A conspiração começa a tomar forma
- Opinión
A série de reportagens do jornal eletrônico The Intercept sobre as entranhas da Operação Lava Jato, já apelidada de Vaza Jato, sem dúvida terá como consequência esclarecer a sociedade brasileira sobre o real conteúdo e as reais motivações de boa parte das ações políticas e judiciais que estiveram nas manchetes nos últimos anos. A riqueza e a extensão do material coletado, segundo Glenn Greenwald , são incomparáveis na história do jornalismo brasileiro.
Uma leitura atenta do que foi revelado em apenas duas oportunidades, domingo 9 e quarta-feira 12 de junho, já dá uma prévia do que virá por aí.
Na primeira série de diálogos, viu-se a importância que os procuradores da Lava Jato e Moro davam à entrevista de Lula às vésperas da eleição. Enorme esforço foi despendido para impedi-la. Não restem dúvidas de que aquela entrevista teria um impacto enorme. Até então não havia um endosso formal, expresso e gravado de Lula à candidatura de Haddad. Um apelo pessoal e emotivo do maior líder carismático do país impulsionaria Haddad na reta final. E foi Luiz Fux quem impediu a entrevista, numa decisão contrária à toda ordem jurídica brasileira.
Na quarta-feira, os novos diálogos revelados mostraram o grau de conluio entre a Lava Jato, Moro e Fux. O Ministro do STF teria se colocado à disposição da Lava Jato “para o que precisassem”. In Fux, we trust, diz Moro.
Será que a ordem de proibição da entrevista de Lula não fez parte desta “colaboração” entre Fux e a LavaJato?
Aos poucos , o The Intercept vai revelando o que se conforma como uma verdadeira conspiração, um plano coletivo, calculado e sincronizado para impedir um grupo político de vencer as eleições e favorecer seus adversários. E como não imaginar inclusive interferência externa, já que outro diálogo entre Dallagnol e Moro revela que estes se “articulam”com os “americanos”?
Outro site de jornalismo, o BuzzFeed, cruzou as orientações e conselhos dados por Moro a Dallagnoll nos diálogos revelados com os atos do processos contra Lula e verificou que o MPF seguia à risca o que determinava o juiz, inclusive quanto à desistência de um recurso que este criticara.
Mais uma vez se destaca a coordenação e coerência interna de ações. Um plano articulado. Uma atuação conjunta.
Por isso, o pavor vem batendo em boa parte da elite política e judicial brasileira e seus defensores, Rede Globo à frente, sobem o tom dos ataques. Fica cada vez mais claro que não se tratam de fatos isolados e contatos eventuais. Foi uma conspiração. Quem mais participou? Aguardem-se os próximos capítulos.
- Antonio Escosteguy Castro é advogado.
junho 13, 2019
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