A aliança de classes na União Europeia
08/08/2013
- Opinión
É impossível entender o que acontece na Eurozona utilizando os mesmos esquemas intelectuais que controlam o pensamento dominante, tanto nas direitas como em amplos segmentos das esquerdas. Um exemplo disso se dá ao observar as políticas de austeridade (que consistem no desmantelamento dos serviços públicos – dos canais públicos de rádio e televisão passando pela sanidade e educação públicas e pela redução das pensões) como resultado da imposição da Alemanha aos demais países, e muito particularmente aos países periféricos da Eurozona.
Ver os países como unidades de ação, sem considerar, entretanto, as classes sociais dentro deles é um erro profundo, um erro que constantemente se reproduz. É lógico e previsível que os grupos econômicos e financeiros dominantes e os estamentos políticos e midiáticos que influenciam (monopolizando os símbolos do país) queiram que a população assim os veja, ou seja, como representando a totalidade do país. Seus interesses, no entanto, entram em constante contradição e oposição aos interesses das classes populares. Um exemplo palpável disso é que as políticas de austeridade do governo alemão afetaram não só as classes populares dos países periféricos da Eurozona (Espanha, Grécia, Portugal e Irlanda), como também as classes populares da própria Alemanha, e muito particularmente a sua classe trabalhadora. Na verdade, a classe trabalhadora alemã foi quem viu um menor crescimento de seus salários, tendo perdido capacidade aquisitiva, com a conseguinte redução das rendas de trabalho a favor do aumento das rendas de capital.
É nítido também observar o contrário. As políticas de austeridade, que beneficiam os grupos financeiros e empresariais dominantes alemães, beneficiam também as classes dominantes desses países periféricos, incluindo a Espanha. Hoje vemos na Espanha e naqueles outros países (Grécia, Portugal e Irlanda) 1) uma redução bastante acentuada dos gastos públicos e, muito em particular, do gasto público social; 2) Gigantescos cortes de emprego público; 3) uma privatização de transferências e serviços públicos, e 4) um ataque aos sindicatos e aos convênios coletivos, todas essas políticas públicas que as forças conservadoras de viés neoliberal sempre desejaram. Essas políticas iniciaram na Alemanha com a Agenda 2010 do chanceler socialdemocrata Schröder, com reformas que significaram dramáticos cortes do Estado de Bem-estar alemão. O escasso crescimento dos salários é um resultado disso.
Novamente, é previsível que a aliança de classes dominantes existente hoje na Eurozona negue a existência de dita aliança, apresentando as políticas de austeridade que estão impondo à população, sem qualquer representação popular, como fundamentais para sair da crise, ainda que a evidência existente mostre exatamente o contrário. Assim, os cortes dos serviços públicos e dos salários se apresentam como condições para “aumentar a competitividade”. Na verdade, se estivessem interessados em “aumentar a competitividade”, os famosos “resgates”, em lugar de ser à banca seriam à economia produtiva, incluído o desdobramento das políticas de desenvolvimento industrial, ou de aumento (ao invés da redução) dos salários como medidas para estimular um maior investimento em infraestrutura que aumentasse a competitividade. Atinge níveis obscenos que o Sr. Almunia, Comissário de Competitividade, tenha favorecido o resgate à banca e se oposto ao resgate dos estaleiros.
Na verdade, toda a política de austeridade é uma estratégia para, além de debilitar o mundo do trabalho, privatizar o modelo social, facilitando a expansão dos serviços e transferências privados. O caso de Catalunha é quase uma cartilha. Os enormes cortes em saúde pública estão beneficiando à saúde privada, da qual era o maior representante quem hoje é Conselheiro de Sanidade, gestor e promotor destes cortes. O Grupo Godó – La Vanguardia - está se beneficiando da privatização da televisão e das rádios públicas da Generalitat, com o qual o governo tem um estreito vínculo, inclusive financeiro. O governo de Artur Mas vem priorizando este grupo midiático nessa relação. E assim um longo etecetera, etecetera...
A necessidade de uma resposta em cada país e em toda a Europa
Ver os países como unidades de ação, sem considerar, entretanto, as classes sociais dentro deles é um erro profundo, um erro que constantemente se reproduz. É lógico e previsível que os grupos econômicos e financeiros dominantes e os estamentos políticos e midiáticos que influenciam (monopolizando os símbolos do país) queiram que a população assim os veja, ou seja, como representando a totalidade do país. Seus interesses, no entanto, entram em constante contradição e oposição aos interesses das classes populares. Um exemplo palpável disso é que as políticas de austeridade do governo alemão afetaram não só as classes populares dos países periféricos da Eurozona (Espanha, Grécia, Portugal e Irlanda), como também as classes populares da própria Alemanha, e muito particularmente a sua classe trabalhadora. Na verdade, a classe trabalhadora alemã foi quem viu um menor crescimento de seus salários, tendo perdido capacidade aquisitiva, com a conseguinte redução das rendas de trabalho a favor do aumento das rendas de capital.
