Diz Marco Aurélio Garcia
Aécio está à direita de FHC
19/10/2014
- Opinión
“Considero que ele (Aécio Neves) esteja à direita da política externa de Fernando Henrique Cardoso”, argumenta Marco Aurélio Garcia ao analisar a posição do candidato tucano durante o debate com a presidenta Dilma na terça-feira passada na Band, quando o candidato questionou os acordos entre Brasil e Cuba para a construção do Porto de Mariel.
“Eu me lembro que a aproximação com Cuba começou durante o governo do ex-presidente (José) Sarney (1985-1990) e continuou com Cardoso, é certo que durante o governo do Fernando Henrique não havia uma grande atração, mas em termos gerais, houve uma aproximação”, disse Garcia durante entrevista à Carta Maior.
“O que (Aécio) fez durante o debate com Dilma foi vestir o traje do anticomunismo clássico al falar das relações do Brasil com Cuba... Fez um movimento duplo, primeiro tentou ganhar as pessoas de direita que estão sempre contra Cuba e, em segundo lugar, distorceu as negociações para a construção do Porto de Mariel.
Dilma lhe respondeu com uma explicação muito correta, o que o Brasil fez foi exportar serviços para Cuba em uma negociação em que as duas partes ganham. Ele quer detalhes do contrato, mas todo mundo sabe que qualquer contrato comercial, não apenas em Cuba, contém cláusulas sigilosas, os bancos operam assim. Além disso, ele se valeu de um argumento demagógico que é dizer que enquanto se financia Mariel, os portos do Brasil estão mal, quando os portos estão em processo de reconstrução avançado”.
Este é um indício do que poderia ser a diplomacia em um governo social democrata?
Acredito que se eles ganharem tentarão uma catastrófica reorientação da política externa porque o que propõem vá na contramão das tendências mundiais e do interesse nacional do Brasil e da região.
Por outro lado, permita-me fazer uma correção sobre o PSDB. O PSDB é socialdemocrata apenas no nome. O PSDB foi ao encontro da social democracia quando ela foi criada, quando a social democracia europeia abandonou seu projeto de Estado de bem-estar e debandou para as políticas neoliberais. Isso foi muito ruim para o mundo, e se tornou explícito na crise final da Internacional Socialista. Na verdade, nós estamos em um período histórico que eu chamo pós-comunista e pós-social democrata.
Em certa medida, são os governos como o nosso, do PT, que estão retomando agora alguns pontos da agenda que era da social democracia.
Marina Silva formalizou seu apoio a Aécio. Seria ela candidata ao Ministério das Relações Exteriores. Procede esse rumor?
Não tenho ideia. Eu não posso especular sobre como seria o ministério da presidenta Dilma, muito menos sobre o de Aécio.
Marina pareceu muito afinada com Washington?
Sim, foi assim. Mas foi uma afinidade um pouco estranha porque não entendeu bem qual era o tom da afinidade... uns diziam que (se fosse eleita) Marina se daria muito bem com Obama, certamente Dilma se deu muito bem com Obama em âmbito pessoal, mas este aspecto não é o que prevalece em uma relação onde o que está em jogo são os interesses do Brasil e dos Estados Unidos e da região.
Nesta campanha, os assuntos internacionais apareceram com mais peso do que em outros períodos proselitistas Pode-se incluir neste contexto as críticas da oposição ao discurso da Dilma na ONU?
Eles questionaram o suposto tom eleitoral da presidenta com má-fé incrível, eludindo que todos os presidente vão à ONU para expor seu ponto de vista sobre a situação internacional. Dilma falou de um mundo onde a desigualdade cresce, onde há fome, crise econômica, desemprego, e explicou que o Brasil está enfrentando essa crise sem afetar o emprego nem a renda dos trabalhadores. Isto foi dito na ONU 15 dias depois de a FAO retirar o Brasil do mapa da fome.
O que Dilma fez foi um discurso político como é próprio da diplomacia presidencial, e acredito que esses setores da direita a criticaram porque ela não se enquadra na subserviência (diante dos EUA), que é tão cara para alguns. Acredito que eles sintam “saudades da subserviência” diplomática do passado. Não quero desqualificar ninguém com isto, eu acredito que o amor é um sentimento que não se discute... e a subserviência é uma forma perversa de amor (risos).
