O suicídio dos espanhóis
14/11/2012
- Opinión
No ano de 2010 estive na Catalunha com grupos solidários que apóiam a Prelazia de São Félix do Araguaia. Era um pedido do bispo Pedro Casaldáliga. A temática era a Agenda Latinoamericana daquele ano, questão das mudanças climáticas, a defesa da mãe Terra.
Um dos lugares que estive foi a Universidade de Barcelona, conversando com alunos do Professor Arcadis Oliveris. Ele é o parceiro de Juan Martinez Alier, um dos pensadores da ecologia dos pobres.
Após a conversa com seus alunos, ele nos convidou – estava com Josephina, uma das militantes do grupo Araguaia – para irmos assistir uma palestra sua para jovens espanhóis desempregados. O lugar do evento era um prédio ocupado por “jovens sem teto”.
Mas, logo na saída, próximos à Universidade, ele nos mostrou um prédio e disse: “esses prédios estão vazios. Pertencem a uma empresa cujo os donos são a família Bush e família Bin Laden”.
Soltou uma gargalhada e complementou: ”guerra é guerra, negócios à parte. O problema imobiliário na Espanha vai ter as mesmas conseqüências da bolha dos Estados Unidos”.
O assunto da palestra com os jovens foi o mesmo da viagem. Mais de 200 jovens desempregados, ocupando um prédio público, ouvindo suas previsões sobre o futuro da Espanha.
Hoje, lendo os jornais, vendo o suicídio de pessoas por estarem sendo despejadas na Espanha, relembro o acerto mortal do economista, mas, vejo o quanto o capitalismo é cruel. Um país que tem um milhão de unidades habitacionais desocupadas, opta por jogar o povo na rua, mesmo diante da onda de suicídio. Agora, até o bancos estão reticentes em executar os despejos. Há algo de irracional nesses fatos, embora para o capital isso faça sentido.
Assim é com a fome de 900 milhões de pessoas no mundo mesmo havendo comida; assim é com 1,4 bilhão que não tem água potável, mesmo consumindo 70% da água doce do mundo na irrigação; assim é com o saneamento, habitação, ao infinito.
O mundo atual não vislumbra novas e imediatas saídas. A crise civilizacional é mais profunda, mais longa, até que a humanidade, ainda que seja pelos paradoxos e sofrimentos indizíveis, encontre outra forma de viver sobre a Terra.
Roberto Malvezzi (Gogó)
https://www.alainet.org/pt/articulo/162588
Del mismo autor
- Tapando a poeira com a peneira 08/10/2021
- O Brasil não tem salvação: é muita estupidez e pouca inteligência 26/08/2021
- Votamos na Civilidade 10/10/2018
- Os golpes invisíveis do Golpe 07/06/2017
- O dia em que a hipocrisia perdeu 18/05/2017
- A Teologia Refinada do Papa Francisco 11/01/2017
- Doze piadas de 2016 e seus humoristas 29/12/2016
- As perspectivas de um Brasil de párias 14/12/2016
- Jamais seremos os mesmos 02/12/2016
- Combate ao tráfico de drogas e o genocídio da juventude negra 21/11/2016
Clasificado en
Clasificado en:
Crisis Económica
- Geraldina Colotti 07/04/2022
- Julio C. Gambina 07/04/2022
- Rafael Bautista S. 06/04/2022
- Julio Gambina 04/04/2022
- José Ramón Cabañas Rodríguez 01/04/2022