É nítido também observar o contrário. As políticas de austeridade, que beneficiam os grupos financeiros e empresariais dominantes alemães, beneficiam também as classes dominantes desses países periféricos, incluindo a Espanha. Hoje vemos na Espanha e naqueles outros países (Grécia, Portugal e Irlanda) 1) uma redução bastante acentuada dos gastos públicos e, muito em particular, do gasto público social; 2) Gigantescos cortes de emprego público; 3) uma privatização de transferências e serviços públicos, e 4) um ataque aos sindicatos e aos convênios coletivos, todas essas políticas públicas que as forças conservadoras de viés neoliberal sempre desejaram. Essas políticas iniciaram na Alemanha com a Agenda 2010 do chanceler socialdemocrata Schröder, com reformas que significaram dramáticos cortes do Estado de Bem-estar alemão. O escasso crescimento dos salários é um resultado disso.
Novamente, é previsível que a aliança de classes dominantes existente hoje na Eurozona negue a existência de dita aliança, apresentando as políticas de austeridade que estão impondo à população, sem qualquer representação popular, como fundamentais para sair da crise, ainda que a evidência existente mostre exatamente o contrário. Assim, os cortes dos serviços públicos e dos salários se apresentam como condições para “aumentar a competitividade”. Na verdade, se estivessem interessados em “aumentar a competitividade”, os famosos “resgates”, em lugar de ser à banca seriam à economia produtiva, incluído o desdobramento das políticas de desenvolvimento industrial, ou de aumento (ao invés da redução) dos salários como medidas para estimular um maior investimento em infraestrutura que aumentasse a competitividade. Atinge níveis obscenos que o Sr. Almunia, Comissário de Competitividade, tenha favorecido o resgate à banca e se oposto ao resgate dos estaleiros.
Na verdade, toda a política de austeridade é uma estratégia para, além de debilitar o mundo do trabalho, privatizar o modelo social, facilitando a expansão dos serviços e transferências privados. O caso de Catalunha é quase uma cartilha. Os enormes cortes em saúde pública estão beneficiando à saúde privada, da qual era o maior representante quem hoje é Conselheiro de Sanidade, gestor e promotor destes cortes. O Grupo Godó – La Vanguardia - está se beneficiando da privatização da televisão e das rádios públicas da Generalitat, com o qual o governo tem um estreito vínculo, inclusive financeiro. O governo de Artur Mas vem priorizando este grupo midiático nessa relação. E assim um longo etecetera, etecetera...
A necessidade de uma resposta em cada país e em toda a Europa
Frente à aliança das classes dominantes requer-se uma aliança das classes dominadas (que são a maioria da população). Nesse sentido, é positiva, a mobilização da Confederação Europeia de Sindicatos, que está promovendo políticas contrárias e opostas às políticas de austeridade, posturas às quais aderiram os sindicatos alemães.
A aliança de classes dominantes tenta, por todos os meios, que não se fale de classes e que, em seu lugar, se fale de nação, estimulando, ocasionalmente, um classismo que tenta enfrentar as classes populares de um país com outras. Assim, o trabalhador alemão recebe uma imagem – por parte dos maiores meios de informação e persuasão alemães – do grego “vagabundo”, com mais benefícios e proteção social do que ele ou ela têm na Alemanha (na verdade, o operário grego trabalha mais horas por ano e tem menor proteção social que o alemão). Agora, mais do que nunca, falta mostrar esse tipo de nacionalismo pelo que é: a tentativa de utilizar bandeiras para induzir a populações a interesses opostos, para que prejudicadas as classes populares por tais políticas, os apoiem como “defensores da nação”. Existe o nacionalismo burguês (diferente do nacionalismo popular) que o utiliza para tentar mobilizar as classes populares a favor de seus interesses de classe. Assim, claramente.
- Vicenç Navarro é Catedrático de Políticas Públicas, Universidad Pompeu Fabra, e professor de Public Policy em The Johns Hopkins University. (vnavarro.org)
https://www.alainet.org/pt/articulo/78292
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