Diplomatas ligados ao PSDB questionaram a posição brasileira sobre os bombardeios do Estado Islâmico.
Na verdade, a presidenta não se pronunciou sobre as ações armadas contra o Estado Islâmico. Ela manifestou seu rechaço às ações armadas à margem do direito internacional, sem autorização do Conselho de Segurança, porque já temos experiência no assunto. A primeira delas, e a mais trágica, foi no Iraque em 2003 (durante o governo Lula), nós contribuímos para que não houvesse autorização do Conselho para a invasão. Ao final, a ação armada aconteceu e teve o resultado que conhecemos. E acredito que desde então se fortaleceu a posição brasileira contra ações desse tipo. Iraque estava mal com Saddam Hussein, mas hoje está pior, hoje é um caos absoluto, depois veio a ação contra a Líbia, que hoje está submersa no caos e não se sabe quem governa.
IMPACTO REGIONAL
Que impacto teria uma vitória de Dilma na região onde a Aliança do Pacífico parece ameaçar o Mercosul?
Não tenho dúvidas de que a vitória de Dilma será importante para a região, mas não acredito que a Aliança do Pacífico seja um problema, inclusive o governo do Chile que integra a Aliança tem interesse em buscar uma aproximação com o Mercosul. A vitória da presidenta Michelle Bachellet significou uma inflexão positiva de sua política externa em relação à America do Sul. Não se pode trabalhar com a ideia de opor a Aliança e o Mercosul. São duas instituições que podem se aproximar.
Se Dilma vencer, haverá novidades a partir de 2015?
Sim. Acredito que precisamos de uma discussão de fundo sobre o Mercosul e a Unasul. É preciso ir além das ideias atuais, deixar de lado algumas paixões nacionais e adotar uma paixão regional para ir em direção a uma integração produtiva. Se não, surgiram ideias que buscarão desestabilizar o Mercosul.
O Mercosul tem que ser um fator dinamizador de nossas economias e a Unasul tem que desenvolver sua estrutura física e energética. Isto fará com que a população sinta que a Unasul é importante. Ainda há setores presos em suas ideias que acreditam que tudo se resolve com o livre comércio e a verdade é que o fundamental é a integração produtiva. Se fosse somente pelo livre comércio, Argentina e Brasil dominariam a América do Sul e isso seria ruim. O que temos que fazer é integrar cadeias de valor.
E te digo algo importante: a partir de 2015, o Brasil entrará em um ciclo de expansão econômica, não tenha dúvidas, devido ao petróleo do Pré-sal, e o Brasil não pode responder a todas as demandas que são feitas. Já solicitamos barcos argentinos e haverá uma demanda impressionante em vários setores. E a partir de 2015 e 2016, serão construídas estradas, ferrovias, portos e aeroportos em nosso país, alguns já concluídos, tudo isto criará um dinamismo que pode ser irradiado para países da região.
Dilma desistiu de fazer uma visita de Estado a Washington em 2013 após a espionagem da NSA. Está descartada uma nova viagem mais adiante?
O que aconteceu em 2013 foi algo gravíssimo. Que haja espionagem contra o governo brasileiro, contra empresas privadas, contra empresas públicas e a presidenta da República é algo que não se pode deixar passar como se não fosse nada.
Agora, acredito que, em algum momento, esta visita (a Washington) poderia seria feita, mas isto não seria em 2014. Acredito que há algo que está claro: Brasil e América Latina não ocupam um lugar privilegiado na agenda dos Estados Unidos.
Isso é ruim?
Isso é bom e ruim. Recordemos que, historicamente, a posição dos Estados Unidos em relação à América Latina é relativa, … estou terminando a leitura de uma biografia de Raúl Prebisch, que é muito interessante porque fala da dificuldade que os Estados Unidos sempre tiveram em alguns movimentos (de aproximação) durante a II Guerra, mas quando terminou, não fizeram um Plano Marshall para a região. E no caso do Brasil eles dissolveram unilateralmente a comissão econômica dos dois países.
É uma relação que ganha corpo cada vez que a hegemonia norte-americana se vê relativamente ameaçada. Atualmente, os Estados Unidos sequer estão muito preocupados com a Europa. Seu centro de interesse é a Ásia, novamente a Rússia, quando Putin fez sua inflexão em relação à China.
