Fracasso de Trump na batalha de Cúcuta e contrarrevolução permanente na Venezuela
- Opinión
Washington concebeu a batalha de Cúcuta, na Colômbia [23/2], para ser o momento apoteótico da derrubada do presidente constitucional da Venezuela, Nicolás Maduro.
A maior reserva de petróleo do mundo existente no país caribenho é o motivo para os EUA se auto-conceder o direito de provocar, agredir, invadir e tentar mudar o regime de uma nação livre, independente e soberana, em notória ofensa à Carta de Princípios da ONU [aqui].
De Cúcuta, cidade colombiana fronteiriça com a Venezuela, o autodeclarado “presidente encarregado” [sic] Juan Guaidó, num gesto épico, atravessaria a ponte que liga os 2 países com caminhões carregados de alimentos e remédios – e, suspeita-se, carregado também de armas para serem distribuídas a sicários e contrarrevolucionários – doados pelos EUA como “ajuda humanitária”.
Segundo planejado por Washington, Guaidó então ingressaria triunfalmente em território venezuelano na outra cabeceira da ponte, por San Antonio de Táchira. Lá, no retorno à Pátria, seria recepcionado como herói redentor por multidões e comandos militares que desertariam da Força Armada Nacional Bolivariana [FANB].
Esse teatro burlesco, coordenado em campo diretamente por agentes da Casa Branca, do Pentágono, da CIA, do Congresso e do Depto. de Estado norte-americano, foi reforçado por autoridades e governantes capachos dos EUA.
No circo armado em Cúcuta, sábado, perfilaram-se ao comando estadunidense os presidentes da Colômbia, Chile e Paraguai; o chanceler brasileiro e o secretário-geral da OEA Luís Almagro, que usurpou o mandato da OEA, pois aquele organismo, apesar da forte pressão dos EUA, não reconhece legalidade na patética autodeclaração de Guaidó.
O plano traçado por Trump, contudo, deu errado. O cavalo de tróia disfarçado de “ajuda humanitária” foi impedido de entrar na Venezuela, a FANB manteve-se coesa e fiel ao governo legítimo e à Constituição do país, e as multidões continuam ao lado de Maduro.
Trump e os governos títeres dos EUA fracassaram também no intento de provocar eventos traumáticos para comover a opinião pública mundial e, assim, servir de álibi ao apelo de intervenção militar internacional na Venezuela.
Ante o fracasso definitivo em Cúcuta, o último recurso dos agressores foi atear fogo num caminhão supostamente carregado de alimentos e remédios ainda em território colombiano e sob controle dos próprios agressores; porém este episódio forjado não foi repercutido mais além da histeria do presidente colombiano Ivan Duque.
O insucesso da aventura criou uma armadilha para Guaidó. O autodeclarado encontra-se agora diante de 2 opções: ou [i] regressa ao país e é preso devido às violações penais e à associação conspirativa com países e sicários estrangeiros, ou [ii] parte para o exílio.
Para a extrema-direita fascista, isso acarreta um importante revés. Guaidó integra o Vontade Popular, mesmo partido de Leopoldo Lopez. É um partido teleguiado por Washington e que empreende a oposição mais extremista, mais violenta e mais sanguinária no país.
Em 2018, o Vontade Popular liderou o boicote ao acordo mediado internacionalmente na República Dominicana entre o governo Maduro e setores da oposição. Atendendo às ordens de Trump, esses setores detonaram os entendimentos estabelecidos e decidiram não participar da eleição de maio do ano passado que elegeu Maduro, porque apostavam no caos absoluto.
Deve-se ter em mente, entretanto, que esse revés circunstancial não encerra a espiral conspirativa para forçar a mudança de regime na Venezuela. Em breve surgirão novas investidas contrarrevolucionárias auspiciadas pelos EUA e encabeçadas pelo autodeclarado.
O chavismo, por outro lado, teve uma importante vitória na batalha de Cúcuta, em que pese o assombroso condicionamento da mídia hegemônica, que inundou o noticiário internacional com notícias falsas e uma cobertura enviesada, pró-EUA, a favor da guerra e da agressão.
Derrotar a estratégia imperialista na batalha de Cúcuta foi um importante teste de resistência e uma importante demonstração da coesão cívico-militar bolivariana. Além disso, evidenciou a unidade política e social da revolução bolivariana, que aparenta grande solidez.
Essa vitória adquire maior relevância em vista do atual contexto geopolítico, de debilidade da esquerda latino-americana e de ofensiva da extrema-direita continental e mundial.
A batalha de Cúcuta, entretanto, não significa o fim da guerra contrarrevolucionária permanente que os EUA promove há 20 anos para derrubar o regime bolivariano da Venezuela.
Desde que o Presidente Hugo Chavez assumiu o poder [1999] e passou a direcionar a renda petroleira antes canalizada para contas bancárias nos EUA para um projeto nacional e popular de desenvolvimento, o governo da Venezuela não teve um único momento de paz, e é alvo de terrorismo econômico criminoso que causa escassez e impede a organização da economia.
Dessa vez não deverá ser diferente. O fracasso de Trump e de seus títeres na batalha de Cúcuta está longe de encerrar a contrarrevolução permanente na Venezuela – Cuba, que há mais de 60 anos é alvo de bloqueio ilegal liderado pelos EUA, é testemunho dessa realidade.
A solidariedade com o povo venezuelano, a defesa dos princípios da não-ingerência e da soberania e do direito à autodeterminação da Venezuela e o reconhecimento do Maduro como presidente legítimo é a tarefa urgente da esquerda, dos democratas e dos progressistas do mundo inteiro.
Esse compromisso é vital, porque em lugar do exercício pleno da soberania pela Venezuela, sobrevirá uma Síria na América Latina.
25 de fevereiro de 2019
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