À generosidade
27/06/2005
- Opinión
Na vida, apesar das barbaridades, aprendemos que devemos ter generosidade.
Generosidade, com os aliados e até com os inimigos, não para tratá-los como amigos, mas para que se arrependam de suas perversidades.
Vivemos, na atualidade, uma situação de descredibilidade. Parece que todos estão errados! Há um ranço carregado de vingança e violência. É preciso ter paciência, reconhecer os pontos fracos, mas cuidar-se, para de ódio não cegar-se e cair juntos no mesmo buraco.
Nossa cultura camponesa nos ensina lições interessantes: quando uma ferramenta cortante já não corta, senta-se na soleira ao pé da porta e amola-se até ficar tinindo; e assim vamos indo, até que um dia nos damos conta, que, de tanto usar e amolar, a ferramenta já perdeu as pontas.
Pegamos então a ferramenta com carinho e a encostamos em um cantinho, reconhecendo a sua importância e seu valor. De nós não tirará mais o suor, nem machucará a palma calejada, ficará ali como lembrança ou, para, nalguma emergência ser usada.
A seqüência desta prova é arranjar outra ferramenta nova e reassumir os compromissos. Mudamos então o instrumento, mas não mudamos de serviço.
Às vezes quando chega uma visita, contamos, e se não acredita no que a palavra entoa, vamos até o porão, trazemos a guerreira desbicada, e com a unha fazemos tinir a chapa enferrujada, dizendo: “Era uma ferramenta boa!”
Então, esta simbologia agora fica crítica, porque vamos aplicá-la na política. Mais propriamente, e sem temores, no Partido dos Trabalhadores.
O PT era de lutas e resistência, mas aos poucos foi perdendo a consistência. Piorou o corte de sua lança, quando ampliou as alianças, em busca de ganhar a presidência.
Aqui precisamos considerar um pouco mais para entender o que aconteceu. Quando, inserido nas lutas do passado, mantinha-se o instrumento amolado, e foi assim que o PT cresceu. Mas de repente, as lutas sumiram do semblante, e ao se dar de cara com o assaltante, o PT não resistiu e se rendeu.
Pode ter algo ainda de escondido! Sem corte, esta ferramenta imprescindível, não formou quadros por julgar incompatível com o caráter de massas do partido. E, como a maioria das tendências não eram marxistas, fixaram suas táticas na ordem capitalista.
Foi o cerco de sedução, não de aniquilamento, que a burguesia estabeleceu desde o primeiro momento. Mas cá pra nós, depois de tudo analisado, foi a primeira vez na história nacional, que os oprimidos como força social, se organizaram para tomar o Estado.
Agora, o enorme felino geme para morrer! Rasteja, acreditando que ainda pode levantar-se e voltar a correr. Mas como a ferramenta gasta, também perdeu o brio, já não serve para preparar o próximo plantio.
Foi uma bela tentativa que aos poucos levou-nos à deriva. Cabe encostar a ferramenta desgastada e buscar uma nova mais bem amolada. Não precisa ser igual no tamanho e na leveza, mas tem que ser da mesma natureza.
Agora, experientes e muito mais sabidos, precisamos nos colocar do lado do instrumento e não do mato a ser carpido.
O cultivo continua. É preciso preparar-se para a quadra da lua. Deixar de lado as intrigas e as disputas, sem lutas, nas páginas dos jornais. Convidar lutadores de todas as idades e dizer-lhes com generosidade: vamos unidos e não erremos mais!
https://www.alainet.org/pt/articulo/112323?language=es
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