A construção continuada da paz
01/01/2007
- Opinión
Inauguramos o novo ano com esperança de um recomeço do Governo Lula, mais experimentado e com sentido de responsbilidade sócio-ambiental no projeto macroeconômico. Mas também sob um cenário mundial sombrio de guerra e de ameaças ao ambiente devido ao aquecimento global. Como construir a paz num contexto tão adverso? Seguramente precisamos superar o velho paradigma ainda dominante cujas raizes se encontram na cultura patriarcal. Seu eixo estruturador é a vontade de poder-dominação.
Esse poder tem como paradigma a conquista, bem representado por Alexandre Magno. Trata-se de um projeto ambicioso e prometeico de conquistar o mundo inteiro, assujeitar povos e submeter a natureza. Esse projeto não reconhece limites: penetrou no coracão da matéria e invadiu o espaço sagrado da vida.
Ele é radicalmente antropocêntrico. Só conta o ser humano em guerra contra a natureza.
Não é de se admirar que, na sua volúpia conquistadora, tenha construido o princípio da auto-destruição: montou uma máquina de morte, capaz de destruir, por dezenas de formas diferentes, a si mesmo – esse é o seu caráter suicidário – e danificar grande parte da biosfera.
Foi a vontade de poder-dominação que criou o exército, a guerra, a atual forma de Estado, a modernidade técnico-científica e a globalização. Sem freios, para onde nos levará? Seguramente não para o reino da liberdade, dos direitos, da cooperação e do respeito. Que paz podemos esperar?
A paz somente é possível como obra da justiça. Nenhuma sociedade terá futuro construida sobre uma injustiça estrutural e histórica como a nossa. O básico da idéia da justiça é esta afirmação, "verdadeira declaração de amor à humanidade": para cada um segundo suas necessidades (físicas, psicológicas, culturais e espirituais) e de cada um segundo suas capacidades (físicas, intelectuais e morais). Nesse sentido a justiça pressupõe a igual dignidade de todos e a busca do bem comum definido pelo Papa João XXIII em sua encíclica Pacem in Terris (1963) como"o conjunto das condições de vida social que consintam e favoreçam o desenvolvimento integral da personalidade humana".
Se não houver uma reconstruição das relações para que sejam mais justas, igualitárias e includentes seremos condenados a conviver com conflitos e guerras. Esta paz exige reparações históricas e políticas compensatórias que os dominadores históricos se recusam a introduzir.
Esta paz tem seu fundamento na própria natureza do ser humano. Se por um lado existe nele a vontade de poder, existe também a vontade de conviver. Ao lado do paradigma Alexandre Magno, existe o paradigma Francisco de Assis e Gandhi, aquele do cuidado e do espírito de irmandade universal com todos os seres do universo. O ser humano pode ser cooperativo com seus semelhantes fazendo-os aliados, amigos e irmãos e irmãs. Há culturas ainda hoje existentes para as quais é possível um trato humano e fraterno entre as pessoas e os cidadãos. As tensões e os conflitos naturais são resolvidos pelo diálogo, pela negociação e pela capacidade de cada um de assumir compromissos que o responsabilizam e o comprometem com todos os demais.
Dar primazia ao paradigma do cuidado e manter o da conquista, sob severa vigilância, torna possível a paz e a concórdia entre as pessoas e na sociedade mundial.
Esse poder tem como paradigma a conquista, bem representado por Alexandre Magno. Trata-se de um projeto ambicioso e prometeico de conquistar o mundo inteiro, assujeitar povos e submeter a natureza. Esse projeto não reconhece limites: penetrou no coracão da matéria e invadiu o espaço sagrado da vida.
Ele é radicalmente antropocêntrico. Só conta o ser humano em guerra contra a natureza.
Não é de se admirar que, na sua volúpia conquistadora, tenha construido o princípio da auto-destruição: montou uma máquina de morte, capaz de destruir, por dezenas de formas diferentes, a si mesmo – esse é o seu caráter suicidário – e danificar grande parte da biosfera.
Foi a vontade de poder-dominação que criou o exército, a guerra, a atual forma de Estado, a modernidade técnico-científica e a globalização. Sem freios, para onde nos levará? Seguramente não para o reino da liberdade, dos direitos, da cooperação e do respeito. Que paz podemos esperar?
A paz somente é possível como obra da justiça. Nenhuma sociedade terá futuro construida sobre uma injustiça estrutural e histórica como a nossa. O básico da idéia da justiça é esta afirmação, "verdadeira declaração de amor à humanidade": para cada um segundo suas necessidades (físicas, psicológicas, culturais e espirituais) e de cada um segundo suas capacidades (físicas, intelectuais e morais). Nesse sentido a justiça pressupõe a igual dignidade de todos e a busca do bem comum definido pelo Papa João XXIII em sua encíclica Pacem in Terris (1963) como"o conjunto das condições de vida social que consintam e favoreçam o desenvolvimento integral da personalidade humana".
Se não houver uma reconstruição das relações para que sejam mais justas, igualitárias e includentes seremos condenados a conviver com conflitos e guerras. Esta paz exige reparações históricas e políticas compensatórias que os dominadores históricos se recusam a introduzir.
Esta paz tem seu fundamento na própria natureza do ser humano. Se por um lado existe nele a vontade de poder, existe também a vontade de conviver. Ao lado do paradigma Alexandre Magno, existe o paradigma Francisco de Assis e Gandhi, aquele do cuidado e do espírito de irmandade universal com todos os seres do universo. O ser humano pode ser cooperativo com seus semelhantes fazendo-os aliados, amigos e irmãos e irmãs. Há culturas ainda hoje existentes para as quais é possível um trato humano e fraterno entre as pessoas e os cidadãos. As tensões e os conflitos naturais são resolvidos pelo diálogo, pela negociação e pela capacidade de cada um de assumir compromissos que o responsabilizam e o comprometem com todos os demais.
Dar primazia ao paradigma do cuidado e manter o da conquista, sob severa vigilância, torna possível a paz e a concórdia entre as pessoas e na sociedade mundial.
https://www.alainet.org/pt/articulo/119395
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