Além de Padilha e Temer, denúncia de Yunes compromete Moro
- Opinión
O depoimento que José Yunes prestou ao MP assumindo-se como simples “mula” para transportar os R$ 4 milhões da propina da Odebrecht destinada a Eliseu Padilha, é demolidor para o governo golpista.
A denúncia do amigo de mais de meio século do Michel Temer põe luz sobre acontecimentos relevantes da história do golpe, e pode indicar que os componentes do plano golpista foram estruturados em pleno curso da eleição presidencial de 2014:
1. a Odebrecht atendeu o pedido do Temer, dos R$ 10 milhões [os R$ 4 milhões ao Padilha são parte deste montante] operados através de Lucio Funaro, ainda durante o período eleitoral de 2014;
2. mesmo sendo o candidato a vice-presidente da Dilma, na campanha Temer trabalhava pelo esquema do Eduardo Cunha [que na eleição apoiou Aécio Neves, e não a chapa do seu partido, o PMDB], que tinha como meta eleger uma grande bancada de deputados oposicionistas ao governo Dilma;
2. a organização criminosa financiou com o esquema de corrupção a campanha de 140 deputados para garantir a eleição de Eduardo Cunha à Presidência da Câmara;
3. Lúcio Funaro, tido até então exclusivamente como o “operador do Eduardo Cunha”, na realidade também atuava a mando de Eliseu Padilha e, tudo indica, de Michel Temer - José Yunes diz que Temer sabia tudo sobre o serviço de “mula” que Padilha lhe encomendara;
4. em janeiro/fevereiro de 2015, na disputa para a presidência da Câmara, embora em público Temer dissimulasse uma posição de “neutralidade”, nos subterrâneos trabalhou pela eleição do Cunha;
5. mesmo sendo vice-presidente da Presidente Dilma, o conspirador conhecia o plano golpista desde sempre, e participou desde o início da conspiração para derrubá-la. O primeiro passo, como se comprovou, seria dado com a vitória do Eduardo Cunha à presidência da Câmara para desestabilizar o ambiente político, implodir os projetos de interesse do governo no Congresso e incendiar o país.
A denúncia de Yunes reabre o questionamento sobre a decisão no mínimo estranha, para não dizer obscura e suspeita, do juiz Sergio Moro. Em despacho de 28/11/2016, Moro anulou por considerar “impertinentes” as perguntas sobre José Yunes que o presidiário Cunha endereçou a Temer, arrolado como sua testemunha de defesa.
Moro tem agora a obrigação de prestar esclarecimentos mais convincentes e objetivos que o argumento subjetivo de “impertinência”, alegado no despacho. Caso contrário, ficará a suspeita de ter prevaricado para proteger Temer e encobrir o esquema criminoso que derrubaria o governo golpista. Afinal, sabendo do envolvimento direto de Michel Temer no esquema criminoso, Moro teria agido para ocultar o fato?
A cada dia fica mais claro que o Brasil está dominado pela cleptocacia que assaltou o poder de Estado com o golpe. O melhor que Temer faria ao país seria demitir toda a corja corrupta – a começar pelo Eliseu Padilha – e renunciar, porque perdeu totalmente a confiança política e a credibilidade.
A permanência ilegítima de Temer na cadeira presidencial é um obstáculo instransponível à recuperação do Brasil, que assim seguirá o caminho acelerado do abismo.
https://www.facebook.com/jefmiola/posts/256664658076849
Del mismo autor
- Impunidade mostra que tortura e crimes contra a humanidade compensam 10/03/2022
- Guerra por procuração, escudos humanos e os riscos de uma guerra de guerrilhas na Ucrânia 04/03/2022
- A expansão da OTAN como origem da crise 03/03/2022
- China propõe agenda para a solução política e diplomática do conflito 02/03/2022
- Putin age como Pedro o Grande, Lênin e Biden agiriam 25/02/2022
- A estratégia de Putin e a agonia do poder imperial e unipolar dos EUA 23/02/2022
- O “direito ao nazismo”, segundo o libertarianismo 10/02/2022
- A mensagem da cúpula militar aos ministros do STF e ao país 09/02/2022
- A eleição em Portugal e a federação partidária no Brasil 31/01/2022
- Crise militar é real ou é fabricada pelo próprio partido dos generais? 11/01/2022
Clasificado en
Clasificado en:
Corrupción
- Robert Berrouët-Oriol 31/03/2022
- Robert Berrouët-Oriol 29/03/2022
- Sergio Ferrari 20/12/2021
- Rosalinda Hernández Alarcón 30/07/2021
- Juraima Almeida 14/07/2021