Há um buraco no barco
03/02/2006
- Opinión
Dois rabinos estavam sentados num mesmo barco com preocupações diferentes acerca do futuro da Terra. De repente um deles percebeu que de um lado havia um buraco e entrava muita água. O outro rabino alamardo lhe disse: "Irmão, há um buraco no seu lado e está entrando água". Ao que o outro lhe retrucou:"Não se preocupe. É só do meu lado". Mal sabia ele que o buraco de seu lado iria afundar o barco todo. Foi o que nos contou o rabino Awraham Soetendorp, um dos principais membros da Comissão da Carta da Terra, numa reunião da Carta da Terra+5 em Amsterdam, nos inícios de novembro de 2005 ao conclluir um trabalho em grupo sobre o futuro do Planeta.
É assim que pensa grande parte dos que produzem gazes de efeito estufa: o buraco é só do nosso lado. No entanto, nosso Titanic todo está afundando. Este alarme vem de ninguém outro que de James Lovelock médico, biofísico e químico, o formuladar da hipótese Gaia, a Terra como um superorganismo vivo. Ele sempre fora um ardoroso otimista sobre a capacidade de regeneração de Gaia. Mas Lovelock mundou como revela seu ultimo livro A Vingança de de Gaia. Hoje é um dos profetas mais veementes acerca dos riscos que Gaia está correndo. No dia 18 de janeiro deste ano no Independent de Londres escreveu um artigo A nossa única Casa onde diz que se tornou médico planetário e como médico tem más notíicias a nos comunicar.
Os centros de observação do clima da Terra, afirma, funcionam como laboratórios de patologia de um hospital. Os médicos especialistas em clima atestam que a Terra está extremamente doente. Pode num tempo muito curto fazer-se vítima de uma febre morbosa que pode durar até cem mil anos. "Devo dizer-lhes, enquanto membro da familia Terra e como parte intima dela que vocês e sobretudo a sua civilização estão em grande perigo". Esta febre pode transformar-se num coma pois os indicadores do aquecimento, diz Lovelock, vão muito além do protocolo de Kyoto, são assustadores. Na medida em que o século avança, as temperaturas subirão oito graus nas zonas temperadas e cinco graus nos trópicos. As zonas tropicais agora desertificadas e as florestas dizimadas perderão sua função reguladora. A Terra entrará na zona de graves distúrbios.
Por que chegamos a isso? Porque temos interferido de forma excessiva e irresponsável nos ritmos da natureza. Ela mesma, sem nós, regulava seus climas. Mas nós fizemos de Darwin nosso guia. Ele mesmo não tinha consciência da química da atmosfera e dos oceanos nem da estreita relação entre a vida e sua base físico-química e ambiental. Ele restringiu a evolução somente aos organismos vivos. Se tivesse percebido que a evolução é de toda a superfície terrestre outro teria sido o destino da ciência e de nossa consciência sobre a Terra Terra e cuidaríamos dela como algo vivo.
Não somos apenas a doença da Terra. Pela nossa inteligência somos também seu sistema nervoso central. A través de nós, a Terra se viu a si mesma a partir do espaço e começou a compreender seu lugar no Todo. Devemos ser a mente e o coração de Gaia. Depois de havê-la explorado, devemos protegê-la, amá-la e selar uma paz perene com ela. Não pensemos apenas nas nossas necessidades mas de todo o sistema Gaia, como a nossa grande e única Casa Comum.
- Leonardo Boff da Carta da Terra.
https://www.alainet.org/pt/articulo/114234
Del mismo autor
- O risco da destruição de nosso futuro 05/04/2022
- Reality can be worse than we think 15/02/2022
- ¿Hay maneras de evitar el fin del mundo? 11/02/2022
- Há maneiras de evitar o fim do mundo? 08/02/2022
- The future of human life on Earth depends on us 17/01/2022
- El futuro de la vida depende de nosotros 17/01/2022
- A humanidade na encruzilhada: a sepultura ou… 14/01/2022
- “The iron cage” of Capital 04/01/2022
- Ante el futuro, desencanto o esperanzar 04/01/2022
- Desencanto face ao futuro e o esperançar 03/01/2022