Análise do MAB sobre o crime social e ambiental causado pelo rompimento das barragens da Samarco

01/12/2015
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  1. O QUE ACONTECEU EM MARIANA

 

Na tarde do dia 05 (quinta) de novembro de 2015, ocorreu um grande crime social e ambiental em Minas Gerais, causado pela mineradora SAMARCO MINERAÇÃO S.A., empresa pertencente à VALE e à BHP BILLITON.

 

A barragem de Fundão da SAMARCO, localizada a 35 km do município de Mariana e à 125 km de Belo Horizonte – Minas Gerais, com cerca de 55 a 65 milhões de m³ de resíduos da mineração, rompeu-se no alto das montanhas causando enxurrada de lama tóxica, causando a morte de dezenas de pessoas, destruindo moradias, escolas, plantações, infraestrutura, contaminando toda água do rio Doce, levando a morte de animais e a totalidade dos peixes, acabando com toda vida ao longo de todo rio.

 

Quando estourou, a lama contaminada desceu morro abaixo atingindo 8 metros de altura, passando por cima e destruindo por completo a comunidade de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo que ficava a abaixo, e seguiu destruindo tudo ao longo de três rios: rio Gualaxo do Norte, rio Carmo e finalmente rio Doce.

 

Entre os distritos e comunidades atingidas próximos de Mariana estão Bento Rodrigues, Camargos, Paracatu de Cima, Paracatu de Baixo, Pedras, Bicas, Campinas, Ponte do Gama, Antônio Pereira, goiabeiras. A cidade de Barra Longa, de 6.143 habitantes, teve várias áreas, ruas e casas completamente tomadas pela lama e comunidades atingidas como Gesteira e Barretos.

 

A Bacia do Rio Doce possui área de 83.400 km², sendo formada, total ou parcialmente, por 228 municípios (26 ES e 202 MG), com população de mais de 4 milhões de habitantes.

 

São 16 municípios diretamente atingidos, dentre os principais estão Mariana com 54.219, Ipatinga com 239.468, Governadores Valadares com 263.689, Colatina com 122.646 e Linhares com 163.662 habitantes, totalizando apenas nestes: 843.684 habitantes. Além de vários municípios menores como Acaiaca (4.000), Barra Longa (6.000), Santana do Deserto(4.000), Ipaba (18.000), Periquito (7.000), Tumiritinga (7.000), Galiléia (7.000), Conselheiro Pena (23.000), Resplendor (18.000), Itueta (6.000) e Aimorés (26.000). O número de atingidos na bacia hidrográfica ultrapassa 1 milhão de pessoas.

 

O rio Doce possui 880 km de extensão. A Bacia possui aproximadamente 370 mil nascentes.

 

A vida no rio Doce, também foi destruída, a água do rio totalmente contaminada e os peixes estão todos mortos até a chegada ao Mar no estado do Espírito Santo.

 

O mau cheiro de peixes, animais e vegetação morta e misturada à lama e água contaminada é insuportável.

 

A população atingida teve perdas de todo tipo. Morte de familiares, destruição de moradias inteiras, água potável, centros comunitários, escola, estradas, pontes, rede elétrica, infraestrutura, máquinas e utensílios de trabalho, plantações, frutíferas, animais domésticos, áreas e postos de trabalho, terras agricultáveis, contaminação total do rio, morte dos peixes, etc.

 

  1. AS CONSEQUÊNCIAS

 

O rompimento pode ter matado mais de 26 pessoas. Até o momento 11 mortos foram encontrados e mais 12 permanecem desaparecidos.

 

Milhares de pessoas foram atingidas pelas barragens. Muitas perderam tudo. Várias comunidades foram destruídas. Mais abaixo também há várias comunidades destruídas

 

A principal é o distrito Bento Rodrigues com 250 moradias (620 moradores) foi totalmente destruída e esta de baixo da lama. Nossas informações indicam que cerca 600 pessoas estão em hotéis e várias estão em casas de amigos e parentes.

 

Ao longo dos rios afetados, dezenas de comunidades ribeirinhas foram atingidas e estão sofrendo as consequências da destruição do rio, mas ainda não se sabe exato quantas famílias ali vivem. Cerca de 1.703 pescadores, reconhecidos no Ministério da Pesca, que viviam ao longo do rio, perderam mais de 80 espécies de peixe e perderam totalmente sua fonte de renda não estão aqui todos pescadores dos afluentes.

