Moro esconde fraqueza para condenar Lula
- Opinión
Como se não bastasse um sentença errada no mérito -- pois não se provou a culpa do réu -- há uma razão política óbvia para as novas medidas de Sérgio Moro contra Lula, como o confisco de imóveis e o bloqueio de suas contas bancárias.
São medidas preventivas, mais uma vez baseadas em suspeitas e nenhuma prova de crime. Ajudam no espetáculo e isso é o principal agora. Como no triplex, cujo dono é a OAS, quem sabe a Caixa. Qualquer um, menos Lula.
Nesta situação, procura-se alimentar os meios de comunicação que se dedicam a "deslegitimar" Lula desde o início da Lava Jato. O conceito se encontra no conhecido texto de Moro sobre a operação italiana Mãos Limpas, escrito em 2004.
Ali se aponta para a necessidade da Justiça criar um ambiente social desfavorável a políticos cuja condenação pode provocar reações imprevisíveis por parte da população.
É um cuidado ainda mais necessário quando se recorda que a segunda etapa do processo contra Lula, no TRF-4 ocorre num ambiente de consagração de sua candidatura, em meio a críticas e manifestações de crescentes de desconfiança quanto à consistência das acusações contra ele por parte de vozes respeitáveis dos meios jurídicos.
Numa campanha onde o principal adversário de Lula, hoje, é Jair Bolsonaro, a conversa sobre uma versão tropical do francesa Emanoel Macron pode adquirir um inesperado sentido.
Nesta situação, é indispensável criar um clima -- inteiramente artificial -- contra Lula, um já-perdeu, para enfraquecer a defesa de uma candidatura legítima, abrir caminho para uma desistência e até abrir o debate sobre alternativas mais palatáveis, dentro ou fora do PT. Com uma reconhecida noção sobre o efeito político de suas decisões, a ação jurídica de Moro tem um impacto direto sobre o fator que mais interessa -- o apoio da população a Lula.
Este é o sentido do circo punitivo que se assiste nos dias de hoje.
Uma coisa é condenar um político que já não conta com o amparo de aliados e eleitores. Esta é a situação ideal para quem pretende impor a tutela da Justiça sobre o direito da população de escolher quem deve governar o país.
Outra, muito diferente, é ir para cima de um candidato em boa saúde política, protegido pelo apoio popular, capaz de responder a uma medida de perseguição através de uma versão várias vezes multiplicada, em outro patamar como protesto político, daquela reação ocorrida durante a condução coercitiva para um depoimento no Aeroporto de Congonhas.
- Paulo Moreira Leite, jornalista e escritor, é diretor do 247 em Brasília
20 de Julho de 2017
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