Líderes fortes fazem mal ou bem à democracia?

Por eso ganan tanta proyección, legitimidad, por ello gozan del apoyo popular que ningún líder de la derecha posee.

19/02/2016
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A direita tem uma obsessão de buscar destruir as imagens dos grandes líderes populares do nosso tempo. A Argentina e o Brasil, entre outros países, conhecem bem essa obsessão contra as imagens de Perón e de Getúlio, como se a liderança deles causasse dano à democracia, ao invés de fortalecê-la e legitimá-la.

 

Existe a absurda tese de que a Argentina teria entrado em decadência com o governo do Perón, quando foi este que implementou um gigantesco processo de desenvolvimento econômico com distribuição de renda. Da mesma forma, Getúlio fortaleceu a democracia no Brasil. Até ele o Estado era apenas um instrumento nas mãos das elites econômicas. Getúlio deu início à construção de um Estado que passou a incorporar os interesses das classes trabalhadoras e a pôr em prática um projeto nacional de desenvolvimento econômico e distribuição de renda.

 

A direita considera que a esquerda só pode se impôr mediante lideranças carismáticas, "populistas" na sua linguagem, que se erigiriam mediante enganos, concessões demagógicas que comprometeriam a economia. Se recusam a considerar o caráter profundamente popular e democrático dos programas desses governos, que se chocam diretamente com os interesses da direita.

 

Neste momento, quando a América Latina voltou a colocar em prática, em vários dos seus países, processos de democratização social, na contramão da hegemonia neoliberal em escala mundial, a direita se concentra em tentar destruir a imagem dos líderes desses processos, para buscar freá-los. A destruição das imagens de Lula, de Evo Morales, de Rafael Correa, de Cristina, segundo a direita, brecaria esses processos e permitiria o retorno da direita ao governo. Fazem isso em nome de supostos riscos à democracia que esses líderes representariam. Um colunista mais desvairado que a média, aqui no Brasil, diz que Lula luta pela sua sobrevivência política à custa da democracia no país.

 

É preciso perguntar-nos se a Argentina era mais democrática com a ditadura militar ou com os governos neoliberais, ou com os Kirchner? O Estado tinha mais legitimidade, mais prestígio, com os militares ou com a ditadura do mercado ou, ao contrário, quando os direitos das pessoas foram recuperados?

 

A Bolívia era um país melhor, mais estável, mais democrático, com os governos neoliberais das dinastias brancas que dominavam um país majoritariamente indígena ou o prestígio do país, o apoio popular, nunca foram tão grandes como com Evo Morales?

 

O Brasil era o país mais desigual do continente, agora é um país melhor, menos injusto, que permite que as pessoas possam viver muito melhor ou quando os mercados e as grandes corporações privadas sem contrapontos no país?

 

O Equador vive o melhor momento da sua história sob o governo de Rafael Correa ou quando era governado pelas oligarquias representantes das minorias?

 

Esses líderes populares fortaleceram as democracias desses países, porque integraram as grandes maiorias, incorporando seus direitos ao Estado, legitimando a esses Estados porque essas maiorias se sentem representadas nesses governos, porque se produziram os períodos de maior estabilidade e continuidade política sob a liderança desses dirigentes políticos.

 

Que caráter tem essas lideranças populares? O de representar, de forma direta, as necessidades da grande maioria da população, marginalizada pela política tradicional e suas formas corrompidas de eleger representantes com o poder do dinheiro e dos meios privados de comunicação.

 

A direita só consegue ter dirigentes fortes baseados na força e na repressão, fortes contra os de baixo, como nos tempos das ditaduras. Ou com presidentes de prestígio efêmero, baseados em planos econômicos de curto prazo, promovidos pelo marketing da mídia até que caem definitivamente em desgraça e seus nomes ficam associados ao que de pior tem na política.

 

Em contraposição, os líderes populares conseguem contornar os mecanismos corporativos em que a direita baseia seu poder – Congresso eleitor com financiamentos privados, meios de comunicação monopolistas, grandes empresas privadas, entre outros -, para expressar, de forma direta, as necessidades da massa da população, marginalizada pelos mecanismos de poder da direita. Por isso ganham tanta projeção, legitimidade, por isso gozam do apoio popular que nenhum líder da direita possui.

 

A direita gosta de governantes fracos, de Congressos fracos, de partidos sem força, da política desmoralizada, para fazer prevalecer os interesses do mercado, os interesses privados dos grandes grupos econômicos. Para isso não pode se enfrentar a Estados e governos com legitimidade, a líderes com grande apoio popular, a partidos que representem a amplos setores organizados da população.

 

Líderes fortes pelo apoio popular, pelo prestígio dos seus governos, tornam mais sólidas as democracias, ao invés de desprestigiá-las. Ditaduras, governos comandados pelos interesses do mercado e pelo poder do dinheiro é que desprestigiam a democracia.

 

A direita coloca todas às suas forças em campanhas que buscam desgastar as imagens de líderes como Evo Morales, Lula, Cristina, Rafael Correa, com acusações pessoais, porque não tem argumentos de fundo contra eles. Sabem que um povo sem líderes, sem auto estima, sem sentimento nacional, sem orgulho da sua nacionalidade é mais facilmente vítima do derrotismo que a direita quer impor, para abrir caminho a retrocessos contra os avanços conseguidos por essas lideranças democráticas e populares neste século na América Latina.

 

- Emir Sader é mestre em filosofia política e doutor em ciências políticas. Atualmente, é professor aposentado da Universidade de São Paulo

 

19 de Fevereiro de 2016

http://www.brasil247.com/pt/blog/emirsader/217715/L%C3%ADderes-fortes-fazem-mal-ou-bem-%C3%A0-democracia.htm

 

https://www.alainet.org/pt/articulo/175520
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