Desaceleração e choque conservador pressionam alta do desemprego na AL

19/07/2016
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A perda do dinamismo econômico afeta os empregos desde 2014: desigualdade volta a se agravar na região

 

As graves dificuldades para sustentar o crescimento econômico e os empregos estão no núcleo do capitalismo e afetam todos os países. As causas são diversas e complexas, e muitas das saídas encaminhadas pelos neoliberais agravam as desigualdades e colocam os países em crises sociais. Os trabalhadores sofrem as consequências com o fechamento dos postos de trabalho, o arrocho salarial e o desmonte das políticas de promoção e proteção social. A ordem dominante, mais uma vez, protege os ricos e a riqueza.

 

O desemprego chegou para ficar por um bom tempo também na América Latina, é o que indica o estudo Panorama Laboral 2015 – América Latina y el Caribe, documento da Oficina Regional da Organização Internacional do Trabalho, que analisa a performance do mercado de trabalho na região. A desaceleração e perda do dinamismo econômico afetam fortemente os empregos desde 2014. A taxa média de desemprego aberto na região continuou aumentando, passando de 6,2%, em 2014 para 6,7%, em 2015, acrescentando mais 1,7 milhão de pessoas sem ocupação, resultado de um recuo de 0,3% no nível de atividade econômica.

 

Inverte-se estruturalmente a tendência anterior de redução do desemprego, aumento da proteção social e melhoria da qualidade dos postos de trabalho. Desde 2013, a ocupação já caiu 2,9 pontos percentuais (p.p.), quando, por exemplo, na crise de 2008/2009 a queda foi de -1,8 p.p..

 

Há desigualdades, pois enquanto a taxa de desocupação para as mulheres foi de 8,2% em 2015, para os homens, correspondeu a 5,9% e para os jovens atingiu a casa dos 15,3%.

 

O espelho retrovisor mostra que no passado recente o crescimento econômico continuado produziu postos de trabalho e fez diminuir o desemprego. Os jovens passaram a contar com o apoio familiar e com políticas públicas para se dedicarem ao estudo, deixando de pressionar o mercado de trabalho, e aumentando sua qualificação educacional. Os postos de trabalho ganharam qualidade, diminuiu a precarização, o assalariamento com registro cresceu e reduziu o número de ocupações informais. O nível de proteção laboral dos postos de trabalho aumentou, principalmente onde há organização sindical ativa e valorização da negociação coletiva.

 

Políticas de proteção da base salarial por meio da valorização do salário mínimo contribuem para o incremento da massa salarial entre aqueles que ganham menos e fortalecem, com os empregos, o mercado interno de consumo. A existência desse conjunto de fatores por vários anos dinamizou a demanda das famílias e sustentou a atividade produtiva.

 

Trabalho protegido, salários crescendo, desemprego em queda, redução da informalidade e da precariedade do trabalho, combinados com políticas de proteção e promoção social, vinham atuando para reduzir a miséria, a pobreza e a desigualdade, gravíssimos problemas latino-americanos.

 

Infelizmente, mais uma vez, o tempo histórico dessa dinâmica favorável do emprego está ficando para trás. Os sinais em nosso continente são de novos ajustes conservadores e concentradores de renda e riqueza, de aumento das desigualdades, do desemprego e do arrocho salarial. É da lógica do capitalismo garantir a riqueza dos ricos, sejam pessoas, empresas ou países. As décadas e os séculos passam, o mundo se transforma, a base produtiva se expande, a capacidade de gerar bem-estar e qualidade de vida para todos aumenta, porém, o que fica para a classe trabalhadora é o gosto amargo da desigualdade e da injustiça frente a tantas possibilidades. Felizmente tudo é história, pois é resultado da ação humana, o que abre sempre a possibilidade de outro jogo social, conduzindo-nos à luta como uma exigência ética permanente.

 

- Clemente Ganz Lúcio é sociólogo e diretor técnico do Dieese

 

19/07/2016

http://www.redebrasilatual.com.br/blogs/blog-na-rede/2016/07/desaceleracao-e-choque-conservador-pressionam-alta-do-desemprego-na-al-1238.html

 

https://www.alainet.org/pt/articulo/178912
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