A política por outros meios

12/11/2014
  • Español
  • English
  • Français
  • Deutsch
  • Português
  • Opinión
-A +A
O filósofo Michael Foucault, disse, invertendo a frase célebre do general Clausewitz, que, “a política é a guerra por outros meios”. E a explicação é simples: na realidade cotidiana da política, o que mais vemos são ataques desferidos entre as forças, em vistas de garantirem o poder. Uma verdadeira guerra democrática contra a democracia, pois cada uma quer impor a sua vontade.
 
Em meio a tantas confusões, circula entre as pessoas mais experientes, um sentimento de satisfação com o fortalecimento da atual democracia normativa, que estabelece pela lei, direitos e deveres iguais para todos. No entanto, a referência para a comparação sempre é o seu oposto, a ditadura militar e nunca a sua qualificação para a democracia popular.
 
O que temos no Brasil é um corpo jurídico e político que governa desde a origem da república com os três poderes representativos. Eles funcionam, tendo em frente o poder da propriedade privada e do capital, que pagam pelos processos judiciais e pelas disputas eleitorais. Ao largo, temos outras duas forças consideráveis: as forças armadas e as forças populares.
 
As forças armadas gozam da simpatia dos capitalistas; são vistas como o exército de reserva em caso de terem que fazer política por outros meios. As forças populares, embora possam ser levadas a apoiar as forças de direita, sempre foram vistas pelas organizações de esquerda, como forças fundamentais para exercitarem a política por outros meios e, através da insurreição, chegarem ao poder popular.
 
Em tempos de conflitos de baixa intensidade entre os poderes institucionais, as forças armadas e as forças populares são incômodas quando reivindicam melhorias e, bem vistas, quando se submetem e ajudam a garantir a ordem de direito; é claro que em benefício da classe dominante.
 
No entanto, na atualidade, setores descontentes com o governo, intensificam as pressões para garantirem o aprofundamento dos interesses dos capitalistas. Acenam para as forças armadas colocarem abaixo, com o golpe de Estado, a própria ordem com a qual sempre se sustentaram no poder. Por sua vez, as forças de esquerda, que deveriam apelar para as forças populares e acelerarem o processo de insurreição para aperfeiçoarem a democracia participativa, intimidam-se e oferecem uma reforma política, para moralizar a guerra eleitoral e garantir a governabilidade.
 
Se a política é a guerra por outros meios, o golpe militar é a ação política que ameaça a frágil democracia burguesa. A resposta não pode ser dada com reformas parciais e concessões que garantam a ordem e o modelo de exploração do capital, mas com outra proposta de mobilização e organização popular que defenda o aprofundamento da democracia, através do processo de luta permanente pela construção do poder popular.
 
Mais ainda, se a política é a guerra por outros meios, as forças populares devem agarrar as crises para colocarem-se em melhores posições no campo das disputas, sem deixar que os sobressaltos das contradições da democracia burguesa intimidem os avanços para a construção da democracia popular. E a equação é simples: se as empresas no capitalismo pertencem aos capitalistas, o Estado não pertence aos trabalhadores. Por isso, tanto o poder empresarial dos capitalistas, quando o poder político do Estado e seus governos, devem ser ultrapassados.  Nesse caso, ganhamos quando evitamos um retrocesso, mas, perdemos se não vamos além do degrau que estamos para elevar a luta de classes a outro patamar. 
 
- Ademar Bogo é filósofo e camponês. 
 
11/11/2014
 
 
https://www.alainet.org/pt/active/78745?language=es

Del mismo autor

Subscrever America Latina en Movimiento - RSS