Arquitetos do destino

17/09/2014
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Ernesto Che Guevara defendeu em sua vida revolucionária que o homem deixa de ser escravo quan­do se converte em arquiteto do próprio destino, por isso não basta interpretar a natureza e a realida­de, mas é preciso transformá-las.
 
Supõe-se que ser arquitetos do destino é antes de tudo tomar nas mãos o poder de decidir sobre os passos a serem dados. Traçar pla­nos e realizá-los. Construir alter­nativas programadas e, acima de tudo, coordenar a própria razão, os sentimentos e os sentidos das práticas efetuadas pela afirmação do sujeito coletivo.
 
Por outro lado, não ser arqui­tetos do próprio destino significa continuar vivendo na condição de escravos, acorrentados pelos pró­prios limites que sufocam e intimi­dam as reações contra os senho­res que controlam a força e os sen­timentos dos juízos despolitizados. É deixar-se levar pelas situações conjunturais como se isto fosse a história possível de ser feita.
 
Ser arquitetos do destino é tor­nar-se consciente das responsa­bilidades históricas e provocar o surgimento de oportunidades pa­ra que se possa agarrá-las e de­senvolvê-las como tarefas perma­nentes. Para que as oportunida­des apareçam, como a água escon­dida no subsolo, é preciso cavar a terra e descobrir o veio que espera pela descoberta de quem tem sede. Portanto, para deixar de ser escra­vos é necessário reconhecer-se en­quanto tal, querer deixar de sê-lo e inventar meios para implementar esse querer. Os meios ou as táticas fazem parte da capacidade criativa que os sujeitos conscientemente e em luta desenvolvem nas conjun­turas adversas.
 
Os processos eleitorais das últi­mas décadas da história do Brasil, além de terem se despregado do conjunto dos princípios contes­tatórios e de classe, sufocaram as demais táticas e inibiram a reação popular contra o poder do Esta­do e do capital. Seguiram o cami­nho oposto da formulação coleti­va. Mais ainda, a política da tática eleitoral impôs uma rotina con­formista que tirou dos trabalha­dores o desejo de serem arquite­tos do próprio destino e passaram a sonhar com a cabeça de seus re­presentantes.
 
Dessa forma, a política deixou as ruas e se recolheu no interior dos lares, onde há guerra, na qual os marqueteiros são os comandantes e os eleitores espectadores que, de ora em quando, se arrependem de torcer pela destruição da trinchei­ra alheia e mudam de lado levan­do os números a suicidarem ou­tros números fazendo subir e des­cer as porcentagens nas pesqui­sas. Todos sabemos que programa eleitoral é como capítulo de nove­la, no dia seguinte ninguém lem­bra mais o que passou e o que fica é a afeição pelos personagens, por isto, com uma fantasia na cabeça cada cidadão vai às urnas decidir o final da disputa.
 
Opinamos que se há velha e no­va política, elas vêm montadas em velhos hábitos e novos vazios. Há candidatos que entram na disputa televisiva para divulgar ideias e não lhes dão tempo, por isto dizem as melhores velhas coisas, mas por terem se afastado das ruas, os per­sonagens não ganham a admi­ração do público; no entanto, há aqueles com mais tempo, mas sem ideias, que dizem tudo do mesmo; pintam o mundo com outras cores e inovam o vazio.
 
Como já não podemos viver sem novelas e sem eleições, elas são, no capitalismo, o suspiro da alma dos dominados, há de se retomar as ações que convertam os corpos escravizados em sujeitos do desti­no, com o propósito de forjar em si o projeto popular, no qual o poder pertence à coletividade e nele não haverá enganos, pois as palavras e as ações são expressões da mesma linguagem.
 
18/09/2014
 
https://www.alainet.org/es/node/103492

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