 

O número total de atingidos é bastante incerto porque ainda não existe um levantamento completo e preciso. Para o MAB, ao final certamente veremos que o número é bem maior que os divulgados pela empresa e pela mídia.

 

De maneira geral, cerca de 750.000 a 1.000.000 pessoas que vivem em 15 municípios ao longo do rio Doce, e que dependiam da água, estão sendo atingidas. Há graves problemas de abastecimento de água potável tanto para consumo humano, quanto para atividades produtivas.

 

São cerca de 800 km de rio que a vida foi totalmente destruída. Os primeiros dois rios (Gualaxo e Carmo) que possuem uma calha menor, o leito, as margens e as comunidades ribeirinhas ficaram totalmente destruídos e soterrados de lama contaminada. A vida no rio Doce, também foi destruída, a água do rio totalmente contaminada e os peixes estão todos mortos até a chegada ao Mar no estado do Espírito Santo.

 

O mau cheiro de peixes, animais e vegetação morta e misturada à lama e água contaminada é insuportável.

 

A população atingida teve perdas de todo tipo. Morte de familiares, destruição de moradias inteiras, água potável, centros comunitários, escola, estradas, pontes, rede elétrica, infraestrutura, máquinas e utensílios de trabalho, plantações, frutíferas, animais domésticos, áreas e postos de trabalho, terras agricultáveis, contaminação total do rio, morte dos peixes, etc.

 

Especialistas apontam que a recuperação do rio e das ares de terra soterradas vai levar décadas e muitas áreas podem tornar-se “desertos” cobertos de lama tóxica.

 

Outra questão preocupante será os impactos na saúde no decorrer do tempo ex: morreram os predadores naturais das lavras e mosquitos da dengue e agora começam as chuvas, o que ira acontecer?

 

  1. A PRESENÇA DO MAB

 

O MAB já atuava na bacia do rio Doce em várias localidades mesmo antes do rompimento.

 

Neste momento, varias lideranças do MAB estão presentes e atuando nas várias localidades junto à população para construir propostas de solução dos problemas do povo e ajudando a organizar os atingidos pelas barragens para lutar pelos seus direitos.

 

Certamente será um longo período de trabalho, organização e luta coletiva até a solução dos problemas causados.

 

A linha de denúncia

 

  1. A principal é denunciar a privatização, as principais empresas e o modelo de desenvolvimento: quem são, lucros, tudo para exportação de matéria prima, royalties, etc.

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  3. Outra linha é seguir denunciando a situação dos atingidos pelas barragens e seguir firme no trabalho, no protagonismo e consolidação do MAB como organização legítima. Denunciar a intervenção direta da empresa que busca impedir e dificultar a auto organização dos atingidos (empresa declarou que contratou 400 pessoas para atuar com os atingidos certamente parte do trabalho será combater o MAB.

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  5. Também seguir as denuncias da energia, quanto consomem, quanto pagam, de quem recebem, para onde vai, como ganham dinheiro vendendo energia, etc.

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  7. Seguir também com a denuncia de todo viés ambiental, a destruição, a morte dos peixes, a lama tóxica e os impactos na saúde.

  8.  

 

 

  1. AS PROVÁVEIS CAUSAS

 

Alguns fatores, isolados ou somados, são suspeitos de serem as prováveis causas do rompimento da barragem e da devastação ambiental subsequente:

 

- Aumento da produção, em velocidade e/ou escala, que produziu uma quantidade maior de volume de rejeitos que foram lançados na barragem, sem respeitar o tempo técnico de decantação e absorção da água, como a capacidade de carga da barragem;

 

- A presença de inúmeras rachaduras nos diques da barragem, de conhecimento da própria empresa, que comprometiam a estrutura da barragem, culminando na sua ruptura;

 

- A que se investigar porque recentemente (há menos de 4 meses) a SAMARCO suspendeu o contrato que possui com uma empresa que atuava justamente na área ambiental da empresa, incluindo a reparação das barragens;

 

- A ausência na legislação em vigor e no Plano de Evacuação de Emergência da SAMARCO de uma ação direcionada à população localizada a jusante da barragem;

 

- A decisão da EMPRESAS donas das USINAS localizadas no Rio Doce (Candonga e Aimorés) de não utilizar o reservatórios das usinas para conter a passagem da lama, evitando a devastação ao longo de todo rio.

 

- A negligência e ausência de fiscalização e controle dos órgãos do ESTADO.

