclamaram a República sem o povo e até contra o povo. Nunca cultivaram uma relação orgânica com ele. Ao contrário, jamais o reconheceu e admirou, a não ser seu carnaval e sua música popular. De resto o tratou como Zé Ninguém, Jeca Tatu, zé povinho ignorante dos grotões, manipulável politicamente. Que agora alguém vindo deste "não-mundo" chegue ao poder central equivale a usurpação de um direito dos donos do poder. Farão tudo para inviabilizar seu governo e se puderem, apeá-lo de lá. O que disse o presidente do PFL:"Não vamos deixar o governo governar" revela uma mentalidade anti-povo. Ora, foi o povo que escolheu Lula para governar. Mas para ele povo é apenas um detalhe, não conta. Apesar destes percalços alguns pontos merecem ser enfatizados. Em primeiro lugar é imperioso que o governo estreite os laços com sua base real de susentação que são os movimentos sociais organizados e as grandes maiorias, das quais cerca de quarenta milhões, foram diretamente beneficiadas pelas políticas públicas. Elas têm consciência de que Lula é um deles. Votando em Lula fizeram um ato de confiança em si mesmas. Não o entregarão à sanha dos que querem prejudicá-lo. Elas dizem: ele é nosso e dos nossos. Em segundo lugar, importa aprofundar as políticas sociais e cercear a vontade do projeto macroeconômico de colonizar toda a política. Aqui cabe uma revisão da política econômica para que realmente seja o suporte das políticas públicas. Pelo menos, a discrepância entre a macroeconomia e o projeto político-social, no quadro do neo-liberalismo imperante global, seja realisticamente diminuida. Em terceiro lugar precisa-se de gestos simbólicos fundadores que confiram uma marca histórica ao governo Lula. Para mim são dois: uma profunda reforma política que dificulte o mais possível a corrupção, consolide partidos ideológicos, possibilite o controle social e que ligue essencialmente democracia com justiça social. O segundo seria uma reforma agrária como pacote fechado, ampla e integral que crie condições sociais e econômicas de tal envergadura que fixem as pessoas no campo e estimulem as das periferias das cidades a regressarem à terra e nela serem produtivas. Por fim, o governo deve despertar para a relevância estratégica da questão ambiental, pois o pais tem muito a colaborar na salvaguarda do sistema da vida e do Planeta. - Leonardo Boff é Teólogo.
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