Ida de Dilma ao Congresso gera reações opostas entre governistas e oposição
- Opinión
Como era de se esperar, a repercussão da ida da presidenta Dilma Rousseff no Congresso Nacional gerou reações opostas entre congressistas da oposição e do governo. Durante o seu discurso, Dilma chamou os parlamentares ao diálogo e defendeu a recriação da CPMF como medida excepcional para o país retomar o equilíbrio fiscal a curto prazo. O retorno do tributo tem sido objeto de questionamentos por parte da oposição, sob o argumento de que a carga tributária no país já é elevada. O governo afirma que a medida é temporária e necessária diante da crise.
Para a oposição, que vaiou quando a presidenta tocou no tema, Dilma jogou para a "plateia", já os governistas, que aplaudiram o discurso, falam que a ida da presidenta foi um gesto de estadista e representa mudança na relação com o Congresso.
Líder do governo na Câmara, o deputado José Guimarães (PT-CE) disse que a presidenta marcou um “golaço” ao discursar no Congresso e que foi um gesto de generosidade e de compromisso político com o país. “É muito maior que qualquer piada de um ou outro deputado da oposição, é um gesto de civilidade, um discurso forte e acima de tudo uma estadista”, disse.
Segundo Guimarães, que fez a defesa da ida de Dilma ao Congresso, em seu discurso a presidenta apresentou para o Congresso “as bases para as reformas que são necessárias” e defendeu a valorização do diálogo, do “debate democrático” como o melhor caminho para o país sair da crise e retomar o crescimento. “Nas democracias modernas é assim que se faz”, disse.
Interesse do povo
Candidato a líder do PT na Câmara dos Deputados, Afonso Florence (BA) disse que a ida de Dilma ao Congresso foi positiva e que ela trouxe uma pauta de “interesse do povo brasileiro”. “Um conteúdo muito forte que justifica a sua presença aqui [no Congresso] e que nos permite começar os nossos trabalhos com uma pauta, que, a despeito das diferenças, inerentes à democracia, é a pauta de interesse do povo brasileiro”, disse Florence após o discurso da presidenta.
O senador Blairo Maggi (PR-MT), integrante da base aliada, defendeu o debate e disse que, para sair da crise, é preciso haver um entendimento mínimo entre os Poderes e os órgãos auxiliares. Segundo Maggi, boa parte da crise se deve a certa falta de confiança em relação ao governo e que o gesto de Dilma pode representar um retorno da confiança na economia.
“O país parou, de certa forma, por falta de crédito, mas uma boa parte da economia está parada por falta de confiança. Então, talvez, esse gesto da presidenta de vir até aqui tentar esclarecer algumas coisas, criar um ambiente mais favorável e tentar mudar esse ambiente da desconfiança com relação ao país pode ajudar”, disse.
Mea culpa
O senador e presidente nacional do PSDB, Aécio Neves (MG), disse que a ida de Dilma ao Congresso foi só pra “fazer fotografia”. Segundo Aécio a presidenta deveria ter feito uma espécie de “mea culpa” de seu governo pelo fato de o país estar passando por uma crise econômica. “Nenhuma palavra em relação aos equívocos do governo em relação a condução da politica macroeconômica no ano passado, nenhuma palavra sobre o conjunto de denúncias que estão sobre o governo. Então, é uma presidente que busca isolar-se de algo que não é possível mais isolar,” disse.
Sobre as vaias, o senador, que ficou em silêncio durante o discurso, afirmou que “cada um faz o que quer”. Aécio disse ainda acreditar que, mesmo tendo comparecido ao Congresso, Dilma vai enfrentar dificuldades no parlamento, pois, segundo ele, a presidenta “nunca dialogou com o Congresso”. “Ela sempre quis impor suas vontades ao Congresso Nacional e, em um momento de fragilidade, ela vem aqui em um gesto que achei que seria de maior generosidade, passando pelo reconhecimento de que, se a crise hoje é grave, o governo dela tem enorme parcela de responsabilidade”, disse.
O líder do DEM no Senado e oposicionista, Ronaldo Caiado (GO) disse que a mensagem da presidenta poderia ser resumida em “novos impostos ou aumento de tarifas de impostos” e que Dilma não “encantou ninguém”. “Foi muito mais uma vinda pela conveniência do momento do que por respeito ao Congresso Nacional. Não acredito que ela terá força política nem votos suficientes para aprovar nenhuma das medidas que ela apresentou aqui na tarde de hoje”, disse.
- Luciano Nascimento, da Agência Brasil