 

 

 

  1. RISCO DE NOVOS ROMPIMENTOS

 

Mais duas barragens da SAMARCO correm o risco de rompimento: a barragem de SANTARÉM e de GERMANO, que contém, respectivamente 200 milhões de m³ de rejeitos (volume cerca de 4 vezes maior da que rompeu).

 

Nesta quarta (18) a SAMARCO passou a admitir pela primeira vez que quatro estruturas (diques) de contenção de rejeitos de deste complexo, estão com nível de segurança abaixo do determinado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e correm risco de rompimento.

 

Quatro paredes apresentam riscos: Selinha com 1,22 de segurança, Sela com 1,48 e Tulipa com 1,44. O mesmo acontece com uma parede de Santarém, com 1,37 (esta que foi parcialmente rompida). Antes do rompimento da barragem de Fundão o nível de segurança era avaliado em 1,57.

 

A situação mais complicada é o dique de Selinha, com 22% de estabilidade e que sustenta a barragem de Germano. Quer dizer que o dique possui apensa 22% de força a mais da força contrária que a lama esta fazendo para derrubar o dique, o mínimo exigido é 50%.

 

A SAMARCO também passou a admitir que o rompimento afetou a estrutura de Germano, que ainda não estourou. Maior volume de chuva pode agravar ainda mais a situação, admitiu.

 

A SAMARCO disse que apenas em 2016 conseguirá solucionar o risco, porque terá que fazer nova parede e necessitará movimentar muito material.

 

A Defesa Civil alertou que a barragem esta trincada com rachadura de 3 metros e pode estourar a qualquer momento.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  1. QUEM SÃO OS PROVÁVEIS RESPONSÁVEIS

 

O principal responsável é o proprietário das duas barragens. SAMARCO, VALE e BHP BILLITON

 

As barragens pertencem à SAMARCO MINERAÇÃO S.A, de propriedade das duas maiores mineradoras do mundo (Vale e BHP Billiton). 50% da Samarco pertence à VALE e a outra metade pertence à angloaustraliana BHP Billiton.

 

A VALE foi privatizada na década de 90 em um dos maiores escândalos, que envolveu o Governo FCH, o BRADESCO e o capital internacional. Atualmente 61% das ações estão nas bolsas de valores (Bovespa e Nova York), o BNDESpar tem 5,3% e o acionista majoritário é a VALEPAR. A Valepar pertence aos fundos de investimentos administrados pela Previ, com 49% das ações; ao Bradespar, do Bradesco, com 17,4%; a multinacional japonesa Mitsui com 15%; ao BNDESpar, com 9,5 e 0,03% da Elétron/Opportunity.

 

A BHP Billiton é de origem inglesa e australiana. É uma fusão da australiana Broken Hill Proprietary Company com a inglesa (radicada na África do Sul) Billiton. Atualmente tem como acionistas grandes bancos mundiais, principalmente HSBC, JP Morgan, Citicorp, UBS, etc.

 

A ATUAÇÃO DO ESTADO E GOVERNOS

 

A– O LICENCIAMENTO RECENTE DA BARRAGEM DE FUNDÃO

 

A Licença de Operação (LO) da barragem de Fundão foi revalidada por unanimidade em 2013 no Conselho Estadual de Política Ambiental (COPAM). Nenhum dos 17 órgãos e instituições representados na reunião do Copam se opôs à prorrogação da autorização para que a estrutura funcionasse até 2019.

 

A Secretaria de Agricultura e FIEMG votaram pela aprovação da revalidação da LO sem condicionantes. Entretanto, foram aprovadas as seguintes condicionantes: 1) realização do monitoramento geotécnico dos diques e da barragem, com intervalo máximo de um ano, e 2) a elaboração de um plano de contingenciamento para casos de riscos ou acidentes.

 

O Plano de Evacuação de Emergência da mineradora restringia apenas aos trabalhadores, sendo realizado nas dependências da SAMARCO. Para o treinamento, a simulação prática de emergência não contava com a participação de moradores à jusante.

 

B - A NEGLIGÊNCIA E BAIXA FISCALIZAÇÃO

 

O órgão responsável pelo controle e fiscalização é o DNPM (DEPARTAMENTO NACIONAL DE PATRIMONIO MINERARIO), mantido pela arrecadação do CEMEF (royalties da mineração).

 

Em 2014, apenas 34% das 735 barragens mineiras foram fiscalizadas. Para barragens possui apenas 12 técnicos e 4 fiscais. DNPM ainda é responsável por 27.293 empreendimentos e possui no total 220 fiscais e 430 técnicos.