A participação brasileira nos BRICS fez com que Washington se distanciasse mais de Brasília?
Um dos assessores que tivemos em meu escritório foi o brilhante embaixador Patriota, irmão do ex-chanceler, quem foi a muitos encontros internacionais, e ele nos informou que ficou muito impactado que nesses eventos os “tanques de ideias” dos Estados Unidos mostravam uma grande hostilidade em relação ao grupo BRICS. Acredito que os norte-americanos não gostem que surjam cachorros grandes no tabuleiro internacional, e muito menos que surjam matilhas, e o BRICS poderá ser uma matilha. Claro que não tenho nenhuma opinião oficial dos Estados Unidos (contra o BRICS), mas é certo que intelectuais e diplomatas americanos têm uma certa preocupação.
Qual é sua opinião sobre o conflito entre Argentina e os fundos abutres?
Seria gravíssimo se esta situação não se resolvesse. Seria gravíssimo para Argentina, mas acredito que o país encontrará formas de resistência, e já está encontrando... Em segundo lugar, muito ruim para o Brasil e para a Argentina porque temos uma imbricação muito forte de nossas economias. Se isto acontecer algo ruim entre no Brasil ou na Argentina, os dois países sentirão muito. E em terceiro lugar, acredito que isto seja péssimo para o mundo porque significa a introdução de práticas que são absolutamente inaceitável do ponto de vista da economia e das finanças internacionais. É uma extraordinária anomalia.
O senhor recebeu empresários brasileiros para tratar do assunto?
Houve uma intensa aproximação entre autoridades do governo brasileiro e do governo argentino... o ministro (Guido) Mantega se reuniu mais de uma vez com o ministro Axel (Kicillof), nosso ministro de Indústria e Comércio Exterior teve várias reunião, e eu também ajudei no que pude.
Sim, há interesse por parte de nossos empresários, eles sabem que serão afetados se acontecer algo ruim com a Argentina. Além disso acreditam que em uma operação deste tipo (eventual ajuda financeira) poderiam ganhar alguns pesos.
Mas quero ser claro, não quero ir além em tudo isto (ajuda de empresários) porque desde os primeiros contatos, quando eles me procuraram, eu disse que em toda operação é preciso ter acordo total do governo argentino. E em segundo lugar, precisa acontecer na mais absoluta discrição.
- Dario Pignotti, @DarioPignotti
“Eu me lembro que a aproximação com Cuba começou durante o governo do ex-presidente (José) Sarney (1985-1990) e continuou com Cardoso, é certo que durante o governo do Fernando Henrique não havia uma grande atração, mas em termos gerais, houve uma aproximação”, disse Garcia durante entrevista à Carta Maior.
“O que (Aécio) fez durante o debate com Dilma foi vestir o traje do anticomunismo clássico al falar das relações do Brasil com Cuba... Fez um movimento duplo, primeiro tentou ganhar as pessoas de direita que estão sempre contra Cuba e, em segundo lugar, distorceu as negociações para a construção do Porto de Mariel.
Dilma lhe respondeu com uma explicação muito correta, o que o Brasil fez foi exportar serviços para Cuba em uma negociação em que as duas partes ganham. Ele quer detalhes do contrato, mas todo mundo sabe que qualquer contrato comercial, não apenas em Cuba, contém cláusulas sigilosas, os bancos operam assim. Além disso, ele se valeu de um argumento demagógico que é dizer que enquanto se financia Mariel, os portos do Brasil estão mal, quando os portos estão em processo de reconstrução avançado”.
Este é um indício do que poderia ser a diplomacia em um governo social democrata?
Acredito que se eles ganharem tentarão uma catastrófica reorientação da política externa porque o que propõem vá na contramão das tendências mundiais e do interesse nacional do Brasil e da região.
Por outro lado, permita-me fazer uma correção sobre o PSDB. O PSDB é socialdemocrata apenas no nome. O PSDB foi ao encontro da social democracia quando ela foi criada, quando a social democracia europeia abandonou seu projeto de Estado de bem-estar e debandou para as políticas neoliberais. Isso foi muito ruim para o mundo, e se tornou explícito na crise final da Internacional Socialista. Na verdade, nós estamos em um período histórico que eu chamo pós-comunista e pós-social democrata.
Em certa medida, são os governos como o nosso, do PT, que estão retomando agora alguns pontos da agenda que era da social democracia.
