Copa do mundo e noosfera

06/07/2006
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No próximo domingo quando ocorrerá a final da copa mundial de futebol, seguramente dois a tres bilhões de pessoas estarão assistindo o jogo em suas telinhas de televisão. Esse fato pode ser considerado como um entre tantos espetáculos multitudinários como as exéquias da princesa Diana ou os solenes funerais do Papa João Paulo II. Essa visão, entretanto, é meramente empírica e não capta seu sentido profundo e novo. Está ocorrendo na história do planeta Terra, entendido como um superorganismo vivo, Gaia, e no fenômeno humano como um todo, uma singularidade que cabe ser conscientizada e aprofundada. Trata-se da emergência de uma nova fase do processo evolucionário que passou pela cosmogênese, irrompeu na biogênese, se desdobrou na antropogênese e que, agora, está dando outro salto para frente e para cima com a noogêse. Esta expressão, noogênese, criada no século XIX por Suess, assumida posteriormente pelo conhecido biólogo russo Vernadsky, um dos primeros formuladores da teoria de Gaia, foi difundida pelo geólogo, palentólogo e teólogo francês Pierre Teilhard de Chardin(+1955). Teilhard, profundo conhecedor do processo da evolução e atento observador dos fenômenos históricos, havia observado que a rede de comunicação mundial pela via da economia, dos meios de informação, das trocas culturais e do encontro entre os povos e as pessoas estava criando a base material para um salto novo no processo evolucionário. Não apenas se trocam coisas, bens materiais e espirituais, mas principalmente vai se acumulando uma nova energia espiritual e se gerando um novo estado de consciência, cada vez mais complexo e interiorizado nas mentes das pessoas e das instituições. Esse fenômeno foi qualificado por Teilhard de planetização e foi um dos primeiros a usar esta expressão. O que hoje se realiza, observava ele, é o prolongamento de algo muito ancestral que representa a progressiva complexificação da realidade que comporta simultaneamente um processo de interiorização e de crescimento de níveis de consciência reflexa. Depois do homem, a humanidade. É a fase atual em que emerge persistentemente a consciência de que fomamos uma espécie, a humana, uma grande comunidade coletiva, a variegada família humana. No momento em que bilhões de pessoas estão assistindo o jogo final da Copa, realizam-se trilhões de conexões neuronais nos cérebros das pessoas, unificadas ao redor do movimento de uma bola. Essa sintonia gera uma onda energética de extraordinária potência que modifica o estado da Terra e da humanidade. A noosfera constitui extamente este fenômeno, no qual corpo, mente e espírito formam uma síntese superior. A noosfera conhece duas fases, a planetização que forma a infra-estrutura da comunicação global e a unanimização convergente que surge quando as pessoas se derem conta e viverem de fato esse estágio novo de sua história. Mas não é suficiente essa síntese, fruto das forças diretivas do universo. Ela precisa ser querida. As mentes e os corações necessitam se unir numa grande paixão e num incomensurável amor pela humanidade e pela Terra criando como que um cérebro de cérebros. Nesta perspectiva a crise mundial não é de desagregação mas de rearranjo dentro da nova fase da humanidade. A história da vida no ensina a ter confiança no futuro, apesar de todas as tribulações do tempo presente. Talvez a Copa nos ajude a pensar sobre coisas assim graves. - Leonardo Boff é Teólogo
https://www.alainet.org/pt/articulo/115897
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