 

C- APLICAÇÕES DE MULTAS

 

A SAMARCO foi multada inicialmente em R$ 250 milhões. E nesta segunda (16) a SAMARCO fechou um acordo com Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e o Ministério Público Federal (MPF) de R$ 1 bilhão que deverão ser usados para a recuperação. No entanto, alguns parlamentares já levantaram a hipótese de necessidade de R$ 10 a 14 bilhões para reparar os dados.

 

No entanto, os atingidos precisam prestar atenção que as multas podem tomas destinos incorretos de aplicação ou até mesmo nunca serem pagas pela empresa.

 

  1. O QUE ESTÁ EM JOGO

 

A) O QUE ERA PRODUZIDO

 

A unidade de produção da SAMARCO produzia pelotas de minério de ferro. (ver imagem 1) que é 100% exportado para 25 países – sendo 39% para Ásia (principalmente China), 21% para Europa, 23% para Oriente Médio e África, e 16% para América.

 

B) A JAZIDA

 

A jazida de minério de ferro da SAMARCO esta localizada entre Mariana e Juiz de Fora e possui 7,5 bilhões de toneladas de minério de ferro, conforme relatório da empresa algo em torno de 2,9 bi de toneladas recuperáveis. Considerando que a produção da Samarco em 2014 foi de 25 milhões de toneladas, isso equivale a uma reserva mineral para 115 anos de produção, no atual ritmo (pg. 36).

 

A Samarco relata que vinha vendendo até inicio de 2014 a U$ 100,5/tonelada de minério e ao final do mesmo ano o preço havia caído a U% 53,3/t. Mas teve em alguns anos que ultrapassou a faixa de U$ 150.

 

A jazida de 2,9 bilhões pode gerar faturamento equivalente a U$ 150 bilhões (ou 500 bilhões de reais). E se considerar o preço do minério a U$ 100/t este valor duplica.

 

C) O LUCRO DA SAMARCO

 

Nos últimos 05 anos a SAMARCO teve lucro total de R$ 13 bilhões, frente a um faturamento de 34 bilhões, conforme consta no Relatório de Demonstrações Financeiras 2014. Uma taxa de lucro de 38% de média ao ano. Em 2014 foram R$ 2,8 bilhões de lucro liquido.

 

  • LUCRO DA SAMARCO (RF 2014 – Samarco) em R$ bilhões

    Ano

    Receita Líquida

    Lucro Líquido

    2010

    6,24

    2,25

    2011

    7,06

    2,91

    2012

    6,55

    2,65

    2013

    7,20

    2,73

    2014

    7,54

    2,80

    TOTAL

    34,59

    13,34

 

 

D) OS ROYALTIES DA SAMARCO

 

O pagamento de royalties é insignificante. A lei diz que para minério de ferro é 2% do faturamento líquido da mineradora.

 

No entanto, em 2013 a receita líquida da SAMARCO foi de R$ 7,2 bilhões e lucro de R$ 2,72 bi, e conforme declarado pelo Departamento Nacional de Produção Mineral a empresa pagou R$ 17,3 milhões de royalties da mineração. Isso equivale a 0,25% da receita.

 

Provavelmente porque a Samarco adota uma estratégia de vender o mineral a preço baixo para a unidade da Samarco no Espirito Santo e que de lá embarca nos navios e tem isenção de impostos pela lei Kandir (esta situação deveria ser melhor investigada). Mas o fato é que R$ 17 milhões não representa nada.

 

(Os dados sobre Royalties podem ser verificados melhor ao final deste texto no ITEM Royalties).

 

 

  1. ENERGIA ELÉTRICA E A SAMARCO

 

A Samarco possui duas hidrelétricas: 50% da Guilman Amorin (140 MW potência) localizada em MG e 100% da PCH Muniz Freire (25 MW) localizada no ES. Conforme dados da ANEEL, são 94 MW de potência pertencente à companhia. Em torno de 40 MW médios.

 

Em 2012, conforme seu relatório anual, a SAMARCO teve 20,3% da demanda atendida por estas duas usinas, ou seja, por 40 MW médios, isso significa que o consumo total neste ano deve ter sido próximo a 200 MW médios (ou 1.752.000 MWh/ano).

 

No mesmo ano a Samarco produziu 22 milhões de toneladas de minério de ferro, ou seja, isso equivale um gasto médio de 80 kWh de eletricidade para produzir 1.000 kg do mineral. Ou seja, 2 toneladas consome energia equivalente ao consumo médio de um mês de uma família.