Marina Silva formalizou seu apoio a Aécio. Seria ela candidata ao Ministério das Relações Exteriores. Procede esse rumor?
Não tenho ideia. Eu não posso especular sobre como seria o ministério da presidenta Dilma, muito menos sobre o de Aécio.
Marina pareceu muito afinada com Washington?
Sim, foi assim. Mas foi uma afinidade um pouco estranha porque não entendeu bem qual era o tom da afinidade... uns diziam que (se fosse eleita) Marina se daria muito bem com Obama, certamente Dilma se deu muito bem com Obama em âmbito pessoal, mas este aspecto não é o que prevalece em uma relação onde o que está em jogo são os interesses do Brasil e dos Estados Unidos e da região.
Nesta campanha, os assuntos internacionais apareceram com mais peso do que em outros períodos proselitistas Pode-se incluir neste contexto as críticas da oposição ao discurso da Dilma na ONU?
Eles questionaram o suposto tom eleitoral da presidenta com má-fé incrível, eludindo que todos os presidente vão à ONU para expor seu ponto de vista sobre a situação internacional. Dilma falou de um mundo onde a desigualdade cresce, onde há fome, crise econômica, desemprego, e explicou que o Brasil está enfrentando essa crise sem afetar o emprego nem a renda dos trabalhadores. Isto foi dito na ONU 15 dias depois de a FAO retirar o Brasil do mapa da fome.
O que Dilma fez foi um discurso político como é próprio da diplomacia presidencial, e acredito que esses setores da direita a criticaram porque ela não se enquadra na subserviência (diante dos EUA), que é tão cara para alguns. Acredito que eles sintam “saudades da subserviência” diplomática do passado. Não quero desqualificar ninguém com isto, eu acredito que o amor é um sentimento que não se discute... e a subserviência é uma forma perversa de amor (risos).
Diplomatas ligados ao PSDB questionaram a posição brasileira sobre os bombardeios do Estado Islâmico.
Na verdade, a presidenta não se pronunciou sobre as ações armadas contra o Estado Islâmico. Ela manifestou seu rechaço às ações armadas à margem do direito internacional, sem autorização do Conselho de Segurança, porque já temos experiência no assunto. A primeira delas, e a mais trágica, foi no Iraque em 2003 (durante o governo Lula), nós contribuímos para que não houvesse autorização do Conselho para a invasão. Ao final, a ação armada aconteceu e teve o resultado que conhecemos. E acredito que desde então se fortaleceu a posição brasileira contra ações desse tipo. Iraque estava mal com Saddam Hussein, mas hoje está pior, hoje é um caos absoluto, depois veio a ação contra a Líbia, que hoje está submersa no caos e não se sabe quem governa.
IMPACTO REGIONAL
Que impacto teria uma vitória de Dilma na região onde a Aliança do Pacífico parece ameaçar o Mercosul?
Não tenho dúvidas de que a vitória de Dilma será importante para a região, mas não acredito que a Aliança do Pacífico seja um problema, inclusive o governo do Chile que integra a Aliança tem interesse em buscar uma aproximação com o Mercosul. A vitória da presidenta Michelle Bachellet significou uma inflexão positiva de sua política externa em relação à America do Sul. Não se pode trabalhar com a ideia de opor a Aliança e o Mercosul. São duas instituições que podem se aproximar.
Se Dilma vencer, haverá novidades a partir de 2015?
Sim. Acredito que precisamos de uma discussão de fundo sobre o Mercosul e a Unasul. É preciso ir além das ideias atuais, deixar de lado algumas paixões nacionais e adotar uma paixão regional para ir em direção a uma integração produtiva. Se não, surgiram ideias que buscarão desestabilizar o Mercosul.
O Mercosul tem que ser um fator dinamizador de nossas economias e a Unasul tem que desenvolver sua estrutura física e energética. Isto fará com que a população sinta que a Unasul é importante. Ainda há setores presos em suas ideias que acreditam que tudo se resolve com o livre comércio e a verdade é que o fundamental é a integração produtiva. Se fosse somente pelo livre comércio, Argentina e Brasil dominariam a América do Sul e isso seria ruim. O que temos que fazer é integrar cadeias de valor.
