Frente antiMercosul?
- Opinión
A estratégia conservadora contra o Mercosul se revelou nos dias prévios à Cúpula das Américas, em abril, no Panamá – e o fez sem nenhum pudor.
Foi quando a Câmara de Comércio Brasil Estados Unidos defendeu a recriação da Área de Livre Comércio para as Américas (Alca), tese apoiada por economistas ligados ao PSDB.
Dias depois, essa mesma entidade realizou um evento em Nova York em homenagem a FHC e Bill Clinton, no qual houve críticas à política externa de Lula e Dilma Rousseff, e também ao Mercosul.
Por sua parte, o semanário ultraliberal britânico The Economist lançou artigos recentes reiterando suas críticas ao Mercosul, por sua postura “protecionista”, em sintonia com o ponto de vista da CNN ao comentar a visita de Dilma ao México, em maio.
Não há dúvidas de que se trata de uma ofensiva para reverter o processo de integração regional que avança em várias frentes.
Um dos soldados dessa contraofensiva liberal é o ministro de Fazenda brasileiro, Joaquim Levy, que buscar levar o Brasil a ingressar formalmente à OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), grupo que reúne alguns dos países mais ricos do mundo.
Ex-funcionário do FMI, Levy alega que a participação brasileira na entidade favorecerá sua imagem perante as agências de risco, mas oculta o fato de que isso significaria ter que aceitar as pautas neoliberais da organização em matéria de investimentos e direitos de propriedade intelectual.
A propriedade intelectual é um dos temas que mais interessa aos representantes da União Europeia que negociam uma área de libre comércio com o Mercosul.
Através de um fortíssimo lobby empresarial, apoiado pela imprensa privada, se está trabalhando no Brasil para que o país adote uma posição mais agressiva a favor do acordo com a União Europeia – por exemplo, que o faça deixando de lado a “protecionista” Argentina.
O acordo com o Mercosul parece ser uma tábua de salvação para uma União Europeia em crise devido ao seu estancamento endêmico e aos programas de austeridade que alimentam uma crise de legitimidade observada na Grécia e na Espanha, e de forma crescente na Itália.
Quem trabalha claramente a favor do livre comércio com os europeus é o presidente uruguaio Tabaré Vázquez, sempre crítico do Mercosul.
Vázquez, que há duas semanas atrás foi recebido pela presidenta Dilma em Brasília, propõe uma fratura virtual do Mercosul, com Brasil e Uruguai assinando um acordo inicial com os europeus, e Argentina e Venezuela sendo incluídas posteriormente. Esta é exatamente a mesma proposta que as empresas do Velho Continente apresentaram.
Quando assumiu seu segundo mandato, em março, Vázquez retomou a posição que tinha em sua primeira gestão: a de ser o membro do Mercosul mais sintonizado com os Estados Unidos e a União Europeia.
- @DarioPignotti
09/06/2015
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