 

Considerando que o consumo médio das famílias brasileiras no ano passado foi de 167 kWh/mês (ou 2.004 kWh/ano = 2 MWh/ano) a SAMARCO consumiu energia equivalente ao consumo de 875 mil residências brasileiras. Considerando que ao longo da bacia do rio Doce vivem cerca de 1 milhão de pessoas (em torno de 250 mil residências), significa então que a unidade de produção da SAMARCO consome cerca de 4 vezes mais energia que todo consumo de todas as famílias que vivem nos municípios ao longo do rio Doce ou o que a empresa consome de energia em 1 ano equivale ao que toda população do rio Doce consumiria em 4 anos.

 

A SAMARCO paga bem mais barato pela energia. Como já foi dito, ela possui cerca de 20% da energia consumida (40 MW médios). O restante ela recebe da CEMIG através de uma contrato livre e com sigilo.

 

No dia 2 de agosto de 2012, a SAMARCO fechou um contrato de compra de energia de 409 MW médios com a CEMIG, chamado de contrato livre. Pelo acordo firmado, a CEMIG fornecerá energia no período de 2014 até 2022 e o valor total do contrato era cerca de R$ 2 bilhões. Ou seja, em 8 anos a Samarco vai receber cerca de 28,6 milhões de MWh de energia e vai pagar cerca de R$ 2 bilhões por esta energia. Na época do contrato (2012) significaria um preço médio de R$ 70/MWh.

 

Considerando que a inflação (IPCA) nestes 3 anos foi em média 22% , hoje (novembro) a tarifa paga pela Samarco à CEMIG é em torno de R$ 85/MWh. Este valor pode ser um pouco diferente porque o contrato é sigiloso e este valor é uma dedução a partir dos dados divulgados pelas empresas.

 

Recentemente o MAB fez um levantamento das tarifas que a população de MG paga mensalmente à CEMIG. É a maior tarifa do Brasil. As residência chegam a pagar R$ 990/1.000 kWh consumidos.

 

Vejamos uma comparação dos preços sobre o consumo de 160 kWh. Este consumo é um bom parâmetro porque é o consumo da Samarco para produzir 2 toneladas de minério de ferro e também é o consumo médio mensal de uma residência.

 

Enquanto a tarifa da SAMARCO com a CEMIG prevê pagamento próximo de R$ 15 pelos 160 kWh (levar em consideração que neste valor ainda é acrescido alguns impostos/encargos, mas pouco altera), uma residência paga em torno de R$ 160 pela mesma quantidade de energia consumida. Ou seja, as residências pagam em torno de DEZ VEZES MAIS.

 

Por fim, a especulação com a venda de energia rendeu R$ 405 milhões para Samarco, que vendeu a preços que chegaram a R$ 823/1000 kWh. Energia que vem recebendo da CEMIG a R$ 85.

 

A SAMARCO vem especulando com a venda de energia no Mercado de Curto Prazo (MCP), através da venda de energia pelo chamado “Preço de Liquidação”. Em 2014 a empresa declarou no seu relatório (pg.15) que mesmo com os preços do minério de ferro em queda ela conseguiu manter e até aumentar o seu lucro graças ao faturamento de R$ 405 milhões com a venda de energia elétrica excedente aproveitando a “oportunidade do Mercado de Curto Prazo”.

 

Só para recordar, este foi o principal esquema que causou os aumentos nas contas de luz em 2015. Em 2014, o preço médio de venda da energia através destes tipos de contratos ficou em torno de R$ 680 por 1.000 kWh, mas em momentos chegou a atingir R$ 823. Isso causou um rombo para as distribuidores de R$ 20 bilhões no ano através da chamada “exposição”, dinheiro que esta sendo pago neste ano através do aumento nas contas de luz das residências que chegaram a 80% no ano.

 

Devemos observar que com a energia da CEMIG e mais a energia própria, a SAMARCO tem mais energia que consome. Ao todo possui cerca de 450 MW médios. Se em 2012 ela consumiu em torno de 200 MW médios para produzir 22 milhões de toneladas, e em 2014 a empresa declarou que produziu 25,1 milhões de toneladas (15% a mais), significa que a Samarco esta vendendo a energia das suas usinas e ainda parte da energia barata que recebe da CEMIG.

 

Lembrando que em 2012, exatamente no mesmo período, o Governo Dilma propôs para CEMIG a renovação dos contratos das usinas com redução das tarifas para população. A CEMIG não aceitou entregar a energia ao povo brasileiro, mas aceitou entregar a energia a preço baixo para uma empresa que tem como donos o capital internacionais e que entre eles estão, Bradesco, HSBC, JP Morgan, Mitsui, Citicorp, UBS, etc. Ou seja, os maiores bancos mundiais.