E te digo algo importante: a partir de 2015, o Brasil entrará em um ciclo de expansão econômica, não tenha dúvidas, devido ao petróleo do Pré-sal, e o Brasil não pode responder a todas as demandas que são feitas. Já solicitamos barcos argentinos e haverá uma demanda impressionante em vários setores. E a partir de 2015 e 2016, serão construídas estradas, ferrovias, portos e aeroportos em nosso país, alguns já concluídos, tudo isto criará um dinamismo que pode ser irradiado para países da região.
Dilma desistiu de fazer uma visita de Estado a Washington em 2013 após a espionagem da NSA. Está descartada uma nova viagem mais adiante?
O que aconteceu em 2013 foi algo gravíssimo. Que haja espionagem contra o governo brasileiro, contra empresas privadas, contra empresas públicas e a presidenta da República é algo que não se pode deixar passar como se não fosse nada.
Agora, acredito que, em algum momento, esta visita (a Washington) poderia seria feita, mas isto não seria em 2014. Acredito que há algo que está claro: Brasil e América Latina não ocupam um lugar privilegiado na agenda dos Estados Unidos.
Isso é ruim?
Isso é bom e ruim. Recordemos que, historicamente, a posição dos Estados Unidos em relação à América Latina é relativa, … estou terminando a leitura de uma biografia de Raúl Prebisch, que é muito interessante porque fala da dificuldade que os Estados Unidos sempre tiveram em alguns movimentos (de aproximação) durante a II Guerra, mas quando terminou, não fizeram um Plano Marshall para a região. E no caso do Brasil eles dissolveram unilateralmente a comissão econômica dos dois países.
É uma relação que ganha corpo cada vez que a hegemonia norte-americana se vê relativamente ameaçada. Atualmente, os Estados Unidos sequer estão muito preocupados com a Europa. Seu centro de interesse é a Ásia, novamente a Rússia, quando Putin fez sua inflexão em relação à China.
A participação brasileira nos BRICS fez com que Washington se distanciasse mais de Brasília?
Um dos assessores que tivemos em meu escritório foi o brilhante embaixador Patriota, irmão do ex-chanceler, quem foi a muitos encontros internacionais, e ele nos informou que ficou muito impactado que nesses eventos os “tanques de ideias” dos Estados Unidos mostravam uma grande hostilidade em relação ao grupo BRICS. Acredito que os norte-americanos não gostem que surjam cachorros grandes no tabuleiro internacional, e muito menos que surjam matilhas, e o BRICS poderá ser uma matilha. Claro que não tenho nenhuma opinião oficial dos Estados Unidos (contra o BRICS), mas é certo que intelectuais e diplomatas americanos têm uma certa preocupação.
Qual é sua opinião sobre o conflito entre Argentina e os fundos abutres?
Seria gravíssimo se esta situação não se resolvesse. Seria gravíssimo para Argentina, mas acredito que o país encontrará formas de resistência, e já está encontrando... Em segundo lugar, muito ruim para o Brasil e para a Argentina porque temos uma imbricação muito forte de nossas economias. Se isto acontecer algo ruim entre no Brasil ou na Argentina, os dois países sentirão muito. E em terceiro lugar, acredito que isto seja péssimo para o mundo porque significa a introdução de práticas que são absolutamente inaceitável do ponto de vista da economia e das finanças internacionais. É uma extraordinária anomalia.
O senhor recebeu empresários brasileiros para tratar do assunto?
Houve uma intensa aproximação entre autoridades do governo brasileiro e do governo argentino... o ministro (Guido) Mantega se reuniu mais de uma vez com o ministro Axel (Kicillof), nosso ministro de Indústria e Comércio Exterior teve várias reunião, e eu também ajudei no que pude.
Sim, há interesse por parte de nossos empresários, eles sabem que serão afetados se acontecer algo ruim com a Argentina. Além disso acreditam que em uma operação deste tipo (eventual ajuda financeira) poderiam ganhar alguns pesos.
Mas quero ser claro, não quero ir além em tudo isto (ajuda de empresários) porque desde os primeiros contatos, quando eles me procuraram, eu disse que em toda operação é preciso ter acordo total do governo argentino. E em segundo lugar, precisa acontecer na mais absoluta discrição.
- Dario Pignotti, @DarioPignotti
Créditos da foto: Arquivo
20/10/2014
https://www.alainet.org/pt/articulo/164842?language=en
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