Subsídios para a análise do abastecimento de alimentos básicos no Brasil
05/02/2014
- Opinión
Considerações preliminares
Sob a ótica produtivista a ‘revolução agrícola’ ocorrida nos EUA principalmente a partir do início do século XX teve como um dos desdobramentos positivos a significativa redução do custo dos alimentos para a população americana. Nos dias atuais, enquanto nos EUA as despesas com alimentos participam com pouco mais de 10% dos orçamentos das famílias, no Brasil essas dispêndios representam, em média, mais de 20% da renda das famílias.
Com destaque para as desigualdades de renda, são vários os fatores políticos, econômicos e sociais que historicamente explicam essa realidade no Brasil. Contudo, no plano da oferta suponho, entre os determinantes originários, os efeitos da replicagem em nosso país do modelo agrícola americano nas características singulares brasileiras (latifúndio), e já num período de aceleração dos processos de concentração e centralização do capital em escala global. Nesses termos, combinado com a tradição primário-exportadora e com a ausência de regulação pública voltada para a garantia da segurança alimentar no Brasil, o perfil da estrutura produtiva decorrente da modernização conservadora da agricultura brasileira já foi predominantemente pautado pelos interesses da expansão dos produtos nobres do agronegócio exportador como assim denominamos na atualidade.
Resta que, nos dias presentes, fruto da evolução desse cenário que adquiriu contornos ainda mais adversos com o período de neoliberalismo, a questão da soberania alimentar se mantém como bandeira de remota concretização, e mesmo a segurança alimentar permanece como uma questão em aberto no Brasil.
Assim, à luz dos interesses nacionais e populares creio na utilidade política da atenção constante às tendências internas do abastecimento dos alimentos básicos. Até porque, em grande parte por conta das volatilidades da produção e da oferta interna de vários produtos alimentares, a economia brasileira tem convivido nos últimos anos com taxas inflacionárias nos tetos das metas. Por conseguinte, afora as repercussões negativas sistêmicas dessas pressões inflacionárias, ainda que distante das proporções do passado de hiperinflação vale destacar, em particular, os seus efeitos na erosão da renda das camadas mais pobres da população o que confronta as conquistas de renda na última década por parte desses segmentos.
Com efeito, os preços dos alimentos têm sido a principal variável determinante da atual resistência das pressões de preços em geral.
O quadro abaixo contém a média anual, em 2013, dos pesos, na inflação, dos 9 subgrupos de produtos que compõem o IPCA. Vê-se que o subgrupo ‘alimentação e bebidas’ foi o que gerou maior impacto no índice geral de preços, chamando a atenção para o caráter de ‘dessazonalidade’ do cálculo que obviamente tem a ver mais especificamente com os alimentos.
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