 

 

 

  1. OS ROYALTIES

  2.  

A Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM) é estabelecida desde 1988, em seu Art. 20, § 1º. A alíquota vai de 0,2% a 3% do faturamento líquido da mineradora, dependendo do tipo de minério. No caso do Ferro é 2%. Do total arrecadado com a Cfem, 65% vão para o município produtor, 23% para o Estado e 12% para a União.

 

 

Entre os municípios, o maior arrecadador é Parauapebas (PA), onde fica a mina de Carajás, da Vale, em julho o município recebeu R$ 11,15 milhões. O segundo na lista é Mariana (MG), com R$ 4,858 milhões no mesmo mês. 

 

Arrecadação Nacional (União, estados e municípios):

 

Em 2013 foram arrecadados R$ 2,38 bilhões através da CFEM. Mas vem caindo muito – 2014 foi de R$ 1,7 bilhões. A queda na arrecadação é resultado na queda dos preços internacionais do minério, isso significa que a parte que deixamos de arrecadar em royalties passa ir como transferência de riqueza aos países que importam o minério.

 

Arrecadação por empresas: Conforme o relatório de 2013 do Departamento Nacional de Produção Mineral – MME, a SAMARCO contribuiu com apenas R$ 17 milhões de royalties em 2013 através da CFEM, para um lucro líquido de R$ 2,8 bilhões.

 

 

  1. PROPOSTA DE PLANO DE TRABALHO DO QUEM LUTA EDUCA.

 

Debatermos na semana passada o ocorrido na direção nacional do MAB em São Paulo e na direção Mineira também. Tiramos a seguinte sugestão:

 

* Sobre a conjuntura que se abriu a nossa posição é que devemos aproveitar o máximo para avançarmos no debate, articulação, organização e mobilização para combatermos o projeto de desenvolvimento atual.

 

Devemos denunciar a forma que se faz mineração, barragens se geração de energia em MG e no Brasil.

 

Temos que coloca nesse momento a possibilidade retomar a luta pela reestatização da VALE.

 

* Sobre os atingidos buscaremos fortalecer a organização MAB em toda Bacia, através do método de construção do Movimento. Já temos organização e articulação com QLE em pontos estratégicos da bacia com militantes morando. Nesse momento estamos com militantes de outros estados nos ajudando em 09 pontos que consideramos prioritários, mas contamos com o apoio de todas as entidades especialmente QLE que possam nos ajudar.

 

* Construirmos as articulações as agendas e as lutas a partir do Quem Luta Educa como o sujeito principal de direção e prezar muito pelo método de construção.

 

PASSOS

 

  1. Dia 03 e 04 na formação usar o dia 04 para fecharmos o plano de Ação usar o dia todo para debater. Talvez ainda no dia 4 as 18:00 fazer uma plenária ampliada com a frente Brasil popular e os Movimentos Ambientalistas, igrejas, universidades.

 

  1. Dia 12 de dezembro terá a plenária do Quem Luta Educa trazer ônibus de todas as regiões, deveríamos fazer um levantamento de todas as lideranças da Bacia para juntos debatermos as propostas das agendas e Lutas talvez fazendo na parte da tardinha um ato público com presença de atingidos de Mariana (nós podemos organizamos os 15 militantes atingidos que se destacaram) e trazer toda região metropolitana.

 

  1. Dia 25 de dezembro estamos construindo uma proposta mística para realizarmos junto as famílias atingidas de Mariana um grande natal solidário, a presença de entidades, famílias, amigos e QLE seria um grande momento.

 

  1. Dezembro e Janeiro Realizar debates públicos ou assembleias populares em todos principais municípios atingidos e nas grandes regiões do Estado envolvendo o Fato Mariana juntamente com o debate já iniciado da Energia: indústria, petróleo, educação e saúde.

 

  1. Construir um ousado plano de comunicação onde se faça um cronograma de quem vai assumindo em cada semana a tarefa para não cair no esquecimento. Tirar um grupo para formular a proposta e apresentar dia 04.

 

  1. 14 de março é a semana internacional dos atingidos por barragens fazer o dia D.

 

Água, minério e energia com soberania, distribuição da riqueza e controle popular!

 

MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens

 

Belo Horizonte, 19 de novembro de 2015. MAB

 

 

 

https://www.alainet.org/pt/articulo/173960
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