O grito
- Opinión
Há um Grito parado no ar. Não dá mais para segurar a explosão do Grito dos Excluídos e das Excluídas, dos historicamente sem vez nem voz.
Gritam as dezenas de milhões de desempregados, subempregados, terceirizados, os que lutam todos os dias para comer e sobreviver.
Gritam as mulheres sofrendo violência, sendo assassinadas impunemente, pisoteadas, esmagadas, e que estão em busca de luz, respeito, dignidade e direitos.
Gritam os jovens negros e as jovens negras, desrespeitados e desrespeitadas, discriminadas e discriminados, ameaçados e ameaçadas nos becos e esquinas, assassinados e assassinadas pela mão e pelos corações empedernidos.
Grita a população em situação de rua, atirada nas ruas e sarjetas das grandes e de todas as cidades, como se fosse lixo e não fosse gente, como se inútil fosse, como se nada fosse, como se não tivesse coração, ideias, pensamento, sonhos.
Gritam os indígenas, de novo ameaçados, expulsos de suas terras, considerados subpovo e subcultura, ‘indolentes’, mas que têm identidade, têm raízes e História, são povo, são povos.
Gritam os quilombolas que lutam, que querem seus espaços de vida e liberdade, que não saíram de suas terras e não vieram a este país porque quiseram, por livre e espontânea vontade.
Gritam os servidores públicos que sequer recebem salários em dia, considerados marajás quando são servidores do povo, do país e de sua gente.
Gritam trabalhadoras e trabalhadores, espoliados em seus direitos e salários, cada dia servindo apenas de lucro de seus patrões e de suas contas nas Ilhas Cayman e paraísos fiscais.
Gritam os/as militantes sociais, os/as lutadores/as do povo que sofrem a morte, são assassinados porque abrem a voz e gritam em favor dos pobres e dos que não têm voz nem vez, porque lutam pelos direitos de todas e todos, dos seres humanos e de todos os seres vivos, porque anunciam a liberdade e a justiça.
O Grito dos Excluídos e das Excluídas/2018 tem como tema e lema: “Desigualdade gera violência. basta de privilégios”. Segundo Nivalmir Santana, o cartaz do Grito/2018 retrata a união dos marginalizados e do povo sofrido que luta por vida mais digna. “Esse povo caminha para o sol, que ilumina todas as classes. O sol para o qual esse povo se volta é Cristo, que pela Páscoa dissipa todas as trevas e clareia todas as coisas”.
Este é o vigésimo quarto Grito, dizendo desde 1994 “Vida em primeiro lugar”, e organizado por Pastorais Sociais, Semana Social Brasileira, Movimentos Populares, Sociais e Sindical, Campanha Jubileu, Grito Continental, Igrejas, Mutirão contra a Miséria e a Fome, e realizado a cada 7 de setembro. Em 2017, o Grito dizia: “Por direitos e democracia, a luta é todo dia”.
O objetivo geral do Grito é: “Valorizar a vida e anunciar a esperança de um mundo melhor, construindo ações a favor de fortalecer e mobilizar a classe trabalhadora. Denunciar a estrutura opressora e excludente que nega a vida e quer nos impedir de sonhar”.
Os eixos do Grito dos Excluídos e das Excluídas são: Democratizar a comunicação; Direitos básicos; Estado fomentador da violência; Que projeto de país desejamos? Que Estado queremos?; Participação política é emancipação popular; Unir generosas e generosos nas ruas; Uma ecologia integral.
Contra as cinzas do que arde na memória, do que queima na fogueira sem fim dos que desprezam a história, dos que pisoteiam qualquer vestígio do que é um povo e seu passado, do que é um país e seu presente, do que é uma Nação e seu futuro, o Grito se manifesta nas ruas, nas escolas, nas igrejas, nas casas, nas fábricas, nos bares, nas eleições, nos estádios de futebol, nas Marchas e mobilizações, no campo e na cidade, em qualquer lugar, em todos os lugares e a qualquer momento, toda hora, todo dia, manhã, tarde, noite e madrugada.
O Grito é de indignação contra todas as violências. O Grito é de desobediência civil, levando a Greves de Fome contra a fome, a miséria, o abandono de pobres, idosos, jovens, mulheres, trabalhadoras e trabalhadores.
O Grito é por democracia, urgente e necessária, por ouvir a voz do povo, por direitos e soberania.
O Grito é contra os julgadores do povo que luta e que condenam lutadoras e lutadores, é contra os julgadores que não respeitam as leis e a Constituição, os julgadores que só olham e cuidam de suas mordomias e só julgam a favor dos ‘direitos’ dos ricos e dos salteadores do povo.
O Grito é de esperança, para que todas e todos sejam sal da terra, luz do mundo, sejam profetas.
O Grito é de Independência, soberania, liberdade, justiça, paz. Os de baixo querem vida, dignidade, pão na mesa, beleza, direitos, igualdade.
Desigualdade gera violência. Basta de privilégios. Vida, vida, vida em primeiro lugar!
- Selvino Heck, Deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul (1987-1990). Membro da Coordenação Nacional do Movimento Fé e Política
setembro 5, 2018
https://www.sul21.com.br/colunas/selvino-heck/2018/09/o-grito/
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