Ingerência dos EUA na América Latina é destaque na Cúpula dos Povos
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Encontro ocorre paralelamente à reunião dos chefes de Estado, no Panamá
Uma marcha organizada por movimentos populares de toda América Latina realizada na tarde desta quinta-feira (9) marcou o início da Cúpula dos Povos no Panamá, evento que ocorrerá de forma paralela à Cúpula das Américas, onde se encontrarão os presidentes do continente.
A manifestação se concentrou próxima à embaixada de Cuba no país e seguiu até a Universidade do Panamá, local onde o evento ocorre. A tônica da caminhada foi de solidariedade ao governo e ao povo venezuelanos. Muitos presentes vestiam camisetas nas quais se podia ler “Venezuela não é uma ameaça, é a esperança” ou “Obama, revogue o decreto já!”.
As mensagens faziam referência ao decreto do governo estadunidense que considera a Venezuela uma ameaça à segurança dos EUA e estabelece propostas de sanções econômicas.
Muitos panamenhos presentes na manifestação também lembravam das ingerências estadunideneses sobre seu país. “A Venezuela é o país que está indicando o rumo para a integração latino-americana, e por isso é hoje ataca pelo império”, disse o panamenho Marcelino Ruiz, de 65 anos. “Nós também fomos atacados por eles, massacraram o povo, muitas pessoas morreram e a até hoje não houve justiça”, afirmou Ruiz, em referência à invasão de 1989. “Com a desculpa de capturar uma pessoa, vários bairros foram destruídos”, acrescentou. À época, tanto a Organização das Nações Unidas (ONU) como a Organização dos Estados Americanos (OEA) condenaram a operação dos EUA.
O tom de denúncia se combinava à esperança dos venezuelanos presentes na caminhada, como Dennys Guedez. “O povo venezuelano e latinoamericano estão unidos contra esse decreto absurdo e infame. Maduro foi legitimamente eleito”, afirmou. Para ele há chances dos EUA mudarem sua posição durante o encontro no Panamá. “Os povos estão aqui, está tudo à mostra, a opinião pública mundial está pressionando Obama para que as relações com a região melhorem”, concluiu Guedez.
Debates
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Elberto Cobos, presidente da Central Nacional dos Trabalhadores do Panamá e vice-presidente da Federação Sindical Mundial. |
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Os integrantes da mesa de abertura da Cúpula dos Povos mantiveram o tom de crítica aos EUA. Fernando Cebamanos, presidente da Frente Ampla Democrática (FAD), partido de esquerda no Panamá, destacou aquilo que considera a ofensiva dos EUA sobre a América Latina, “em especial nos casos de Cuba e Venezuela”, lembrando um episódio na qual a história dos três países se entrelaçou. Trata-se da tentativa, em 2000, de assassinato de Fidel Castro pelo agente da CIA Luis Posada Carriles, cujo plano era explodir exatamente o mesmo auditório da Universidade do Panamá onde a Cúpula dos Povos estava sendo inaugurada. Carriles é conhecido por ter derrubado um avião comercial cubano em 1976 e por ter realizado uma série de atentados terroristas com bombas em pontos turísticos da ilha.
Elberto Cobos, presidente da Central Nacional dos Trabalhadores do Panamá e vice-presidente da Federação Sindical Mundial, celebrou a presença dos ativistas latino-americanos, cujo número, segundo a organização, ultrapassou 3.000 pessoas. “Essa é a verdadeira Cúpula, sem listas secretas, sem patrocínios de do Pentágono e de multinacionais. Aqui estão os povos, de forma voluntária”, disse o sindicalista. Cobos terminou sua fala de forma enfática, se dirigindo aos dissidentes cubanos e venezuelanos: “O Panamá não é Miami!”.
Fórum da Sociedade Civil
O discurso do panamenho fazia referência às tensões ocorridas durante o Fórum da Sociedade Civil, evento oficial prévio à Cúpula dos Povos. Desde a quarta-feira (8), os cubanos vinham denunciando a presença de opositores do regime socialista nos espaços destinados às discussões dos representantes da sociedade civil dos diversos países (Leia mais: http://brasildefato.com.br/node/31774). A participação de elementos ligados a ações terroristas na América Latina promovidas pela CIA passou a ser criticado por pessoas de outros países.
Na manhã da quinta-feira (9), dois grupos de trabalho foram inviabilizados por conta da questão. No grupo temático de discussões sobre “governabilidade”, a delegação oficial dos representantes da sociedade civil de Cuba reclamava que parte de seus integrantes não havia conseguido se credenciar, ao contrário dos que ocorrera com os dissidentes. A situação chegou a um limite quando o mesmo Carriles citado por Cebamanos adentrou a sala para tentar acompanhar a reunião.
Os cubanos exigiram a saída de Carriles antes que as discussões começassem. Como os membros da OEA não atenderam ao pedido, os trabalhos não prosseguiram e, com a confusão, o debate do grupo sobre “participação cidadã” também foi interrompido. Ao final, com estadunidenses e os dissidentes se retirando, os cubanos e as delegações que permaneceram prosseguiram as discussões de maneira informal.
O Fórum da Sociedade Civil termina na sexta-feira (10) e a Cúpula dos Povos no sábado (11). A Cúpula das Américas, no domingo (12).
- Rafael Tatemoto, enviado especial ao Panamá
10/04/2015
http://www.brasildefato.com.br/node/31797
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